Inicialmente tinha a ideia de visitar as Minas dos Carris em dia do meu aniversário. Porém, como nova visita seria feita dias depois, decidimos alterar por uma pequena volta até ao Curral de Fechinhas.
O dia percebia-se quente e o céu matinal com um horizonte rubro, iria confirmar isso horas depois. Começamos o dia com a «longa» subida da Portela de Leonte até ao Prado do Vidoal. Calçada já tantas vezes percorrida, nunca nos deixamos de maravilhar com o colosso do espigão do Pé de Cabril que se eleva e depois afunda na paisagem. O ar fresco da manhã depressa se substitui com os primeiros raios de Sol que nos saúdam ainda antes do Vidoal na passagem pela Chã do Carvalho. A paisagem deslumbra-se a ela própria com o olhar a abarca as grandes distâncias até ao mastodonte que marca a paisagem para os lados de Castro Laboreiro. O cabeço de Anamão permanece sempre como um farol, uma silhueta estranha recortada no horizonte longínquo com o olhar a invadir as terras galegas.
A chegada ao Vidoal é sempre uma experiência única. Todos nós sabemos e conhecemos o local, mas esperamos sempre algo de novo, uma visão etérea que nos fantasia a mente. E, curiosamente, assim acontece de todas as vezes. Percorrendo a lomba granítica desnuda, o pequeno prado estende-se aos pés do Outeiro Moço. Os velhos carvalhos guardam a cabana dos pastores e a paisagem permanece imutável, desconhecida. Não conseguimos ficar indiferentes às paredes quase verticais de Lavadouros ou perante a imensidão dos Cântaros já próximos de Carris de Maceira. Ali ao lado, o Pé de Medela assinada a direcção para os Prados da Messe e para o Cantarelo. Porém, a nossa direcção era outra e prosseguimos os carreiros da vezeira em direcção à Preza.
O colo da Preza é o pináculo da jornada para o Curral de Teixeira que por esta hora ainda permanece escondido na sombra, lá no fundo. Antes, o Curral do Cambalhão faz lembrar as jornadas de Verão em busca de lagoas para refrescar o corpo... nada que a esta hora já não se desejasse! Assim, os mergulhos naquele longo vale ficam para outros dias!
Seguimos então encosta nascente acima em direcção à Chã da Fonte (Chã das Ruivas) e depois para a Chã das Gralheiras, passando depois pela Lomba de Pau e entrando de seguida no mundo mágico das profundezas da Serra do Gerês. Entre as duas grandes mariolas que assinalam a descida para o Curral do Conho, vislumbramos um cenário de grandes montanhas, dias épicos e monumentais. Por ali, desenrolam-se aventuras e é por estes lados que escasseiam a prosa e a poesia para descrever cada ruga, cada salto, cada regato ou alto.
Curta paragem no Curral do Conho e seguimos caminho em direcção ao Curral da Mourisca, descendo depois para o Curral de Fechinhas já nos domínios de Fafião. O local assombra-nos! Erguendo-se como um Adamastor de rocha, as paredes de Fechinhas parecem não ter fim, perfurando os céus. Ao lado, subindo das Sombrosas, Porta Ruivas como que anuncia a entrada para outros reinos de terras mais vastas que se prolongam para lá dos montes. O Trilho da Vezeira de Fafião chega a estas paragens e prossegue depois para a Rocalva.
Neste dia, o silêncio reinava ao sabor da brisa. Ora o regato se tornava mais audível, ora se silenciava um pouco. Ao longe, e com o prosseguir da caminhada, tornava-se notório o som do Ribeiro do Porto das Vacas na sua metamorfose em Rio da Touça. O carreiro leva-nos por um estreito vale em busca da lagoa mágica que se esconde por entre paredes rochosas. Havíamos de a «descobrir» mais adiante antes de iniciarmos a subida para o carreiro que nos levaria para a passagem para o Curral da Pedra e daqui para o Porto das Vacas antes de voltarmos ao Curral do Conho. Era hora do repasto vegetariano!
O regresso seria feito pela Lomba de Pau, voltando à Chã das Gralheiras e seguindo para o Vidoal, descendo depois para a Portela de Leonte.
Ficam algumas imagens do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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