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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (VII)


Esta é a segunda parte de segundo conjunto de histórias sobre o Inverno na Serra do Gerês com particular ênfase nas Minas dos Carris. É possível que já tenha publicado aqui este texto que nos conta a dureza da vida na Serra do Gerês no longínquo ano de 1955.

As histórias servem também de aviso e conselho para aqueles que nos próximos dias irão demandar as paisagens serranas, sublinhando a importância da segurança e da gestão do risco em montanha.

A partes anteriores deste artigo podem ser lidas em Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (I)Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (II)Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (III)Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (IV)Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (V) e Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (VI).

O texto em baixo é adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", de Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013. Na transcrição em baixo não foi corrigida a ortografia.

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Os relatos descritos no jornal ‘O Século’ e depois na revista ‘O Século Ilustrado’, parecem representar mais um acto de propaganda do Estado Novo do que uma verdadeira descrição dos factos ocorridos. O nevão de Fevereiro de 1955 ficou na memória dos trabalhadores e segundo Augusto Vieira, que viveu os acontecimentos, “…chegamos a estar lá isolados sem os camiões puderem lá ir e sem alimentação.” No entanto Virgílio Murta coloca em dúvida a ocorrência dessa expedição de salvamento, “pois havia no Inverno sempre em stock uma boa quantidade de materiais e alimentos.” A mina ter-se-á mantido em actividade, com o nevão a afectar um pouco o ritmo de laboração. A imprensa da altura terá feito “um certo alarido mas não era caso para isso.”  Também as memórias de Fernando Ferreira do Fundo, o ’Mil’, jovem operário que nesses anos trabalhava nas Minas dos Carris, lembram que “várias vezes tivemos que abrir caminho na neve até à Portela do Homem, para vir um camião reabastecer de géneros alimentícios para a Mina. Ia uma equipa de 20 homens abrir a estrada até à Portela do Homem e quando vínhamos de regresso, tínhamos que abrir novamente o caminho, isto porque o caminho já estava tapado novamente com a neve.” Noutra ocasião, “o meu pai que era guarda na mina, e entrava em casa às 6 da manhã e para entrar, tinha que abrir um túnel na neve para puder entrar em casa, e eu saia 2 horas mais tarde e tinha que abrir novamente o mesmo túnel, porque senão eu já não podia sair” e da mesma forma recorda que “as fontes, eram fontes de poço, e com a neve ficava tudo tapado, e como não tínhamos referência da fonte, tínhamos que derreter a neve para conseguir água”  para beber e para os afazeres diários. Em igual sentido refere Manuel Antunes Gonçalves, “quando nevava ou fazia muito frio, a água gelava nos canos e nós tínhamos de fazer uma fogueira por debaixo dos canos para a água descongelar.” 


Em cima: Um aspecto do grupo de homens que transportou diversos mantimentos para as Minas dos Carris após a passagem da Água da Pala.

No topo: Um aspecto do complexo mineiro dos Carris em princípios de Março de 1955.

Localizadas nos pontos mais altos da Serra do Gerês, e como se constatou no Inverno de 1955, o acesso às Minas dos Carris tornava-se muito difícil. Apesar de a estrada ser habitualmente mantida em condições de circulação, tornava-se por vezes perigoso subir o Vale do Homem. Nas palavras de Virgílio Mura, “enquanto trabalhei e vivi nos Carris, eu saia de carro de duas em duas semanas, normalmente na tarde de Sexta-feira e regressava nas Segundas-feiras de manhã. A excepção verificou-se só na altura do nevão de 1955 em que ficámos retidos algum tempo. A Companhia, nos meses de Inverno, mantinha uma equipa de limpeza da neve na estrada, que a mantinha em razoáveis condições. Só duas vezes me aconteceu não conseguir subir de carro até à mina. Havia uma casa de apoio, com algumas tarimbas e telefone, ao lado esquerdo da estrada, na direcção da subida . Daí, se víamos muita neve na serra, telefonávamos a perguntar se podíamos subir. Nessas vezes disseram-nos que sim, que estavam limpando a neve. Mas realmente estavam um bocado atrasados. Uma vez, com o Zé de Sousa, deixámos o carro e fomos a pé pela neve. Da outra vez, sozinho, consegui voltar o carro e regressei à tal casa onde esperei que me informassem quando realmente a estrada estivesse transitável.”"

Em cima: O Eng. António Castillo, director de máquinas da Junta Autónoma de Estradas, dirigindo os trabalhos de abertura da neve nos quais é utilizado “um poderoso tractor”. 


Em cima: Um aspecto dos trabalhos de desobstrução da estrada de acesso às Minas dos Carris em Março de 1955.


Em cima: José Rodrigues de Sousa, o Eng. Virgílio de Brito Murta e José Antunes Inácio, inteiram-se das notícias através do jornal ‘O Século’ durante os trabalhos finais de acesso ao complexo mineiro em Março de 1955.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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