Passados que são 61 anos desde os acontecimentos que aqui irei relatar de novo, resolvi republicar uma série de artigos que em Janeiro de 2008 publiquei sobre este assunto.
Estes artigos relatam duas situações interessantes: a primeira destas situações está relacionada com a forma como a Internet nos permite tomar conhecimento de factos que de outra forma apenas iriam surgir muito mais tarde num processo de investigação; a segunda está relacionada com os factos históricos que apesar de relatados à época, nos passam despercebidos nos nossos dias.
Assim, os textos destes artigos foram já publicados aqui no blogue, mas em Janeiro de 2008 e este facto é em si mesmo uma barreira para aqueles leitores que não altura não o eram, ou então que já se esqueceram destes textos. Nos dias seguintes serão (re)publicados os restantes artigos.
Com a preciosa colaboração de José Manuel Rodrigues de Sousa e Carlos Sousa, tomei conhecimento da publicação de um artigo na revista O Século Ilustrado que relatava uma odisseia vivida há muitos anos na Serra do Gerês e que até aqui desconhecia. Infelizmente os dados dísponíveis sobre a data de publicação de tal artigo eram muitíssimo escassos. O artigo deveria ter sido publicado entre 1951 e 1958 e mergulhado numa pesquisa única na Internet que envolveu a análise dos registos meteorológicos disponíveis, acabei por me deparar com um artigo intitulado "Epopeia na Serra do Gerês" publicado no jornal 'O Século' e na revista 'O Século Ilustrado'.
Este artigo é acompanhado por uma série de fotografias que aqui reproduzo bem como os respectivos textos. Surge assim a épica história de duas centenas de homens que durante vários dias lutaram contra os elementos no alto da Serra do Gerês, uma história que agora mais uma vez vê a luz do dia e que serve de homenagem a esses homens há muito esquecidos mas que representam uma narração do nosso país.
O seguinte texto é da autoria de António Gonzalez que assina a respectiva reportagem gráfica...
"Durante mais de uma semana, nevou intensa e continuadamente na serra do Gerês de tal maneira que, em alguns pontos, a camada branca chegou a atingir cerca de quatro metros de espessura, tornando impossível o trânsito de veículos e mesmo peões. A 1570 metros de altitude, nas minas de volfrâmio que pertencem à Sociedade das Minas do Gerês, Lda., os mineiros e o pessoal técnico e administrativo num total de cerca de duzentas pessoas ficaram isolados nas sua instalações, tornando-se problemática a situação que, de dia para dia, o estado do tempo lhes foi criando. Pelo telefone, uma vez que os fios resistiram ao peso da neve, foi sendo mantido contacto, até que as notícias se tornaram alarmantes: o pessoal, em especial os mineiros (que eram cento e vinte) estavam sem pão nem legumes, com escassa roupa e cada vez mais à mercê dos lobos que uivavam famintos, noite e dia, por aquelas redondezas. (...) uma brigada de socorro saiu de Leonte e percorreu em penosas circunstâncias os sete quilómetros que separam esta povoação de uma outra chamada Água da Pala, onde entrou em contacto com o pessoal dos Carris. Os mineiros tiveram de descer até ao ponto de contacto, ligados uns aos outros por uma corda e meio enterrados na camada de neve".
Fotografia: © O Século Ilustrado / Rui C. Barbosa
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários para o blogue Carris são moderados.