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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Trilho da Serra Amarela - uma análise crítica


Quando a 19 de Novembro de 2013 fiz pela primeira vez uma parte do que hoje é o Trilho da Serra Amarela (TSA), afirmei na altura que este arriscava-se a ser um dos melhores trilhos de montanha de Portugal (o texto pode ser lido aqui). Apesar de manter em parte as palavras que então descrevi, este é um percurso que tem de merecer uma atenção imediata por parte das entidades responsáveis e promotoras do mesmo antes que algum acidente venha a ocorrer. Infelizmente, os problemas a apontar não são poucos.

O TSA, ou Grande Rota 34 (GR-34) foi inaugurado a 28 de Junho de 2014 numa cerimónia onde estiveram presentes representantes de todas as entidades responsáveis pelo mesmo, desde as entidades promotoras até às entidades de homologaram o percurso.

Ora, quando se inaugura um equipamento desta importância para os concelhos por ele abrangidos e para a região, que o promove como uma mais valia turística, assume-se de que o equipamento está completo, bem organizado e que não deverá trazer problemas de maior a quem o utiliza e percorre.

Para lá das informações que existem no terreno, o TSA está complementado com a informação disponível on-line na Internet em http://adere-pg.pt/serraamarela/. Neste endereço pode-se obter a informação sobre o trilho, tanto sobre o seu percurso, informação sobre os locais de interesse e tracks para gps.

No entanto, a realidade no terreno é bem diferente. Desde marcações insuficientes e por vezes completamente ausentes, passando por marcações que levam o pedestrianista a cometer erros, até uma gritante diferença no traçado quando comparamos as marcações no terreno com o percurso de gps, para não falar da necessidade de alterar ligeiramente o percurso em Vilarinho da Furna, podem levar à ocorrência de situações que podem ser dramáticas.

Destas situações só o facto de o percurso mergulhar nas águas da albufeira de VIlarinho da Furna está referido na página on-line do TSA.

Haverá muitos utilizadores a quem bastará a utilização das marcações no terreno para percorrer os diversos percursos pedestres, porém, isso não acontece no TSA. Em vários casos (principalmente no troço entre as Casarotas e Cutelo), o percurso só está marcado numa direcção! O que por um lado até nem será totalmente mau, porque em vários troços (entre Gemesura e as Casarotas, e entre a Ermida e a base do Abrigo de Ventuzelo) simplesmente não existem marcações. Por outro lado, à saída da Ermida o utilizador é levado a seguir umas marcações de uma GR (Grande Rota) que não corresponde à GR-34 e sem o auxílio de um GPS só dará pelo erro quando for demasiado tarde! Esta situação acontece também à chegada à Louriça onde o traçado nos leva entre a vizinhança da Chã do Muro directo para a Chã da Fonte, enquanto que o percurso em gps nos leva aos edifícios existentes na Louriça antes de descer para a Chã da Fonte. Um outro aspecto de especial nota, é a referência que é feita à Chã do Muro quando saímos da Barragem de Vilarinho da Furna no sentido Cutelo. Ora, o percurso flecte à esquerda nas Casarotas muito antes de chegar ao Fojo de Vilarinho da Furna e ainda longe da Chã do Muro, nunca chegando a este ponto! Outro aspecto a sublinhar é o facto de no nício da descida para Germil e vindos de Cutelo, encontrarmos uma sinalização de 'caminho errado' e vermos de imediato as indicações de 'caminho certo' que nos levam a descer o vale em direcção a um carvalhal; ora, o percurso de gps segue precisamente na direcção deste 'caminho errado', apesar de ambos os percursos se encontrarem mais adiante em Germil. O trabalho de sinalética do GR-34 é, em vários troços, no mínimo medíocre, havendo sem dúvida a necessidade de se estabelecer uma diferenciação entre percursos que se cruzam.

Merecedor de um parágrafo especial é a situação que se regista entre o Alto de Gemesura e as Casarotas devido às características orográficas da encosta. Após o Alto de Gemesura, encontramos cerca de três ou quatro marcações que terminam antes de se iniciar o «ataque» final ao ponto mais elevado. Nesta parte do percurso não existe qualquer indicação por onde se deve seguir (nem caminho aberto, nem marcações e as mariolas muito antigas existentes levam-nos para um declive ainda mais acentuado). Esta situação obriga à utilização de um percurso com o objectivo de se atingir as Casarotas encontrando o caminho com menor declive, mas neste ponte é urgente mação a colocação de informação (sinalética) que torno a ascensão final menos perigosa.

Em relação à divisão do percurso em quatro etapas surgem algumas questões, sendo a primeira qual a razão que levou a esta divisão? Tendo em conta que a ausência de alojamentos nos pontos de início ou fim é gritante (sem se fazer desvios consideráveis ao mesmo) e tendo em conta que o acesso a pelo menos um dos pontos é restrito (Louriça), talvez seja recomendável a redução destes quatro percursos em dois percursos (Ermida - Cutelo - Vilarinho da Furna e Vilarinho da Furna - Louriça - Ermida).

Exceptuando a situação que se encontra em Vilarinho da Furna quando o nível da barragem atinge níveis elevados e que merece um aviso nas normas de conduta, nenhuma destas situações surge referida nos cuidados a ter na sua utilização.

É questionável o tipo de homologação e que critérios de homologação foram seguidos para este percurso (que recorde-se foi homologado pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, e pela Fédération Européenne de la Randonnée Pédestre). Da mesma forma, se pode questionar que informações receberam as entidades promotoras sobre o estado de finalização do equipamento e sobre o seu traçado, perguntando-se também se alguém destas entidades teve o cuidado de fazer a totalidade do percurso antes da sua inauguração?

Continuo a ser da opinião de que o percurso pode ser um dos melhores percursos de montanha em Portugal pois o seu potencial é enorme. No entanto, existem muitas situações que devem ser analisadas e corrigidas prontamente, e sem dúvida que os critérios e trabalhos de homologação devem ser revistos para evitar as situações que são encontradas no TSA.

Fotografia © ADERE Peneda-Gerês

2 comentários:

  1. Ola Rui Barbosa
    Depois desta análise crítica, já houve algum feeedback por parte das entidades promotoras em que estas situações foram revistas?
    Estou a planear fazer esta GR num fim de semana da primavera, mas ao que vejo, e se ainda não foram revistos estes aspetos, podem ocorrer situações embaraçosas.
    Obrigado pelo teu comentário que ajuda muito a tomar as devidas precauções, isto se ainda não foram revistos. O que não acredito, oxalá esteja enganado.

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  2. Olá Jorge,

    Não me apercebi ou tive conhecimento de intervenções no terreno, pelo que antes de se fazer este percurso a prudência recomenda um contacto com a ADERE Peneda-Gerês para saber quais os problemas existentes no percurso.

    Abraço!

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