Manifestação ímpar da religiosidade, as alminhas são monumentos cuja origem se perde nos tempos. Umas mais simples, outras mais complexas, as alminhas mostram evocações que apelam ao recolhimento e à oração.
Em muitas partes do Parque Nacional se encontram exemplares que reflectem o espírito religioso que profundamente penetra nas gentes serranas, misturando muitas vezes o sagrado católico com o profano dos velhos deuses e tradições que se perdem nas brumas do tempo.
Um dos exemplares destas alminhas, eram as alminhas de Candorca, localizadas perto de Rio caldo, e que Tude de Sousa nos fala no seu livro "Gerez - Notas Etnográficas, Arqueológicas e Históricas".
"Não há memória de quando, nem por quem, seriam feitas e colocadas no seu sítio aquelas alminhas, nicho cavado na torada do tronco de um velho e carcomido castanheiro, de pintura já esbatida pelo tempo, mas deixando, ainda assim, a-pesar-do seu abandono actual, perceber as figuras que o habitam.
Da Candorca lhe chamam, porque assim se diz na região do individuo velho, roído pelos anos.
Castanheiro candorco, ou candorçoso, minado no interior e ainda dando fruto longos anos, árvore candorca...
A torada mede cerca de um metro e setenta de altura, sendo de um metro e vinte o seu diâmetro interior, e encontra-se colocada sobre a parede de vedação de propriedade particular, à beira do caminho que do local denominado Ribeiro da Adega conduz à igreja paroquial de Rio Caldo, num sítio pitoresco e aprazível, rodeado de amieiros e outras árvores.
É coberta de telha portuguesa e tem, como se vê, ao alto um Cristo crucificado, ladeado pelas imagens de Santo António e Nossa Senhora do Rosário; em baixo, S. Miguel com a balança, pesando as almas, ou as suas boas e más acções em vida e ainda as labaredas do purgatório, com várias almas em expiação dos seus pecados, ficando na base de tudo a respectiva caixa das esmolas, hoje desconjugada e sem préstimo, pelo abandono em que o nicho, que em dias mais felizes teria o seu esplendor, foi de há tempos lançado, talvez pelo lugar isolado e solitário em que se encontra.
Diz a tradição local, que, aliás, nada pode confirmar, que estas alminhas foram mandadas fazer por uma Teresa da Granja, que da sua bouça levara o castanheiro. Mulher fôra ela de decisão e energia, que em tempos de agitadas lutas políticas se evidenciara por aqueles sítios, indo amiudadas vezes ao Pôrto, e que então seria acto de aventurado heroísmo.
O certo é, porém, que ainda hoje o terreno onde as alminhas se exibem está na posse de uma família Granjas.
E porque tudo isto é cheio de curiosidade e estas alminhas são de uma arquitectura original, que prende pela sua admirável adaptação à alma simples do serrano e à feição agrícola da região, não quisemos deixar de arquivar aqui a sua reprodução."
Haverá algum registo mais recente destas alminhas ou outras memórias sobre singelo monumento?
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