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sexta-feira, 13 de março de 2015

Alminhas da Candorca em Rio Caldo


Manifestação ímpar da religiosidade, as alminhas são monumentos cuja origem se perde nos tempos. Umas mais simples, outras mais complexas, as alminhas mostram evocações que apelam ao recolhimento e à oração.

Em muitas partes do Parque Nacional se encontram exemplares que reflectem o espírito religioso que profundamente penetra nas gentes serranas, misturando muitas vezes o sagrado católico com o profano dos velhos deuses e tradições que se perdem nas brumas do tempo.

Um dos exemplares destas alminhas, eram as alminhas de Candorca, localizadas perto de Rio caldo, e que Tude de Sousa nos fala no seu livro "Gerez - Notas Etnográficas, Arqueológicas e Históricas".

"Não há memória de quando, nem por quem, seriam feitas e colocadas no seu sítio aquelas alminhas, nicho cavado na torada do tronco de um velho e carcomido castanheiro, de pintura já esbatida pelo tempo, mas deixando, ainda assim, a-pesar-do seu abandono actual, perceber as figuras que o habitam.

Da Candorca lhe chamam, porque assim se diz na região do individuo velho, roído pelos anos.

Castanheiro candorco, ou candorçoso, minado no interior e ainda dando fruto longos anos, árvore candorca...

A torada mede cerca de um metro e setenta de altura, sendo de um metro e vinte o seu diâmetro interior, e encontra-se colocada sobre a parede de vedação de propriedade particular, à beira do caminho que do local denominado Ribeiro da Adega conduz à igreja paroquial de Rio Caldo, num sítio pitoresco e aprazível, rodeado de amieiros e outras árvores.

É coberta de telha portuguesa e tem, como se vê, ao alto um Cristo crucificado, ladeado pelas imagens de Santo António e Nossa Senhora do Rosário; em baixo, S. Miguel com a balança, pesando as almas, ou as suas boas e más acções em vida e ainda as labaredas do purgatório, com várias almas em expiação dos seus pecados, ficando na base de tudo a respectiva caixa das esmolas, hoje desconjugada e sem préstimo, pelo abandono em que o nicho, que em dias mais felizes teria o seu esplendor, foi de há tempos lançado, talvez pelo lugar isolado e solitário em que se encontra.

Diz a tradição local, que, aliás, nada pode confirmar, que estas alminhas foram mandadas fazer por uma Teresa da Granja, que da sua bouça levara o castanheiro. Mulher fôra ela de decisão e energia, que em tempos de agitadas lutas políticas se evidenciara por aqueles sítios, indo amiudadas vezes ao Pôrto, e que então seria acto de aventurado heroísmo.

O certo é, porém, que ainda hoje o terreno onde as alminhas se exibem está na posse de uma família Granjas.

E porque tudo isto é cheio de curiosidade e estas alminhas são de uma arquitectura original, que prende pela sua admirável adaptação à alma simples do serrano e à feição agrícola da região, não quisemos deixar de arquivar aqui a sua reprodução."

Haverá algum registo mais recente destas alminhas ou outras memórias sobre singelo monumento?


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