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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Trilhos seculares - Entre o Arado e a Rocalva, o Inverno no Gerês


A Serra do Gerês tem um dom de nos surpreender em cada caminhada. Por muitas vezes que por lá caminhe, e por muitas vezes que passe pelos mesmos locais, estes serão sempre diferentes e com algo novo para nos mostrar.

O percurso desta recente incursão na Serra do Gerês não é novo e já o percorri por várias vezes. Leva-nos desde a Ponte do Arado ao longo de um percurso circular que nos faz atravessar paisagens únicas e quase tiradas dos melhores épicos que nos fazem sonhar. Se Peter Jackson conhecesse o Gerês, certamente que não teria de ir para a Nova Zelândia filmar as trilogias d' "O Senhor dos Anéis" e o "Hobbit"!

Neste percurso vamos passar por seculares currais, profundas corgas e paisagens que nos projectam o olhar para lá dos limites do Gerês, chegando à Serra do Barroso e à Serra da Cabreira. Com cerca de 13 km de extensão, torna-se um percurso com um certo grau de dificuldade, mas perfeitamente acessível a quem está habituado às andanças de montanha.

Deixando a Ponte do Arado para trás, começamos a subir as escada em pedra que nos levam ao Miradouro do Arado. Aqui, vemos a Cascata do Arado em todo o seu esplendor bem como a paisagem clássica do Rio Arado e da sua ponte de onde começamos a caminhada. O caminho prossegue subindo a partir do miradouro (ou mesmo um pouco antes) e vai começar a embrenhar-se na serra. Este percurso é muito utilizado no reboliço do Verão para dar acesso às lagoas que são então muito frequentadas. Seguindo o carreiro de pé-posto, vamo-nos dirigir até um grande rochedo e aqui tomamos um carreiro que segue à direita (à esquerda do ribeiro que vemos em baixo). Este carreiro vai-nos levar ai Curral de Giesteira onde encontramos um forno e um grande carvalho. A nossa ideia é, mais adiante, passar no Curral de Arrocela e a partir do Curral de Giesteira inicia-se um carreiro que segue o rio através da Corga de Giesteira, levando-nos a Arrocela. Porém, e apesar de estar limpo, este percurso não nos trás nada que possa enriquecer o nosso passeio pela serra (é talvez algo para se fazer uma vez, e pronto, está feito!).

Então, como chegar a Arrocela? Antes de chegarmos ao Curral de Giesteira, deparamos com um desvio no caminho que nos vai fazer trepar a corga e nos levará a um antigo estradão florestal. A subida vai por à prova as pernas e os pulmões, mas merece o esforço! Chegados a este estradão, prosseguimos pelo mesmo à esquerda (se seguíssemos pela direita iríamos regressar ao ponto de partida ou poderíamos ir ao Curral da Malhadoura). Prosseguindo então pelo estradão para a esquerda, vamos chegar ao seu final logo ali adiante e tomamos um carreiro de pé-posto à esquerda que nos irá levar ao Curral de Coriscada que pertence à vezeira da Ribeira (pois existe um outro Curral de Coriscada que pertence à aldeia da Ermida). Este curral tem uma cabana recente, mas um pouco mais adiante podemos ainda ver o velho forno que antigamente era utilizado para abrigo pelos pastores. Em frente deste forno passa o nosso caminho que vamos utilizar para chegar ao Curral de Arrocela. À saída de Coriscada convém ter em atenção não nos confundirmos com as diversas mariolas, pois podemos estar a seguir caminho diferente do que pretendemos. Teremos então de prosseguir para Nordeste tomando um carreiro que está bem assinalado com mariolas.


Após caminharmos uns 100 / 200 metros veremos que temos duas possibilidades de prosseguir. Qualquer uma delas nos levará a Arrocela. Para os dias sem chuva e principalmente sem gelo, devemos tomar o caminho que segue à esquerda pois vai-nos levar pelo vale e permite uma paisagem bem distinta do carreiro que segue à direita. Este trajecto não deixa também de ser bastante interessante, no entanto acaba por ser ligeiramente mais longo e com um maior ascendente antes de iniciar a descida para o sopé de Arrocela.

O Curral de Arrocela tem uma cabana e uma fonte na qual podemos reabastecer antes de iniciar a subida que nos levará até uma das mais deslumbrantes paisagens da Serra do Gerês. Subindo então o que nos falta do longo vale, veremos atrás de nós, lá no fundo, parte do Curral de Giesteira e subindo um pouco mais, veremos ainda o Curral da Carvalha das Éguas, lá ao longe. Esta paisagem vai ficando para trás à medida que vamos flectindo à esquerda já no carreiro que nos vai levar a um colo a partir do qual veremos a Meda de Rocalva e a imensa Roca de Pias já nos domínios de Fafião. A partir daqui vamos iniciar um dos mais fantásticos trechos de percurso de montanha que a Serra do Gerês nos tem para oferecer. Lá ao fundo encontra-se o Curral d'Entre-Águas na junção das águas do Rio Conho com as águas que descem do Estreito. Aqui a Serra do Gerês flecte os seus músculos e mostra-nos que, sendo pequena em dimensão, é grande em personalidade, rivalizando em grandeza com outros maciços aparentemente mais conceituados. Este é o Gerês que não podemos deixar de visitar e que nessa visita ficará para sempre como parte de nós.


Percorrendo a encosta com algumas subidas, o carreiro vai-nos levar ao longo do vale em direcção ao Curral do Cando. O percurso é sinuoso e vai passando a papel químico cada dobra da montanha, porém não devemos deixar de ir fazendo pequenas paragens para apreciar o majestoso espectáculo que vai passando ao nosso lado, com o vale a alongar-se até aos Portelos de Rio Conho nas proximidades de Pinhô.

A certa altura, o carreiro vai-nos levar a um alto a partir do qual podemos já observar a majestosa Roca Negra no sopé da qual está a cabana do Curral do Cando. A paisagem merece uma paragem, por muito frio que esteja, para uma longa contemplação. Ali, perante nós, encontra-se o que nos parece ser um anfiteatro onde a Natureza se encarregou de compor cada aspecto para que encaixasse na perfeição naquele cenário. Se na Primavera e no Verão o quadro que vemos é de sonho, pintada com o branco do Inverno a paisagem descreve-se como um poema de luz na qual as sensações que provoca são a banda sonora que é criada no momento, como num concerto de jazz, pelo improviso dos nossos sentimentos. Única a cada visita, única em cada estação e única na Serra do Gerês.


Lentamente, mas de forma decidida, o carreiro vai descendo e levando-nos cada vez mais próximo do Curral de Arrocela. A passagem do ribeiro marca o início da subida que nos vai levar mais adiante a chegar à vizinhança da Rocalva. Trabalhos recentes de recuperação da cabana do Cando e dos carreiros, permitiam o acesso à Rocalva pelo flanco direito da Roca Negra, mas decidimos seguir o caminho que nos levaria pela vertente oposta ao vale onde nos encontrávamos.

Sem a camada de neve que marcava a paisagem, é mais fácil termos a noção do caminho, mas este está assinalado aqui e ali por mariolas. No entanto, toda a atenção é pouca para evitar que em certos pontos nos desviemos do percurso. Este, na extremidade do carreiro, flecte «para trás» e inicia uma subida que nos levara a uma estreita passagem assinalada por um portelo. Esta passagem leva-nos para os domínios da Rocalva e aqui o percurso é mais nivelado. Neste zona não é de esquecer subir um pouco mais à direita e espreitar a imensa parede da Roca de Pias, colosso que à distância na estrada nacional marca de forma distinta a paisagem.


Eis-nos então chegados à Rocalva, um dos locais mais preferidos dos amantes da Serra do Gerês. Toda a zona é ela bucólica e marcada pelo grande rochedo da Meda de Rocalva. O nome vem da sua forma característica semelhante a uma meda de palha. No Curral de Rocalva encontramos uma cabana e o antigo forno de abrigo dos pastores. Tendo também uma pequena fonte, esta encontra-se quase sempre sem água. Em frente à Rocalva está a Roca Negra e a partir deste ponte são várias as opções para se partir para outras paragens, sendo também ponto de passagem do Trilho da Vezeira de Fafião. De facto foi este trilho que seguimos após o descanso e o repasto no interior da cabana.

O trilho vai-nos levar a passar pelo pequeno Curral de Videirinho (com uma cabana e o forno já alagado, isto é, destruído) em direcção ao Estreito a partir do qual é possível observar o magnifico Vale do Rio Laço que se abre em direcção ao Curral da Touça. Mais uma vez somos obrigados a uma paragem porque a paisagem é magnífica entre o Iteiro d'Ovos, Porta Ruivas, Borrageiro (mais lá ao longe), Portas do Abelheiro, Palma e Sesta da Amarela.


Passando pelo «Penedo da Possessão da Montanha», o caminho vai-nos levar para o Curral de Pradolã, com o seu grande forno, a partir do qual podemos vislumbrar os Bicos Altos. Deixando Pradolã para trás vamos um pouco mais adiante abandonar o Trilho da Vezeira de Fafião para nos dirigirmos por cima do Curral de Pousada para chegar à descida que nos levará a passar perto do Pinhô e depois pela Ponte de Cervas para chegarmos à Tribela. Aqui, tomamos a estrada florestal em direcção à Ponte do Arado e passando pelo Curral do Portos, Malhadoura e Curral da Malhadoura.

Distância folheto: Não disponível
Distância GPS: 12,9 km
Distância odómetro: 10,5 km
Distância GEarth: 12,3 km
Altitude máxima folheto: Não disponível
Altitude máxima GPS:  1.254 m
Altitude máxima GEarth: 1.241 m
Altitude média GEarth: 993 m
Altitude mínima folheto: Não disponível
Altitude mínima GPS:  689 m
Altitude mínima GEarth: 723 m
Duração folheto: Não disponível
Duração jornada (GPS): 6h 49
Avaliação final (máx. 10): 8,5









































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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