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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

201... A inevitabilidade de um regresso


Minas dos Carris, 13 de Agosto de 2013

Quiseram os deuses que voltasse às Minas dos Carris. De facto, tratava-se da inevitabilidade de um regresso que iria acontecer, mais tarde do que mais cedo.

Encontro no Parque de Campismo de Cerdeira e a habitual romagem para a Portela do Homem. Este trânsito é quase como que uma pia procissão através de uma imensa catedral da Natureza tantas vezes desrespeitada. O caminho poeirento pela Geira Romana faz-se ligeiro cortando o ar fresco de uma manhã de um dia que se adivinha quente.

Percorremos o Vale do Homem cruzado por um rio que anseia dias cinzentos. As fontes agonizam de pouca água que nos refresca a sede e humedece a pele ainda pouco suada. O vale enche-se de uma luz esplendorosa que tudo inunda, mas que impede o registo sem a saturação dos sensores. Olhando para trás, o majestismo da Serra Amarela vai-se afundando no horizonte à medida que vamos avançando pelo tortuoso caminho que os homens deixaram degradar. A Natureza vai ganhando o que antes terá sido sua propriedade com o caminho por vezes a transformar-se numa passagem estreita para um universo desconhecido para lá do verde pálido dos meados dias de Verão.

A cada passo a paisagem é de todo familiar de outras passagens e tudo ocupa o lugar que deveria ocupar naquele momento, pois tudo acontece quando deve ter lugar não se atrasando nem se adiantando. Os locais vão-se sucedendo como num argumento de um filme já muitas vezes visto: a Fonte da Abilheirinha, a Água da Pala, a Ribeira do Cagarouço, a Corga do Concelho, as Curvas das Febras, o Modorno, a Água da Lage do Sino, o Teixo, a Corga dos Salgueiros da Amoreira, as Águas Chocas, as Abrótegas, a Corga da Carvoeirinha e as velhas ruínas, guardiãs do passado no alto da montanha.

Os elementos e a maldade dos homens vão derrotando aos poucos aquelas sentinelas da memória. As ruínas vão-se confundindo com o cinzento do granito como que um regresso à origens voltando as ser os majestosos blocos de pedra que em tempos foram.

O pássaro negro, quase como um mau augúrio para aquele lugar, saúda a chegada dos resistentes saídos de uma travessia imensa por entre montanhas e vales. O Sol, esse, queima-nos a pele açoitada pelo engano de uma brisa fresca que lá no alto por vezes faz-nos esquecer as gotas de suor que rolaram pelo rosto, as escorregadelas nas pedras soltas e o cansaço das milhas que ficaram para trás.

Como sempre, o local está silencioso como se as almas e as sombras que antes dançavam se tivessem escondido com vergonha daquilo que lhes fizeram... "Voltai para trás, vocês que nos querem resgatar do esquecimento!..."




























Fotografias: © Rui C. Barbosa

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