Esta foi uma larga jornada pela Serra do Gerês à vista de velhas paisagens e «novos» trilhos que nos levam a locais únicos e cada um com a sua particularidade. Passados muitos anos (muitos mesmo) acabei por visitar pela primeira vez um local de desde muito cedo nas minhas andanças pelo Gerês queria visitar, o Fojo de Alcântara. No entanto, a caminhada levou-nos a muitos outros locais de única beleza e de uma imensidão profunda.
Como qualquer caminhada deve começar, saímos muito cedo de Fafião e enveredamos pelos primeiros quilómetros do Trilho da Vezeira. Este trilho, segue velhos carreiros serranos e foi estabelecido pelas gentes de Fafião para dar a conhecer as árduas tarefas da vezeira que de há muitos séculos faz a transumância dos gados pelos currais naquela zona da Serra do Gerês. Não sendo um trilho homologado, está marcado pelas mariolas em todo o seu percurso que num local ou outro pode requerer um sangue frio numa passagem mais íngreme, não sendo muito aconselhado a quem sofre de vertigens crónicas. Tal como acontece em todos os percursos de montanha, deve ser uma jornada bem estudada e feita de consciência e com uma boa gestão dos riscos... não nos vá o «cansaço» tomar-nos desprevenidos.
O trilho segue de Fafião acompanhando um estradão que nos leva ao Vidoal e daqui segue em trilho de pé posto. Percorrendo as voltas da serra, o carreiro vai ganhando ou perdendo altitude consoante as vicissitudes do percurso enquanto o rio se afasta lá no fundo do vale. O Trilho da Vezeira permite duas opções mais acima ou mais abaixo na encosta. O nosso destino obrigava-nos a seguir pelo trajecto que empinava encosta acima e em certo ponto abandonaríamos o Trilho da Vezeira, embrenhando-nos no caos de píncaros serranos que bem definem a zona. Ao fundo a paisagem permitia-nos a contemplação de Porta Ruivas e do Porto da Lage por onde passaríamos já no regresso.
Um dos primeiros locais de paragem foi o Fojo de Pincães (ou Fojo de Outeiro). Estas obras de arquitectura popular encontram-se em muitos casos em ruína e apesar de haver alguma indicação para o local, é lamentável que não haja uma intervenção para a sua melhor preservação como elemento histórico das gentes serranas. Deixando o fojo para trás, entraríamos no bordo da Corga Funda (ou Corga de Marcozende) que terminaria numa larga laje granítica, local de curto descanso. De mariolas bem conservadas e caminho bem definido, a passagem seguinte levar-nos-ia a um velho e abandonado curral no sopé do Alto de Palma, o Curral de Palma, que é agora uma memória de outras vezeiras e de outros tempos.
Deixando Palma para trás, a cada passo dava-se uma nova descoberta na nova forma das paisagens que se ia modelando à medida que o caminho ia ficando para trás. À nossa esquerda, a Serra do Gerês ia-se apresentando com um novo perfil. Sempre à vista de Porta Ruivas, da Rocalva e da Roca Negra, ia-se caminhando pelo «bordo» das Portas do Abelheiro até se chegar a um novo fojo, o Fojo de Alcântara. Tal como no fojo anterior, este fojo (que em certa forma me fez recordar o Fojo de Vilarinho da Furna) está muito degradado com o seu poço cheio de terra e por onde corre um dos muitos riachos que mais ao fundo da corga irá alimentar o Rio da Pigarreira. Um dos muitos elementos de interesse do local são as pequenas construções muradas que constituíam as 'Esperas' utilizadas nas batidas ao lobo.
Continuando o nosso percurso, e após contornar várias pequenas corgas à vista da Roca Alta, chegávamos aos currais na zona da Lagoa do Marinho, um ecossistema extremamente frágil na Serra do Gerês ameaçado por um assoreamento que coloca em perigo a sua existência. O trilho leva-nos ao estradão e daqui prosseguimos até ao abrigo de Penedão onde acabaríamos por saborear o nosso repasto antes de «atacar» a subida aos Chamiçais.
Deixando o abrigo para trás, prosseguimos até aos currais do Couce e daqui enveredamos encosta acima até à cumeada onde viramos à direita até atingir os Chamiçais com os seus 1258 metros de altitude sobre a Terra Brava. De uma paisagem imponente onde paira o nada, conseguimos abarcar até às distâncias de Pitões das Júnias com os seus Cornos da Fonte Fria e até lá, uma sucessão ondulante de cristas serranas. Da mesma forma, o circo glaciar dos Cocões do Concelinho abria-se em toda a sua pujança e ao lado o promontório granítico de Borrageiros eternamente guardando as suas já seculares minas de volfrâmio. Escondidas de quem costuma passar pela zona do Lago Marinho, estão as imponentes quedas de água da Corga da Pena Calva, uma sucessão de cascatas única em todo o Gerês. Ainda após contemplar as alturas do Castanheiro ou os fundos da Lage dos Infernos, era hora de regressar ao Couce e reiniciar a jornada...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
Magnifico. Paisagens espectaculares... Deve ter sido sem duvida alguma, uma óptima experiência...
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