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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Trilhos seculares - Há sempre mais um caminho a percorrer

E desta forma é assim que o Gerês me surpreende. A cada nova caminhada, a cada nova «aventura» há sempre mais um caminho a percorrer. São estes caminhos e trilhos seculares que nos contam a milenar história de uma montanha e dos seus povos. A sua sabedoria em vencer os acentuados declives, em percorrer a imensidão dos espaços. É este algo, difícil de definir, que torna a montanha mágica e que nos faz querer percorrer um pouco mais, ver o que está para lá do vale no limite do horizonte.

Subindo manhã (não tão) cedo em direcção aos Prados da Messe e a cada passo nos aproximar do azul do céu. Depois de percorrer o velho caminho que aos pontos vai sendo (re)tomado pela Natureza, os horizontes tornam-se largos e deixam-nos ver o grande lago a Oeste, lago que martirizou um povo em nome do progresso, disseram eles. Vilarinho da Furna permanece submersa e silenciosa até chegar os dias em que a água se afaste para silenciosa e submersa permanecer.

Passando ao largo da Messe, o objectivo estava traçado: chegar às Fechinhas (Fichinas). As opções não eram muitas, ou seguíamos em direcção ao Curral da Pedra e entrando no Vale da Ribeira do Porto das Vacas ladeávamos o Conho descendo depois para Fechinhas (o que depois implicaria o regresso no sentido contrário) ou tentávamos uma abordagem «nova» seguindo o caminho que ladeia a Zona de Protecção Total em direcção às Minas do Borrageiro, mas descendo depois para o Vale do Rio da Touça após passar o portelo ali existente. Tomamos esta segunda opção e a recompensa surgiria a cada passo dado. De facto, o caminho já estava referenciado há já muito tempo pelas muitas vezes ali passados destinados a outras paragens.

Após percorrer algumas centenas de metros a imensidão da parte final do Vale da Ribeira do Porto das Vacas não nos arrancou expressões de admiração, mas sim o silêncio da verdadeira contemplação. Abrindo o seu caminho ao longo dos anos, a ribeira desenhou paisagens espantosas e vai escavando o vale à medida que se vai aproximando do Rio da Touça. O trilho flecte ligeiramente para a esquerda para dar passagem à pequena corga que nos surge pela frente e ligeiramente ganha a altitude necessária para colocar o Curral de Fechinhas no nosso campo de visão. A muralha granítica que guarda aquela pequena planície fértil, ganha mais imponência à medida que o horizonte se vai alargando e a paisagem se vai agrupando e ganhando nomes familiares. Perante nós está o Vale do Rio Touça com o seu curral lá ao fundo. Na esquerda, altiva, Fechinas assume-se como que uma coluna de Hércules marcando a entrada num mundo «desconhecido». Mais ao longe, a Meda de Rocalva assume-se como um pináculo geresiano. Na nossa esquerda a outra coluna, Porta Ruivas, encima as Sombrosas com os seus carvalhais espontâneos.

É nestes lugares que a presença do Homem ao longo de séculos e séculos moldou de forma subtil a paisagem, quase tornando-a mais 'natural'. Com uma intrincada rede de caminhos, o Homem foi capaz de preservar este último reduto de um Gerês selvagem, mas não desumano. E ali, naquelas alturas geresianas, nos apercebemos o quão perfeita é a obra do homem.

O velho caminho leva-nos agora para o fundo vale. Na descida torna-se evidente a existência de outros caminhos que nos levariam a outras paragens. O trilho passa a junção entre a Ribeira do Porto das Vacas e o pequeno riacho que corre na vertente das Fechinhas, levando-nos a passar pela velha Cabana de Fechinas e prosseguir em direcção à encosta que nos dará acesso ao Conho onde faríamos uma longa paragem para restabelecer energias.

O regresso ao ponto de partida seria feito utilizado o velho trilho que saindo do Conho nos leva a percorrer a Lomba de Pau e passando ao lado da Lama de Borrageiros, nos fará descer à Chã da Fonte. Daqui, descemos para a Preza (Freza) onde nos espantamos com a cruz de madeira ali implantada há pouco tempo. Seguindo em direcção ao Vidoal, descemos então para a Portela de Leonte. Durante o caminho fomos visitados pela rapina que saudava a nossa passagem.









































Fotografias © Rui C. Barbosa

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