Carris, 13 de Março de 2012
A caminhada de hoje até às Minas dos Carris foi, para mim, reveladora da dimensão do incêndio que lavrou no Parque Nacional da Peneda-Gerês em 2011 e do qual ainda não tinha noção da sua dimensão tanto em termos de área como em termos de efeitos na paisagem. Hoje caminhei muito tempo noutro planeta, aquilo não era a Serra do Gerês que conheci quando em tempos por lá caminhei. Em certas alturas estava perante um cenário quase apocalíptico, um cenário de dia seguinte após a devastação nuclear que nada deixa vivo e que petrifica a paisagem num momento de desolação e morte. A serra revela-se desnuda, estéril, quase como morta... Pelo meio do nada, paira a desolação que confere ao profundo silêncio que por ali se arrasta, a profunda tristeza.
Desta vez deixei atrás o dispositivo quântico e caminhei pelo Vale da Abelheira que no final nos presenteia com a soberba paisagem da Serra do Gerês que se abre a nossos pés. Lá no fundo o Ribeiro Dola vai lutando com a falta de chuva e o seu esgar pela montanha vai-se fazendo escutar. O trilho, geralmente bem definido, vai serpenteando lentamente vencendo as curvas de nível, ora subindo um pouco aqui, ora baixando um pouco ali. Passando ao largo dos currais, fomos procurando o trilho que vem de Pitões das Júnias. Atrás de nós ficava o Castanheiro altaneiro e o Alto do Moreira, atalaia serrana que permite a visão do Vale das Negras que ia surgindo à medida que ganhávamos altitude e vencíamos o caminho estéril com as grotescas figuras dos galhos enegrecidos que nos marcavam à passagem. Chegando ao trilho do Castanheiro avistamos as primeiras cabras selvagens que num rebanho faziam rolar pedras, denunciando a sua presença. Após percorrer o trilho durante alguns metros decidimos não descer aos Currais da Matança, prosseguindo pela esterilidade até aos Currais das Negras, local do repasto... e que repasto foi!!!
O nosso objectivo final eram as ruínas dos Carris e após passar pela concessão da Garganta das Negras, lá vencemos o desnível de cerca de 200 metros até ao paiol e entravamos no reino do silêncio mais profundo. A visita acabaria por ser um pouco rápida com uma passagem pelas ruínas e pela represa, pois os dias ainda são um pouco curtos e era hora de arrepiar caminho para voltar ao local de partida seguindo o trilho em direcção à Lamalonga, encosta de Matança e daqui tomar o secular caminho que nos levou de volta à Abelheira.
Algumas fotografias...
Fotografia © Rui C. Barbosa
Olá Rui
ResponderEliminarOs piores efeitos dos incêndios de Outubro, do ano passado, são os devastaram o vale do Cabril. Xertelo está rodeado de uma mancha negra.
Isto só vai acabar quando todo o coberto vegetal do Gerês desaparecer, e não falta muito.