Apesar de na altura ter lido por alto o artigo intitulado "O regresso da vida selvagem" da autoria de Henrique Miguel Pereira, ex-Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês, publicado no blogue ambio a 16 de Setembro de 2011, hoje chamaram-me a atenção para o mesmo artigo. Confesso que de facto na altura não lhe atribui a devida importância, mas hoje apetece-me escrever um pouco sobre o mesmo.
No referido artigo é constatado o aumento da abundância da vida selvagem no nosso único Parque Nacional. Como é referido, há pouco mais de dez anos foram libertadas algumas dezenas de cabras-monteses no lado espanhol da Serra do Gerês. A reprodução deste grupo foi notória e hoje só com muito azar ou um grupo muito barulhento de montanheiros não será capaz de as avistar. Mais recentemente foi libertado mais um grupo na Serra do Laboreiro que confina com o extremo Norte da Serra da Peneda. Nos píncaros de Pitões são avistadas as cabras que fugiram do centro de reprodução existente na Baixa Límia-Serra do Xurés, e hoje todo o Parque Nacional possui uma população substancial destes animais.
No mesmo artigo, Henrique Miguel Pereira indica o aumento das populações de javali e de corço, e eu posso arriscar dizer que também tem havido um aumento das populações de lobo.
Ora, não deixa de ser interessante que toda esta evolução ocorra durante uma fase que, segundo o que é referido pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, toda a área protegida tem sofrido um violento impacto de milhares e milhares (direi milhões?) de visitantes que à sua passagem vão destruindo a fauna e flora, colocando em perigo a própria existência da área protegida. Este facto, pode ser visto pela louca tentativa de implantação das chamadas zonas «wilderness» ou pelo aumento da Área de Protecção Total na qual só se pode caminhar com autorização segundo o regulamentado no recente Plano de Ordenamento.
Se a análise feita pelo PNPG fosse minimamente séria, ver-se-ia que os impactos no Parque Nacional têm maior ocorrência durante os meses de Verão devido à existência de um turismo intensivo e pouco esclarecido sobre o local onde acontece. São dois meses no ano onde assistimos de tudo e pouco se faz para o impedir. Porquê? Porque não há meios para tal e tenta-se tapar o Sol com uma peneira rasca, cobrando taxas de acesso à Mata de Albergaria para que depois o dinheiro seja aplicado nas «reparações» do ICNB em Lisboa! Os locais de mais frequente acesso no Parque Nacional estão perfeitamente definidos e a presença de pessoas em outras zonas «profundas» das serras deve-se limitar a algumas dezenas de indivíduos durante todo o ano.
Por outro lado, e associado a uma vigilância florestal que teve a sua mais visível expressão nos meios de comunicação social, surgem sempre os rumores de que os visitantes serão multados e punidos por usufruírem da montanha. É certo que existem aqueles que calcorreiam as serras do parque nacional só para vandalizar e destruir, mas mesmo esses actuam com as autoridades a assobiarem para o lado.
Um Parque Nacional com as características do nosso único parque nacional não pode viver sem as gentes que lá vivem e sem as gentes que o visitam. Não pode ser uma redoma de extremos ambientalistas ou local de experiência e estudo de doutorzinhos, mantendo aparte aqueles que com tão pouco fazem mais do que muitos dos que lá trabalham.
Assim, é com a nefasta presença daqueles que gostam de calcorrear as suas serras que a fauna tem-se vindo a desenvolver e aumentar... tivesses estudado!
Fotografia © Rui C. Barbosa
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