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domingo, 14 de agosto de 2011

Trilhos seculares - Domínios de Fafião e Ermida (I)

Proporcionando-se a oportunidade, lá fui percorrer o trilho que me chamou a atenção no passado dia 11 de Agosto a quando da descida para o curral que se abriga por detrás da Roca Negra. Porém, em vez de partir desde a Portela de Leonte, optei por iniciar a incursão saindo do Arado e seguindo pelo estradão florestal até à Malhadoura e Tribela, e aqui rumar para o Vale do Rio Conho, passando a Ponte das Cervas e o Pinhô.

A paisagem neste vale é magnífica e única em toda a Serra do Gerês, tendo como pano de fundo o Cutelo de Pias (na designação das gentes de Fafião) ou a Roca de Pias (na designação das gentes da Ermida), tal como nos foi esclarecido pelo Almerindo Matos. O Almerindo iría-nos resolver também o mistério do nome do velho curral abandonado, mas isto mais daqui a pouco.

Depois de abandonar o Pinhô, seguimos em direcção ao Poço Verde (por muitos designado por Poço Azul) e aqui deixamos parte do nosso pequeno grupo. A incursão exploratória seguia feita juntamente com O Maior da Figueira e a sua companheira Xara. Depois de passar pelo abrigo do Rio Conho, chegamos à bifurcação do vale do Rio Conho e aqui colocavam-se duas opções: a primeira e mais simples seria a de percorrer o vale à nossa direita e atingir no seu topo o Trilho da Vezeira que vindo de Fafião nos levaria à Rocalva; a segunda opção seria tentar encontrar um trilho que nos fizesse «cortar» caminho em direcção ao Cutelo de Pias. A primeira vez que subi aquela encosta tive de aplicar os conhecimentos de cabritismo para já a meia encosta descobrir um trilho. Havíamos sido «enganados» por velhas mariolas soltas que nos levaram a um esforço extra.

Desta vez, O Maior da Figueira já havia anteriormente avistado umas mariolas que seguiam para o lado direito e com um pouco de insistência, mas sem a ajuda de catanas, lá conseguiu encontrar o início do trilho que trepava a encosta em direcção ao Cutelo de Pias. Não teve sucesso a tentativa de encontrar um outro caminho que percorresse a margem do rio em direcção ao velho curral no sopé da Roca Negra.

À medida que íamos vencendo o declive, a paisagem sobre o vale ia-se transformando proporcionando um espectáculo único e quase indescritível. Este trilho requer um esforço considerável pois vence um declive que quase 350 metros numa distância de cerca de 400 metros. Chegados quase ao topo do Cutelo de Pias, seguimos em direcção a uma paragem na Rocalva para um pequeno descanso. Foi aqui onde conhecemos o Almerindo Matos que numa pequena conversa nos disse que o nome do tal curral era 'Curral do Cando'. São estas pequenas revelações, nomes sem significado para a maioria das pessoas, que tornam especial a riqueza daquelas paragens e daquelas gentes. Este tipo de orónimos merece um esforço considerável de catalogação e registo, e certamente será um trabalho ao qual me irei dedicar nos próximos tempos.

Com as pernas refeitas e o cansaço deitado para trás das costas, e depois de uns goles de água da recente nascente ao lado do Abrigo da Rocalva, prosseguimos a nossa jornada que nos levaria então ao Curral do Cando. A descida para o curral é algo de monumental depois de se visitar um promontório granítico que nos leva perante a face vertical do Cutelo de Pias. A descida para o curral é feita à vista da Roca Negra, o que lhe impregna uma sensação de estarmos nas grandes cordilheiras mundiais. A Serra do Gerês pode ser uma montanha pequena em dimensões, mas enorme em proporcionar boas sensações a quem lá caminha.

Chegávamos então ao pequeno ribeiro que passa junto do Curral do Cando que fomos visitar com mais atenção. O curral parece ter sido reparado há alguns anos, mas certamente que já não é utilizado há muito tempo. Imaginamos como seria aquele lugar com outras condições meteorológicas, como vento a soprar entre as elevadas penedias ou as suas encostas cobertas pelo branco da neve...

Abastecidos de água, iniciamos a parte final da jornada caminhando num bom trilho em direcção à Malhadoura. O trilho percorre quase na totalidade a bifurcação esquerda do Vale do Rio Conho e depois passa para o flanco Oeste da Arrocela. A certa altura divide-se em dois caminhos. Decidimos tomar o trilho que desce para o topo de um enorme vale (fica a sugestão de determinar para onde segue o outro trilho). Neste vale avistamos um «novo» curral (Curral da Arrocela?) e parámos um pouco depois para um merecido almoço à sombra de frondosos pinheiros e junto ao que nos pareceu um abrigo ou toca abandonada de algum animal.

Após o almoço prosseguimos as mariolas e acabamos por passar por dois outros currais que não sei o nome (alguma ajuda?) e que deverão pertencer à Ermida. Curiosamente no último curral encontrava-se uma cabra perdida dentro do abrigo, certamente abrigando-se do calor de 33ºC que se fazia sentir naquelas paragens. Depois deste último curral descemos para um estradão florestal que nos levou até perto do 'Curral da Vezeira'.

As imagens do dia...

Fotografias © Rui C. Barbosa

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