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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O património perdido da Peneda-Gerês (XLVII)

Este acaba sempre por ser um tema recorrente aqui neste blogue. O estado em que se encontra o velho património no interior da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês é de verdadeiro escalabro, atingindo na maior parte das situações pontos de criminosamente irrecuperáveis. Das mais de 50 casas florestais, ou casas da floresta, existentes no território do PNPG, poucas são as que podem ser apontadas como bons exemplos de recuperação e quando estes existem, a recuperação ocorreu devido à intervenção de privados. Assim, e mais uma vez, o Estado pôs-se de parte na conservação desta dezenas de imóveis, deixando-os a apodrecer e a salto de actos de vandalismo.

O exemplo, já aqui referido, da Casa do Clube Académico do Porto na Mata de Albergaria, retrata bem a acção crimonosa e impune do Estado neste assunto. A casa vai-se degradando a cada dia que passa. O seu interior mais parece um entulho mal arrumado. As portadas em mau estado permitem o acesso ao seu interior que está húmido e degradado por acção dos elementos. Alguém de perfeita consciência decidiu um dia tomar a decisão de que deveria ser a Natureza a tratar da conservação daquele edifície emblemático perdido na mata secular. É óbvio que provavelmente a pessoa quem tomou essa criminosa, ignorante e imbecil decisão, já não deve trabalhar para o Estado e mesmo que assim fosse não seria punida por isso. A realidade é que aquela casa está ali na mata, exemplo perfeito da longa degradação do país (infelizmente, é o que acontece, por exemplo, com muitos dos edifícios das velhas escolas primárias espalhadas pelo território, é o que acontece com as velhas estações de comboios abandonadas na linhas e ramais fechados pela ganância económica dos ignóbeis gestores que em vez de servir as populações que lhes pagam os milionários salários, servem um poder que ninguém sabe bem quem é).

Assim, vamos vivendo felizes e ignorantes, alheados de uma realidade que nos envolve e olhando para o lado pois porque já nem temos coragem de assobiar para o ar, pois porque isso chama muito a atenção...





Fotografias © Rui C. Barbosa

3 comentários:

  1. Sempre que ali passo sinto alguma nostalgia. Já fiquei nessa casa, bem como na que existia na Bouça da Mó. O viveiro das trutas, os medronheiros e os marcos miliários, o estradão onde não passava ninguém. Da Bouça da Mó até Vilarinho da Furna era um saltinho.Eram tempos em que estes seres iluminados que agora se sentam nos gabinetes envidraçados de Lisboa ainda não tinham tomado posse deste nosso maravilhoso cantinho. É realmente um património perdido....

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  2. Caro M. Orosa,

    Obrigado pelo comentário. Seria interessante se conseguir umas fotografias desse tempo. Se as tiver, não quer compartilhar?

    Grande abraço!

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  3. Olhar para o passado e sentir as vezes que fui feliz nesse espaço pouco me custa, porque vivi.
    O que doi na alma é ver o abandono e desprezo a que foi votado esse exemplar abrigo de montanha.
    Aproveito para desejar a todos os Veteranos do núcleo de Montanhismo do AFC que "levantaram" o abrigo um Santo Natal e bem hajam pelo exemplo que nos deram.
    Adriano
    Um abraço para ti Rui

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