Há já algum tempo que não fazia uma caminhada solitária ás Minas dos Carris. Aproveitando uma prevista melhoria nas condições meteorológicas, pus botas ao caminho e rumei ao Gerês. Eram 8h45 quando comecei a caminhar, calmamente, com o objectivo de chegar às minas pela 159ª vez. Aproveitaria também para ver o resultado da intempérie dos últimos dias e a possível existência de neve.
O Rio Homem corria forte, como era de esperar. As chuvas dos últimos dias aumentaram os caudais para um volume como eu os gosto de ver, longe da miséria do Verão. Vale do Homem acima, caminhando por entre o Outono e algumas paisagens de Inverno. A temperatura manteve-se sempre por entre os 7ºC até ao Modorno, mas depois foi descendo consideravelmente à medida que ia ganhado altitude e vencendo o desnível. Nas Águas Chocas já marcava os 3,9ºC atingindo o mínimo de 2,0ºC já nas minas.
Ao chegar à Carvoeirinhia o espectáculo das cabras selvagens, dezenas. Rapidamente se apressaram a rumar para lugar seguro na serra com a minha relativa aproximação de dezenas de metros. À medida que subia a Carvoeirinha, foram desaparecendo em fila indiana por detrás da volta da curva e quando lá cheguei, não havia uma única à vista. Espertas estas cabras...
Apesar do grande caudal do Homem e da existência e força de algumas quedas de água, a paisagem estavam longe daquele dia de Novembro onde a "...montanha se rasgou para deixar sair a água!", citando então o Zé Moreira. No entanto, o vale estava digno de um épico, um verdadeiro clássico cinematográfico, uma ode à Natureza.
Ao passar pelas Águas Chocas os primeiros sinais, tímidos, de neve. Ali, sabia que ia encontrar as primeiras neves da época em Carris. A paisagem foi-se compondo com manchas brancas aqui e ali, e por entre o pinhal, sinal de que o nevão havia sido forte, mas efémero com a chuva que terá vindo a seguir. Nas Abrótegas a paisagem já não disfarçava a neve e esta dava outra beleza à montanha.
As casa de Carris estavam, como sempre, perfeitamente enquadradas no cenário invernal que me recebeu. O Sol já fizera a sua aparição como que a avisar para tirar as fotografias antes da chegava da borrasca ou do nevoeiro que dentro de minutos iria cobrir os píncaros serranos.
E ali estava eu... só. Eu e o resto do mundo. Eu naquela «vastidão» branca e em tons de cinza que lentamente caía na urze, no tojo e no granito. Procurei o meu refúgio, mal tratado como era de esperar e com mais água a gotejar do que era habitual... sinais do tempo, sinais da intempérie, sinais dos dias de vão passando... silenciosos. Ao longe, mas ali ao lado, o som da flauta com uma música descoordenada... ou coordenada com o passar do vento. Naquela desordem os dias vão passando e as memórias vão-se tornando cada vez mais turvas.
Uma passagem rápida sobre a Garganta das Negras para mirar a Nevosa, imponente guardiã daquelas alturas. Ao longe as Terras do Barroso que se preparam para o Inverno que aí vem. Um vislumbre da represa e é hora de regressar. Junto da entrada, encostado à velha cantina em ruínas, não me apetecia regressar... Ficar ali, no silêncio...
E assim foi... uma nova visita às Minas dos Carris... sem queimar barrotes podres no pensamento do ignorante...
A primeira série de fotografias (Portela do Homem ao Modorno)...
Obrigado por me levares contigo ainda que por breves momentos, preciosos e libertadores, numa caminhada da alma de um homem apaixonado, ao lugar de descanso e de repouso da máscara que carrega, aquele lugar de repouso e conforto, como só a serra, nos sabe dar. A caminhada solitária, é das experiências mais incríveis que conheci e não muitos conheço que tivessem esse previlégio. É preciso coragem para enfrentarmos o nosso íntimo que é exposto nos vales e cumes, e ouvir a voz do nosso pensamento dividido entre o deslumbre da generosidade e o medo do vazio...No fim, a saudade já o preenche, e assim...valeu o esforço.Obrigado Rui.
ResponderEliminarBoas
ResponderEliminarI que parceiro, isto não se faz... eu já tou aqui tolo por tár "preso" em frente a um pc e só vejo fotos até ao Modorno, não pode. e a neve???;-)
Abraço
Paulo
A questão não é ser ignorante porque alguém viu uma foto que tu colocas te com barrotes arder, a culpa até é um bocadinho tua , não é por ser a 159x que vais as minas que as pessoas entendem essa foto.
ResponderEliminarAs minas fazem parte da tua vida, assim como tu adoras tudo o que as envolve, o cheiros em diferentes estações do ano, os tipos de relevo, as folhas do Outono ou na primavera etc etc mas isso só entende quem vive as experiencias de usufruir anos da mesma natureza. As vezes tb sou um bocadinho impulsiva :) em certas coisas e as coisas nem sempre são lineares como as vezes escrevemos.
Por exemplo eu e os meus amigos ( 2 aldeias Ermida/Lourido) vivemos praticamente naquelas lagoas, desde os 10 anos fugíamos dos nossos pais e passávamos tardes naquelas rochas e serras a brincar, e so aparecíamos á noite claro que levávamos uma tareia porque não fomos ajudar a trabalhar no campo , hoje quando vemos no que se tornou aquelas lagoas e toda aquela zona cheia de turistas que não temos espaço para usufruir, dá vontade de mandar toda a gente embora, claro que não podemos fazer isso nem devemos, mas sentimo-nos ameaçados , porque sentimos que aquilo é nosso não no sentido real mas mais no sentido de conhecermos melhor aquilo do que todas as pessoas que ali estão e agora estão ali a deixar lixo e a dizer parvoíces sobre os residentes das aldeias etc etc . Um dia coloquei uma foto de um amigo em cima de um arco antigo, essa foto foi interpretada como se vandalizasse mos esse local e que possivelmente nem gostávamos da natureza blá blá, a culpa foi minha porque coloquei a foto e nem todas as pessoas me conhecem para saberem interpretar a foto. Na minha opinião contigo acontece o mesmo as pessoas que falaram nos barrotes não sabem o que tu sentes em relação as minas ou ao PNPG ou se tu vais 159x ou porque queimas te os barrotes já quer dizer, que não respeitas ou não gostas das minas, ninguém disse isso . Apenas viram uma foto que realmente não devias ter colocado.
Parabens pelas fotos,
cumprs
Alice Lobo