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sábado, 21 de novembro de 2009

147... Água! Muita água....

Carris, 21 de Novembro de 2009

Ao longo das últimas horas tentei arranjar adjectivos que me ajudassem a descrever aquilo que tive o privilégio de assistir neste dia e nesta minha 147ª caminhada às Minas dos Carris. Não conseguir, faltam-me as palavras e nesta alturas as imagens para vos mostrar o que senti nestas horas. Penso mesmo que nem com as imagens conseguem ter as sensações que senti ao presenciar o espectáculo que a Natureza reservou para mim, para o Zé Moreira e para o homem da 10ª caminhada, um desconhecido surgido no meio do nevoeiro dos Carris.

O dia começou estranhamente quente ou então não tão frio como esperava que começasse em Braga. Apesar de ter um céu com nuvens não chovia, coisa que me deu o alento para as horas seguintes... de facto estava mentalmente preparado para um grande banho a julgar pelos dias anteriores. Atrasado, rumei ao Gerês e depois de passar pelas Caldas maravilhei-me com as cores de Outono junto da Cascata de Leonte e dos prados da portela com o mesmo nome. Sempre gostei das cores de Outono e nesta altura estas paragens parecem saídas de um conto de fadas antes de se apagarem as luzes do palco na Natureza antecedendo o Inverno. Atravessar a Mata de Albergaria foi como correr pela palete de um artista que pinta um quadro com cores quentes... simplesmente único, simplesmente magnífico.

Chegado à Portela do Homem e preparando-nos para a caminhada, pois já lá se encontrava o home que deu o nomem ao Alto do Moreira, começou a chover. Parecia de propósito como que um prenúncio do que estava para chegar, um prelúdio de um espectáculo único de sensações.

A caminhada até aos Carris foi penosa e pesada. O caminho parecia mais difícil do que o costume com todas aquelas pedras soltas, como que um mar de rocha a correr em sentido contrário. O peso da roupa molhada com a chuva aos chegar ao nosso abrigo era como que parte de uma resposta a todas as dificuldades. Durante a subida foram vários os cenários que nos maravilharam, todos eles pintados em tons de fogo. O Ribeiro de Cagarouço com uma quantidade de água que nos fazia esquecer o fio de água que resistiu ao Verão, a grande queda de água à chegada ao Modorno que pôs os nossos olhos a percorrer toda a encosta oposta, a paisagem poética da Ponte do Modorno, a sempre eterna imensidão do Vale do Alto Homem, a passagem nas Abrótegas... No entanto seriam cenários que ficariam como que um prefácio do conto que estava para vir na descida.

Depois da troca de roupa, do almoço quente e das bebidas retemperantes, era chegada a hora da descida. Entretanto, chegava aos Carris a sua terceira visita do dia... Pouco tempo lá esteve. Iniciamos então a descida com uma chuva intensa corrida a vento. Em resultado desta chuva os caudais dos riachos e ribeiros aumentaram de forma muito considerável... Nas Abrótegas o sítio onde havíamos estado para recolher água estava já submerso. Pelas encostas surgiam cascatas que nunca tinha visto nas mais de duas décadas de percorro o Gerês. Água! Muita água... O Rio Homem em fúria saltava as grandes rochas e fazia desaparecer em alguns locais as suas quedas de água. O Vale do Alto Homem havia-se transformado numa paisagem amazónica por entre o nevoeiro e a neblina, com longas quedas de água. A chuva batida pelo vento fazia a água saltar de queda em queda, transportando-a para longe. Nos grandes espaços víamos a ondulação da chuva levada pelo vento.

Ao chegar ao Modorno era fantástico e espectáculo daquela queda de água. Fiquei ali parado longos minutos a maravilhar-me com algo que sabia ser único. Pela grande fenda corrida um fio de água, noutros sítios as cascatas escondiam-se por detrás de saliências rochosas para surgirem mais em baixo com uma força redobrada.

Chegados à Ponte do Modorno era sublime ver aquele ribeiro ocupar todo o espaço com uma vontade de saltar, sair das margens e passar por cima da ponte. A queda de água logo após a ponte tornava o riacho ensurdecedor e as paredes de granito estrangulavam as águas, enfurecendo-as logo depois... Todo aquele ruído, uma música da Natureza...

Pelo caminho tornava-se evidente a razão do seu estado actual. A falta de manutenção e as antigas condutas entupidas faziam com que a água procurasse por onde correr. Assim é desde o último arranjo há muitos anos e a água acabou por levar a terra, deixando a rocha solta.

Todo o vale era uma conduta por onde a água das inúmeras cascatas corria. O Rio Homem enfurecido com aqueles que o querem retirar à vista. A lagoa onde costumo mergulhar no Verão não existia, transformada num tormento e turvilhão de águas revoltas e sujas de detritos trazidos do alto da serra. O Ribeiro do Cagarouço fazia agora esquecer o que havíamos visto há poucas horas... A água corria por sítios onde nunca a tinha visto correr. Magnífico, sublime como só a Natureza é capaz de fazer...

Com o Homem zangado pela maldade dos tecnocratas, foi um dia único e que jamais voltarei a ver...

Fotografias: © Rui C. Barbosa

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