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sábado, 4 de julho de 2009

Para uma história das Caldas do Gerês, pelo Dr. Ricardo Jorge (VI)

Continuo a reprodução dos textos do Dr. Ricardo Jorge com os quais pretendia em 1891 traçar uma história das Caldas do Gerês. Estes textos foram publicados nesse ano na obra "Caldas do Gerez - Guia Thermal" e são uma primeira aproximação, que chamarei de académica, para um traçado histórico da vila termal.

Para manter o rigor do texto, decidi não o adaptar ao português actual mantendo assim as características da nossa língua mãe em finais do Século XIX.

"(...)

Ao renome rapidamente alcançado pelo Gerez, e confirmado no discurso dos tempos pela bôca de milhares d'enfermos, deviam competir largas honras da imprensa. Nenhumas thermas da paiz possuem melhor e mais extensa bibliographia.

Abre a fileira o notavel Doutor Mirandella, Francisco da Fonseca Henriques, que no seu Aquilegio Medicinal (1726), primeiro inventario da hydrologia portugueza, consagrou encomiastico paragrapho ás Caldas do Geres, frequentadas «por numerosissimo consurco d'enfermos que lhe acode todos os annos». Jeronymo Contador d'Argote nas Antiguidades da Chancellaria de Bragam onde falla douramente da via romana e na sua epigraphia, expende larga noticia da serra, extansiando-se perante as suas maravilhas naturaes, e dá noticia das caldas, dizendo «que são as melhores e as mais proveitosas de todas quantas ha em Portugal».

O primeiro gerezista de cunho foi o padre Antonio Martens Belleza, enfermo chronico do flato hypocondriaco, que, «farto de consultar os medicos mortos e vivos», e de esgotar o calice de todas as drogas e aguas, deveu a redempção dos seus males ao Geres, d'onde foi cliente assiduo durante vinte e tantos annos, applicando seu perspicaz tino d'observador ao estudo da medicina thermal. Caridoso para com os enfermos, que tantas vezes damnosamente se confiavam a erradas praticas, reduziu a escriptura a sua experiencia, pautando as maximas d'um correcto tratamento gereziano no seu Methodo pratico de tomas os banhos das caldas do Geres (1763), um doa melhores trabalhos da antiga hydrologia portugueza. O regimento do prestimoso abbade insiste no modo d'aproveitar os banhos d'immersão e sudação - hydrosudopathia thermas a que tinham sido apropriados os poços abobadados -, anumera as queixas inidicadas e prohibidas, formula as dietas, e taxa as indicações e doses da bebida, do banho interno, ao tempo subsidiario ainda do banho externo, mas já muito preconisado pelo lauvavel monographista do Geres.

(...)"

Fotografia - Ilustração do Grande Hotel Universal existente nas Caldas do Gerês em finais do Século XIX.

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