Carris, 5 de Abril de 2009
Não deixa de ser interessante a relatividade do tempo em todos os seus aspectos. Bastou fechar os olhos só por um momento após o acordar e passaram duas horas, obrigando assim a uma alteração de planos para o dia. Este começou com muitas nuvens em Braga e com a perspectiva de uma paisagem cinzenta no Gerês, felizmente que esta minha avaliação do dia estaria errada passado umas horas.
Não deixa de ser interessante a relatividade do tempo em todos os seus aspectos. Bastou fechar os olhos só por um momento após o acordar e passaram duas horas, obrigando assim a uma alteração de planos para o dia. Este começou com muitas nuvens em Braga e com a perspectiva de uma paisagem cinzenta no Gerês, felizmente que esta minha avaliação do dia estaria errada passado umas horas.
Chegado à Portela do Homem deparei-me com um cenário não muito comum. Ainda com a escassa luz do dia estava lá montada uma verdadeira oficina automóvel... alguém havia tido um azar e logo ali se teve de improvisar uma reparação... o que acho incrível é o aparato ali montado na madrugada... geradores, projectores de luz, todo o tipo de ferramentas... Bom, o efeito do ambiente natural não é difícil de entender... Incrível é não ter certamente passado por ali durante aquele tempo todo alguém da GNR ou dos próprios serviços do parque... Interessante também foi também ver que há pessoas que ficam a dormir dentro dos carros na Portela do Homem com os motores a funcionar... Vamos a coisas que realmente interessam...
Já havia luz natural quando comecei a subida em direcção às Minas dos Carris. Pelo estreito vale da Portela do Homem corria uma língua de neblina dando um cenário quase bucólico à paisagem matinal. A luz do sol ia inundando o Vale do Alto Homem à medida que a caminhada se ia desenrolando. Com a Serra Amarela cheia de esplendor com a luz matinal, o Sol aos poucos ia subindo num horizonte ainda escondido de mim. Quando o cheiro do incêndio ficou para trás já passado a Abilheirinha, o contorno da montanha ao fundo do vale ia-se tornando difuso com o Sol a querer espreitar pelo alto da serra.
As notícias dizem que o mês de Março terá sido um dos que menos choveu nos últimos anos e eu concordo perfeitamente... a Serra do Gerês tem pouca, muito pouca água. A água que cai na Ribeira do Cagarouço é muito pouca num cenário só visto nos meses de Verão mais quentes. O mesmo acontece nos outros cursos de água e mesmo o Rio Homem não tem o aspecto primaveril que deveria ter.
Caminhando sozinho rapidamente passei pela Água da Pala, Febras e Modorno. Aqui, parei para a usual fotografia do Vale do Alto Homem. Bebi um pouco de água e retomei o caminho... a vontade de caminhar aumentava à medida que me aproximava das alturas serranas e o meu objectivo do dia estava já traçado... Passei o Teixo, as Águas Chocas e maravilhei-me com a paisagem das Abrótegas lembrando-me da última caminhada com o Zé Moreira às alturas do Altar de Cabrões e do Pico do Sobreiro que ali moldavam a paisagem na distância em linha com o Alto dos Carris. Depois de abastecer de água no jovem Homem nascido nas Lamas não muito longe, prossegui o velho estradão até chegar ao último troço nas franjas da Corga da Carvoeirinha.
Já no final da subida a bela paisagem das minas... as casas e as outras ruínas lá continuam dando ao lugar a sua aura de mistério e misticismo. Procurei abrigo junto do Penedo da saudade, mas o abrigo não era necessário pois o tempo convidava à contemplação... ai fim de contas eu estava só nos Carris. Parado junto das ruínas da casa do pessoal superior da mina e depois de pousar a mochila do chão, inteirei-me do silêncio... Foi um momento único, sem o vento o silêncio era avassalador, ensurdecedor... Contemplar uma paisagem assim onde o som mais alto é o bater do coração ou o simples respirar, os pensamentos são como um discurso em alta voz... Perguntam-me muitas vezes o porquê de tantas caminhadas aos Carris? Bom, ali era o momento para uma resposta e a razão de uma forma de estar...
Retemperando forças, e como o dia ainda nas primeiras horas da manhã, deixei-me ficar um pouco mais até que o silêncio foi interrompido pela chegada, ao longe, de um grupo de pessoas. Para alguns há a necessidade do silêncio, mágico, para outros a necessidade de fazer ruído. Uma figura avistava cansado as casas ao longe. Sôfrego e cansado sentiu a necessidade de acalmar a sede provocada pela intensa subida até ao marco geodésico. Assim, sacou da sua garrafa de água e num ímpeto que quase sobrevivência bebeu... O rótulo de papal incomodava a sua figura altaneira no topo recém conquistado e num só golpe arrancou-o arremessando-o ao chão para ali ficar... O acto foi irreflectido, mas certamente que ficou bem à vista das miúdas que o acompanhavam... Alguém o haverá de apanhar... um dia...
Por esta altura, e como numa montanha envolta de silêncio os sons são mais audíveis do que muitos desejariam, eu já estava apelidado de guarda... Não querendo me encontrar com as criaturas que se aproximavam, pois certamente iriam destruir o quadro que acabara de pintar nos últimos minutos, arrumei as minhas coisa e rumei em direcção à Lamalonga, objectivo principal da caminhada. Caminhando por entre as ruínas da zona industrial cheguei à grande lavaria da mina e após uns quantos saltos e subidas, cheguei ao velho trilho de pé posto que desce a corga. O esplendor da Lamalonga ia aumentando á medida que ia descendo preparando também o trilho para uma grande caminhada que um mês irá trazer.
De repente, na paisagem próximo de mim, avistei uma mancha colorida no chão. Fiquei curioso e foi ver pois aquela não é uma cor usual no Gerês. Caído no chão estava um polar que certamente alguém terá perdido. Terei muito gosto em o devolver a quem provar pertencer-lhe e para tal bastará dizer-me a marca, cor e tamanho... certamente que o (a) dono(a) saberá e assim evita-se os gulosos...
Prossegui então o caminho entrando na grande escombreira das Minas dos Carris depositava no vale da Lamalonga. O tamanho da escombreira é impressionante e que olha dos Carris não faz a ideia da sua verdadeira dimensão. São toneladas e toneladas de pequenas pedras que um dia foram retiradas das entranhas da terra em busca do valoroso minério. Agora estão depositadas na Lamalonga e fazem parte da paisagem do vale. Na Lamalonga mais uma vez se pode constatar o efeito de um mês seco... quase não há água na Lamalonga e o ribeiro que por lá corre vai seco com a água que vem das minas a perder-se algures pelo caminho.
Passando pelo prado de Lamalonga caminheira até aos limites da Sesta de Lamalonga e aqui voltei para trás decidindo regressar ás Minas dos Carris através da Corga das Negras. No sopé da Matança vislumbrei o vale por onde corre a Ribeira das Negras e ao fundo o Castanheiro, recordando também outras longas caminhadas vindas de Pitões das Júnias. Aproximando-me da Corga das Negras fui presenteado pelo avistamento do que penso ser uma águia que já há muito sabia nidificar naquela zona... Durante alguns minutos deixou-me ver o ser gracioso planar e por fim desapareceu para lá dos limites graníticos da serra.
Atingindo a mina da Corga das Negras foi tempo de fotografar os restos que por lá descansam e a entrada da mina antes de iniciar a ascensão até ao antigo paiol dos Carris. O trilho desde a Corga das Negras até ao paiol está muito descuidado e é complicada a sua subida. Chegado de novo junto das ruínas foi tempo de um curto descanso antes de iniciar o regresso à Portela do Homem. Na descida cruzei-me com vários grupos... os Carris parecem ser cada vez mais um destino de interesse para pessoas de todas as idades, mas infelizmente há ainda quem não se tenha apercebido disso...
...e assim foi a história deste dia... as primeiras fotografias...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
muito bom dia!!o meu nome é Nuno Pimenta!não se deve lembrar de mim, mas ja enviei algumas fotos minha sobre a mina dos carris!quero so esclarecer uma coisa!não tem nada a ver com o post, peço deculpa por isso!!
ResponderEliminareste sabado passado (dia 4) fui fazer uma pequena caminhada pela zona da cascata do arado, ja no final onde me encontrava no meu carro passou um tipo de moto 4, e passado agum tempo passou um grupo de cerca de 6 ou mais garranos, potros incluidos!o que me deixou intrigado foi que algum tempo depois os garranos passaram a galope no sentido inversso com o tipo de moto 4 a persegui-los!dava "rateres" buzinava gritava com os garranos!sabe aqueles cães dos pastores que orientam o gado!? o tipo da moto 4 parecia um cão a orientar os garranos!agora!!a assustar os garranos o que acontece é que galopavam pela largura total da estrada, e se vinha algum carro de frente?os garranos atropelavam o carro, o carro atropelava os garranos!?o tipo na minha opinião é um idiota, não daqueles que têm ideias brilhantes!!ainta reclamei com o tipo (mas não vou reproduzir o que disse :) ), pois ia sempre atras dele de carrinha, mas o tipo de capacete axo que não me ouvia, pois so me mandava passar!!ainda tentei mas com os garranos assustados e a correr na largura toda da estrada so se os atropelasse! um carro da gnr ainda apareceu, mas axo que não fez nada!!
agora eu pergunto!!quem era o tipo???será que os garranos agora têm dono?e o tipo era o possivel dono e que com a evolução dos tempos agora se leva o "gado" a pastar de moto 4?ou tão e simplesmente é um parvalhão que não tinha mais nada para fazer e pôs-se a assustar uma raça de cavalos selvagens!!
peço desculpa pelo longo texto!mas se me pudesse esclarecer!
Em muitos casos os garranos são semi-selvagens e muito provavelmente o que o Nuno viu foi mesmo um pastor. Muitos dos apoios que recebem do estado serão gastos na compra dessas motos.
ResponderEliminarA cena que viu será um misto de pastoreio com uma atitude parva de exibicionismo.
obrigado pelo esclarecimento!
ResponderEliminaro facto de ter visto que os garranos não tinham ferraduras levou-me a pensar que seriam completamente selvagens!