Carris, 22 de Novembro de 1951
O seguinte texto é o relatório integral de reconhecimento da mina de volfrâmio da Lamalonga n.º 1 levado a cabo pela Circunscrição Mineira do Norte da Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos do Ministério da Economia... (otexto não foi modificado de forma a corrigir a ortografia)
RELATÓRIO DE RECONHECIMENTO
SITUAÇÃO E ACESSO - Fica esta mina situada em plena serra do Gerês, próximo do marco trigonométrico Carris.
O terreno em que assenta o jazigo é de natureza montanhosa, áspero e rude acesso quási toda esta serra, com pequenas planuras separadas por escarpas abruptas sem vegetação arbórea e com os afloramentos graníticos formando abundantes e caprichosos estrados.
O seu acesso faz-se por estrada privativa da concessionária de acesso á mina "Salto do Lobo" de que dista de um quilómetro e depois por caminho a pé posto rumo à pirâmide Carris. Dista, portanto, esta mina da cidade de Braga cerca de 65 km donde fica em franca ligação quer por estrada quer por caminho de ferro com todo o País.
Todo o terreno da área do registo é baldio e inculto, destinando-se à pastorícia sobretudo nas lamas.
PONTO DE PARTIDA - Encontra-se definido pelas suas coordenadas planas rectangulares no sistema com origem do castelo de S. Jorge.
GEOLOGIA - Granitos de vários tipos, são as rochas da região. Vimo-los de grão grosso, médio e fino, de duas micas ou só uma delas. Predominam, no entanto, os granitos biotíticos de grão médio e grosso, estes frequentemente porfiróides. Regra geral são granitos róseos, cujo tom varia com a percentagem de feldspatos dessa cor. Alguns autores vêm nesta coloração dos granitos um índice favorável, quási certo, da existência de minerais uraníferos. Infelizmente, na Serra do Gerês ainda não foram identificados e, quanto a nós, supomos que tal regra não seja confirmada nesta região, a não ser por possíveis ocorrencias raras. Aliás não encontramos explicação de qualquer dependência genética entre aqueles minerais (feldspatos róseos e minerais urâniferos).
São nítidos os planos de disjunção sobre duas direcções principais normais entre si: cerca de N-S e E-W.
É de crer, a avaliar pela grande extensão dos afloramentos graníticos e pela sua rudeza da estrutura da serra, a erosão tenha aqui penetrado profundamente. A abundãncia de enormes blocos soltos e arredondados espalhados por quási toda a serra é disso um testemunho. A intensa arenisação representada por grossos grãos de quartzo e feldspatos, filiam-se nos mesmos fenómenos.
Ainda a notória escassez de formações filoneanas, denotando, evidentemente uma fraquíssima acção tectónica no sentido da profundidade, parece sugerir que houve grandes deslassos dos níveis superiores primitivos, rebaixados até ao presente nível topográfico, inicialmente muito afastado do campo daquelas acções.
Um interessantíssimo sistema de filetes, sensivelmente paralelos, mineralizados por wolframite, cassiterite e molibdenite parecem representar os únicos vestígios de jasigos dêste tipo, tem comuna bordadura dêste maciço granítico.
PARTE ALUVIANAR - Resultantes dêste tipo de jazigos são muito vulgares os depósitos aluvianares de apreciável valor. Compreende-se que do desgaste de muitos filetes, bem mineralizados, mesmo sem interesse individual por dispersão (caso mais vulgar) do sistema, resulte um depósito rico.
Explorações da última guerra mundial provaram tal facto, pois houve explorações com rendimento superior a 20 kg/ton nos sítios ricos e rendimento superior a 2 kg/ton no restante da maioria dessas áreas.
Apesar da extensão destas explorações quer pelo primitivismo dos métodos utilizados, quer por carencia de meios e principalmente devido à manifesta desorganização de serviços, cremos que ainda restam apreviáveis áreas cobrindo interessantes depósitos aluvianares.
TRABALHOS - Foram feitos trabalhos de pesquisa suficientes para localizar a área aluvianar e mostrar que esta mina pode ser objecto de concessão provisória.
PLANO DE LAVRA - adapta-se às características do jazigo e está bem elaborado pelo que, o julgamos em condições de merecer Superior aprovação.
Reputamos necessário o capital de 25.000$00 para os trabalhos iniciais da lavra.
O ENGENHEIRO CHEFE DA CIRCUNSCRIÇÃO
assinatura elegível
Fotografia: © Rui C. Barbosa
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