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segunda-feira, 16 de junho de 2008

Escuteiros, Carris e o Parque Nacional da Peneda-Gerês

Carris, 1 de Junho de 2008

Há alguns meses atrás tive a oportunidade de expor aqui um acto de vandalismo praticado nas ruínas das Minas dos Carris por um grupo de pessoas que se diziam pertencer a um movimento escutista nacional, nomeadamente ao Corpo Nacional de Escutas, movimento do qual faço parte desde 1982. Digo "que se diziam pertencer" porque não vi naquelas imagens aquilo a que nós podemos chamar de "Escuteiros". Não, também não me interessa a verdadeira definição de "Escuteiro", sim essa que está a pensar procurar no dicionário para depois me contrapor... Isso não adianta até porque estes comentários são moderados e obviamente que só aqui entram aqueles que eu quero! Tenho dito!

Neste momento o CNE... (não é a Comissão Nacional de Eleições!) só é a maior associação de jovens a nível nacional. Sendo uma associação que tem como um dos seus objectivos a protecção "...das plantas e dos animais" (apesar de haver escuteiros que gostem e apoiem as touradas, mas isso é outra estória) o CNE é um pólo potencial para, juntamente com outras associações de protecção da natureza (onde para este caso incluo grupos de montanhismo e afins), poder colaborar com o Parque Nacional da Peneda-Gerês para a sua protecção e preservação.

No entanto, deixem-me contar aqui algumas situações que no passado me fizeram pensar (sim, porque ainda perco tempo a fazer essa coisa que rareia neste país). Há vários anos iniciei uma série de Campos de Trabalho no parque nacional. Esses campos de trabalho, denominados "Projecto Escutista de Vigilância Florestal do Parque Nacional da Peneda-Gerês" (só pelo nome já merecia uma condecoração!), tinham como objectivo auxiliar o parque nacional nos meses de Verão a combater a verdadeira praga do campismo selvagem, das merendas fora dos locais a elas destinadas e dos fogos florestais. O parque nacional dava-nos um grande apoio logístico e durante 31 dias sentíamo-nos como os verdadeiros "Guardiões do Templo" como na altura o Jornal de Notícias (sim, esse jornal que apoia as touradas... lhéc!) nos chamou. No entanto pude constatar a opinião que muitas pessoas dentro da área do parque nacional (e mesmo a maioria dos funcionários do parque nacional no terreno) tinha sobre os escuteiros... no fundo, eram aqueles quase arruaceiros que só faziam asneiras, destruíam as casas de abrigo, acampavam fora dos locais autorizados e a sua conduta não era uma conduta... de escuteiros. Bom, obviamente que este era só um dos lados da moeda! Havia quem não gostasse pura e simplesmente dos escuteiros e então quando surgiu um projecto de apoio à vigilância florestal, fomos quase um alvo a abater.

Com o passar das semanas de trabalho em campo essas opiniões foram-se alterando (ok, há sempre os velhos do Restelo... mas sobre esses não vou gastar as molas deste teclado...) e a opinião no final era de que os escuteiros podiam ser uma força (de trabalho) útil no parque nacional.

Claro que há escuteiros e escuteiros... Há aqueles que colaboram, ajudam e deixam o mundo um pouco melhor... Há aqueles que só a sua presença é um mero factor de distúrbio. Basta em Carris procurar um pouco e vemos as marcas nas paredes desses valorosos escuteiros...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

8 comentários:

  1. Olá Rui. Presenciei o ano passado em Agosto, aquando da chegada ao Vale da Teixeira, acompanhado da minha mulher e dois filhos, a lagoa mais emblemática do rio da Teixeira, normalmente verde esmeralda, completamente compurscada por espuma que advinha de grupo de escutas que estava por ali a lavar os seus corpos e cabelos...fiquei desolado por ter visto aquilo. Imediatamente mostrei o meu desagrado àquele grupo de adolescentes, que não me parece estarem preparados para acampar no Gerês com maturidade, coisa que já de si não se deve fazer. A espuma foi rio abaixo, mas quem estivesse abaixo ía conhecê-la também.

    Abraço

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  2. Viva Alexandre!

    Ora aí está! Posso-te dizer que eu nunca levo os elementos do meu grupo para a Serra do Gerês sem primeiro informar o PNPG e depois de acatar todas as recomendações que me são dadas.

    Realmente o que foi presenciado mareceu o reparo que foi dado e a sugestão que eu dou quando qualquer pessoa se deparar com algo assim é simplesmente reportar os factos à associação escutista a que os escuteiros pertencem. A situação dos escuteiros a vandalizarem as ruínas de Carris foi reportada à direcção nacional do CNE e o caso acabou por ser resolvido.

    Actos destes não devem acontecer pois acabam por dar má imagem ao movimento.

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  3. A ideia de conjugar os escteiros com a protecção do PNPG é uma óptima ideia que também já me passou muitas vezes pla cabeça, já que o patrulhamento existente não é suficiente e, ano após ano, incêndios e vandalismos sucedem-se. E há uma coisa que não entendo... Sendo este o único PN em PT, pk é k o estado (ou seja quem for que tem essa responsabilidade) não investe mais na sua protecção e manutenção? Os escuteiros são muito bem capazes de cumprir esse objectivo, plo menos no Verão. Esses campos de trabalho que criou duraram apenas um ano? A razão foi falta de apoio do PNPG?

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  4. O estado não investe porque o ambiente simplesmente não é uma prioridade nacional e muito provavelmente o investimento vai ser feito quando o parque nacional já não passar de uma pálida recordação do que era. Quando chegarmos a este estado de coisas então vai-se investir muito dinheiro.

    Os campos de trabalho decorreram entre 1995 e 2001, sendo financiados pelo Instituto Português da Juventude (exceptuando o primeiro que se denominava Pioneiro-Gerês e que foi financiado... por quem nele participou!). O apoio do IPJ terminou quando nos atrasamos ... dois dias a entregar o relatório final e muitas das despesas tiveram de ser suportadas por nós. A partir desta altura tomei a decisão de não os fazer mais pois a burocracia e incompetência de algumas pessoas no IPJ era demais para eu suportar!

    Os escuteiros poderiam ter um papel muito importante no PNPG e em outras áreas protegidas (penso que isso ocorre já em algumas), mas primeiro seria necessário se abrir mentalidades de ambas as partes...

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  5. Sim, concordo que os escuteiros podem dar um apoio fundamental, com alguma formação previa. E é de valorizar todo o trabalho que desenvolveu com os campos e que ainda desenvolve com as minas dos Carris, parabéns.

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  6. Boas!

    Desde já felicito o teu trabalho para salvar carris das mãos de um destino não muito agradável.

    Quanto aos ecuteiros, é como tu dizes, "há escuteiros e escuteiros".
    Não consigo entender no que vai na cabeça destes pseudo-escuteiros, que quando encontram alguma coisa no meio do monte torna-se um objecto de vandalismo. Mas será que só são escuteiros?

    Nalgumas caminhadas que ja fiz fora dos escuteiros tambem já presenciei a vedadeiros actos de vandalismo cometidos por familias inteiras, que poderao ser denominados por domingueiros. Na minha opiniao sao estes os principais vandalos de todo o patrimonio cultural e natural do nosso país.

    canhotas

    Horácio

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  7. Viva Horácio!

    SEm dúvida que tens razão, há escuteiros e escuteiros. E obviamente não são só os escuteiros que praticam esses actos, são no entanto os que ficam mais expostos devido à natureza do próprio movimento escutista (eu não concebo um escuteiro amamte de touradas, mas que os há isso há... sim como as bruxas!!).

    O típico domingueiro é o predador mais selvagem que podemos encontrar nos nossos espaços naturais. Têm todo o direito a lá ir, mas alguém lhes tem de ensinar que o local para onde vão não é propriedade deles.

    Em casos assim não tenho qualquer dúvida em denunciar esta gente às autoridades (GNR, SEPNA, PSP, PNPG, seja quem for)... Agora caso distinto é o que as autoridades farão. Este é dos casos em que a identidade pessoal deixaria de ser um direiro adquirido... essas pessoas que destroem deveriam estar proibidas de frequentar esses locais com um perigo de só termos as fotografias para mais tarde recordar...

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