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quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

...inferno de gelo.


Carris, 22 de Fevereiro de 2004

Faltava pouco para chegar, mas parecia que faltava o mundo todo para percorrer. A respiração tornara-se demasiado ofegante e o frio apertava o crânio numa dor intensa... A neve, acabada de cair, dificultava os nossos passos que se enterravem até à altura de uma perna... era difícil caminhar.

Encontrava-me só no meio daquele planalto, o peso da mochila, imenso, a puxar-me para baixo... Ao longe a luz ténue das lanternas dançava frenéticamente por entre o vento que empurrava as nuves... corriam rápidas, apressadas como que a fugir de algo que vinha ao nosso encontro...

...são estas situações que por vezes nos fazem pensar se fizemos bem subir Carrs naquele dia que se tinha tornado noite, uma noite escura com o vento feroz que nos trazia os gritos, as lamentações... do inferno de gelo pelo qual caminhavamos.

Faltava pouco para chegar, mas parecia que faltava o mundo todo para percorrer. É esta a nossa maneira de nos sentirmos vivos. É esta a nossa maneira de compartilhar os momentos mais difícieis... sem os outros não chegaria ao fim... sem um ou outro não chegaria ao fim...

...e o frio, que apertava o crânio numa dor intensa...

Fotografia © Rui C. Barbosa

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