sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Paisagens da Peneda-Gerês (CCLXXXV) - Ponte e moinho da Assureira


Castro Laboreiro, Serra da Peneda, surpreende-nos com as suas paisagens bucólicas que se tornam em cenários de fantasia nos dias de Outono. Um belo exemplo é a Ponte e o moinho da Assureira.

No panorama das pontes históricas nacionais, Castro Laboreiro possui um dos mais homogéneos e interessantes núcleos, cuja relevância no âmbito nacional é ainda reforçada pelo facto de quase todas elas provarem como a Idade Média reutilizou (e, em tantos casos, reformulou) antigas estruturas de passagem de época romana, fazendo com que algumas apresentem um aspecto misto, fruto de duas fases distintas de utilização, como provou Aníbal Rodrigues precisamente para este conjunto do Alto Minho interior (RODRIGUES, 1985).

Na origem, Assureira é uma das muitas inverneiras da região, locais relativamente abrigados e a mais baixa altitude ("em torno dos 700-800 metros"), onde as populações passavam os Invernos, de acordo com a habitação sazonal que caracterizava esta zona (LIMA, 1996, p.11). Desde muito cedo, um rudimentar habitat foi concentrado neste local, ponto privilegiado ainda pela proximidade do rio de Castro Laboreiro e pelas naturais condições de passagem.

Na época romana, foi aqui que se edificou uma das várias pontes da região, cuja estrutura sobreviveu, em parte, até aos dias de hoje. A análise efectuada por Aníbal Rodrigues é clara quanto à sobrevivência de alguns elementos deste período, designadamente na sua metade nascente, como as lages de grandes e regulares dimensões e a feitura do arco, de volta perfeita, com aduelas "com o paramento exterior almofadado e de uma perfeição extraordinária" (RODRIGUES, 1985, pp.19-20).

Cerca de mil anos depois, nos primeiros séculos da nacionalidade, a ponte foi objecto de uma ampla reforma, que se pautou pelo alargamento do tabuleiro, muito possivelmente com a intenção de dar "passagem a toda a espécie de carros de tracção animal" (RODRIGUES, 1985, p.20). É desta forma que compreendemos a grande diferença de aparelho e de sistema construtivo entre as metades nascente e ponte da estrutura. Esta última, compõe-se de um lajeado de pedras miúdas e dispostas um tanto anarquicamente, sendo as aduelas irregulares, sintomas de uma profunda alteração, que pretendeu alargar o tabuleiro para o dobro da sua extensão (3,30m na actualidade) (RIBEIRO, 1998, p.170).

Esta radical transformação prova, acima de tudo, a manutenção da ponte como elemento fundamental para as populações, ao longo de séculos, servindo um núcleo de povoamento que constantemente a atravessou nas suas actividades ganadeiras e nas movimentações sazonais entre inverneiras e brandas.

Prova disto mesmo são os restantes elementos edificados que se relacionam com a ponte. Bem perto, para nascente, aproveitando o caudaloso leito desta secção do rio, construiu-se um moinho, em época incerta, mas que se poderá situar na Idade Moderna. Mais antigo é um lintel de janela, de arco contracurvado escavado, decorado "com uma vieira e duas estrelas", integrado na capela de São Brás (LIMA, 1996, p.19). Este pequeno templo é, hoje, uma construção incaracterística, com abundante material reutilizado e uma parte superior que é, claramente, um acrescento recente, em cimento, que corrompeu toda a estrutura e originalidade anteriores. No entanto, a integração desta padieira de época manuelina prova como, desde essa altura, aqui existiu um edifício de cunho mais cuidado, provavelmente de carácter religioso, que a actual capela veio substituir.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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