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segunda-feira, 31 de maio de 2021

Um dólmen (cista) na Lomba de Pau?

 


Não é a primeira vez que esta estrutura me levanta interrogações quando passo pela Lomba de Pau, Serra do Gerês, e a disposição das pedras (após uma observação atenta) leva-me a crer que se possa tratar de um monumento que (penso eu) não tenha sido estudado até aqui.

O texto a seguir é muito especulativo e fruto de uma imaginação que por vezes entorpece a análise crítica. Assim, as considerações feitas devem ser lidas e absorvidas com uma «pitada de sal».

Ora, a Lomba de Pau é uma área que divida numa zona mais húmida, que alberga uma turfeira, e numa zona de pasto, encontrando-se perto do marco triangulado de mesmo nome. Está localizada a caminho do Prado do Conho vindo da Chã da Gralheira, sendo limitada a Norte pela Costa de Covilhão e Vale da Lomba de Pau, e a Sul pelo extremo das Torrinheiras.

O curral não se encontra limitado por um muro de pedra solta, mas está servido por um forno pastoril cujas pedras foram consolidadas por cimento (possivelmente já nos anos 50 do século passado).

Ora, a construção que eu penso poder tratar-se não de um abrigo pastoril, está a escassos metros do forno pastoril e caracteriza-se por uma planta rectangular cujos limites são compostos por pedras de consideráveis dimensões. A disposição desta e o facto de na sua extremidade Norte haver uma pedra que parece ter sido sustentada, faz-nos lembrar a composição de um dólmen ou uma câmara dolménica (que geralmente era construída com grandes pedras verticais que sustentam uma grande laje horizontal de cobertura).


O conjunto em questão, de pequenas dimensões, encontra-se no que parece ser um plano ligeiramente elevado que dá a entender que em tempos poderá ter estado todo coberto pelo solo e que pode também implicar que o seu interior tenha sido mais profundo.

Identificação dos possíveis elementos da estrutura

Perímetro da estrutura

Assim, e sendo demasiado pequeno para ser considerado um dólmen, poderemos estar na presença de uma cista que era um monumento de tradição megalítica funerário, sendo basicamente formado por quatro lajes, colocadas verticalmente formando um retângulo. Sobre elas costumava ser colocada outra pedra horizontal a jeito de tampa. No interior eram colocados os restos mortuários. Em geral a conservação das cistas é má, costumando faltar a tampa e mesmo alguma das lajes laterais.

E pronto, já estava para escrever sobre o assunto há vários meses e aqui fica o que o meu parco conhecimento e olhar mais atento (e certamente muita imaginação) me levam a crer tratar-se de algo para lá dos restos de um «simples» abrigo pastoril. No fundo, podem mesmo ser os restos do abrigo pastoril original, mas fica a dica...

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (CML) - Nuvens de tormenta

 


O Cabeço de Lavadouros e a Roca d'Arte, Serra do Gerês, surgem como primeiro plano para as nuvens de tormenta.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

O BES e a colaboração Nazi em Portugal

 


A história da colaboração do Governo de Oliveira Salazar com o regime de Adolf Hitler está bem estudada nos anais da nossa História do Século XX.

As próprias Minas dos Carris faziam parte do conjunto de explorações mineiras das quais se retirava o volfrâmio que era utilizado na máquina de guerra da Alemanha Nazi, com o país a receber carregamentos de ouro e outros pagamentos pelo vil metal.

Ricardo E. Santo e Oliveira de Salazar «procederam» à destruição de muita documentação relevante relacionada com o financiamento Nazi já antes de Setembro de 1947. Porém, os serviços secretos britânicos e franceses conservaram muita documentação que não foi destruída então, e que provam esta relação entre o Banco Espírito Santo e o financiamento por parte da Alemanha de Hitler.

De facto, o London Times chegou a publicar um processo de tribunal que clamava pela prisão de Ricardo E. Salgado por parte dos franceses, com uma recompensa de 25.000.000$00. Na altura, era também suspeito de compra e comercio de peças de arte que haviam sido roubadas durante a ocupação Nazi dos vários países europeus.

A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., era uma sociedade comercial por quotas com sede social na cidade do Porto e que tinha como sócio gerente Hans Carl Walter Thobe.

Foi a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. que a partir de meados da Segunda Guerra Mundial impulsionou o aproveitamento das concessões mineiras em Carris. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., de Walter Thobe, está na Sociedade Minero-Silvícola (empresa propriedade da Alemanha Nazi através da denominada holding Rowak/Sofindus) passando a ser sócio gerente desta a partir de 1943. Segundo Gilberto Gomes, a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. fazia parte de um grupo  de companhias mineiras cuja produção estava consignada à Alemanha. Ainda segundo João Paulo Avelãs Nunes, na sua obra “O Estado Novo e o Volfrâmio (1933-1947)”, a Minero-Silvícola, Lda. era “propriedade do Gabinete do Plano Quadrienal e do Ministério da Economia do Terceiro Reich através da Rowak (de Berlim) e da Sofindus (de Madrid), dedicando-se à produção e venda para a Alemanha de matérias primas, tais como o estanho e o volfrâmio. A sociedade fora criada em Lisboa a 17 de Dezembro de 1938, transformando-se posteriormente numa “…entidade gestora e coordenadora da actividade de, pelo menos, 12 sociedades com explorações ou com oficinas de tratamento de minérios em Portugal continental.” Citando ainda João Avelãs Nunes “nos anos de 1941 e 1942 a holding Minero-Silvícola, Lda. adquiriu, assim, quotas ou lotes de acções maioritárias na Companhia Mineira das Beiras, Lda.; Empresa Mineira de Folgar, Lda.; Fomento Nacional da Industria, SARL,; Mata da Rainha, Lda.,; Sociedade Mineira dos Castelos, Lda.,; Sociedade Mineira do Couto, Lda.,; Sociedade Mineira de Nelas, Lda.; Tungsténia, Lda.; e Volfrestânio, Lda. (ex-Schwarz & Morão, Lda.).”

O papel de Walter Thobe seria fulcral no desenvolvimento das concessões nos Carris, “participando na criação das condições para o desenvolvimento e exploração da Mina dos Carris, tais como a difícil abertura e reacondicionamento do estradão de acesso, desde a Portela do Homem, até ao centro nuclear da mina, a concessão do Salto do Lobo, a construção dos edifícios sociais e industriais, e a instalação e posta em marcha dos equipamentos para as operações de extracção e tratamento de minério.” 

O documento em cima mostra uma relação dos pagamentos feitos por parte da Alemanha a várias pessoas e entidades já nos meses finais da Segunda Guerra Mundial. A Sociedade Mineira Lisbonense era uma das empresas mineiras ligadas à Alemanha.

domingo, 30 de maio de 2021

Paisagens da Peneda-Gerês (CMXLIX) - Senhor das alturas

 


No topo das Albas dominando a paisagem, o verdadeiro Senhor das alturas na Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sábado, 29 de maio de 2021

Serra do Gerês - Pela Costa da Sabrosa aos Prados da Messe

 


Os Prados da Messe foram há já alguns anos um dos primeiros locais que visitei na Serra do Gerês. Naquela altura, as caminhadas para lá tinham um sabor a grandes jornadas pela montanha depois de uma viagem de horas desde Braga que tornava a serra como algo muito longínquo.

De facto, a viagem pela estrada nacional nas velhas camionetas da Empresa Hoteleira do Gerês era, em si mesma, já uma aventura e quando começávamos a ver os recortes da serra ao descer para Rio Caldo vindos de Sta Maria de Bouro, crescia em nós o borboletar de algo que sabíamos ia ser muito especial... para outros, era mesmo só o enjoo...

A Serra do Gerês são montanhas de emoções que escondem, ainda hoje, segredos que se vão revelando a cada caminhada. Uns são segredos que já os teremos visto em ocasiões anteriores, outros - efémeros - vão-se revelando numa paisagem de uma cabra a dominar o cenário no seu trono no alto das Albas. E são estes segredos, cenários e paisagens que nos fazem querer lá voltar de novo, e de novo, e de novo!

Iniciamos a caminhada, como muitas outras, na Portela de Leonte junto da velha casa florestal. Construída na primeira metade do Século XX e hoje abandonada aos elementos, esta casa é um exemplo da presença dos Serviços Florestais que tomaram posse da serra em 1888. Com o ar fresco da manhã, decidi alterar o sentido da caminhada e em vez de enveredar directamente para o Vidoal, decido prosseguir na direcção da Albergaria, passando pelo Ranhado.


Chegando à velha casamata da Albergaria, iniciei a «longa» subida pela Costa de Sabrosa. Esta é uma subida que exigem um esforço considerável e feita de tarde (com o Sol a incidir) torna-se uma descida pesada no final da qual restam 3 km até Leonte.

A subida da Costa de Sabrosa leva-nos a percorrer o Vale do Rio do Forno até chegarmos à Lameira das Ruivas. Pelo caminho vamos observando a beleza das paredes alcantiladas do Pé de Medela e as escarpas do Cabeço do Porto do Corno Godinho que se vão alterando numa metamorfose paisagística. Lá no fundo, o Rio do Forno vai-se fazendo escutar por entre um denso e impenetrável arvoredo. São estes vales fechados que escondem muita da riqueza do nosso Parque Nacional.

A chegada à Lameira das Ruivas assinala o final da subida da Costa de Sabrosa, mas ainda faltam vencer alguns (pequenos) declives até começar a descer para os Prados da Messe. Nesta parte mais «plana» do percurso já avistamos o Cantarelo com o seu Cabeço (esquerda) e a Lomba do Cantarelo, ainda escondida. Aos poucos, vamos também começar a ver a alguma distância o carvalhal dos Prados Caveiros. Ao longe, as serranias do Parque Nacional também se assumem em bicos de pés, com a Louriça a marcar o topo da Serra Amarela e os contornos da imensa Soajo e da Serra da Peneda a marcar o horizonte.


Continuando a ladear a Lameira das Ruivas, entramos numa pequena depressão antes de iniciar a curta subida para a Lomba de Burro e depois descer para os verdejantes Prados da Messe. A vezeira ainda não chegou a estas paragens, se bem que as cabanas de pastoreio já estão preparadas para ela. Recentemente queimados, os prados vão retomando o seu aspecto verdejante que, contrastando com o rude cinza do granito, vai tornando o entorno num cenário bucólico.

Da paisagem dos Prados da Messe ressaltam três pormenores de especial, sendo os próprios prados em si que se alongam para o Curral da Pedra, as Albas à sombra das quais os prados adormecem e a velha ruína da antiga casa dos Serviços Florestais. Os Prados da Messe encontravam-se foram do limite do perímetro florestal do Gerês, mas no entanto albergavam este edifício que foi construído no Verão de 1908, segundo Tude de Sousa no seu livro "Serra do Gerez - Estudos, Aspectos, Paizagens". As suas pedras foram utilizadas para alargar o abrigo pastoril ali existente.

Deixando os Prados da Messe segue-se caminho para o Porto de Vacas e após atravessar o ribeiro, inicia-se a subida para o icónico Prado do Conho com o seu abrigo pastoril. O nome do prado advém da grande rocha que ali existe ('conho'). Aqui, já se vislumbra o profundo vale de Fechinhas (Fichinhas) bem como os altos de Porta Ruivas, Borrageiros e Mourisca. A caminhada irá continuar em direcção à Lomba de Pau com o seu curral aberto e forno pastoril, prosseguindo depois pelas Lamas de Borrageiro e Gralheiras, para depois descer para a Chã da Fonte após um vislumbre o Arco do Borrageiro.

Passando a Chã da Fonte descemos para o colo da Preza, uma verdadeira varanda panorâmica sobre o Vale de Teixeira / Cambalhão, e prosseguimos para o Vidoal para apreciar os magníficos escarpados da Roca d'Arte, Lavadouros, Cântaros, Pé de Medela e Carris de Maceira, tendo o Pé de Cabril em contra-luz. O fotogénico Prado do Vidoal está à sombra do Outeiro Moço e é a última paragem antes de se iniciar a descida final para a Portela de Leonte.

Ficam algumas fotografias do dia...




























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Paisagens da Peneda-Gerês (CMXLVIII) - Trilhos castrejos no Carvalhal do Barreiro

 


A paisagem invernal dos trilhos castrejos no Carvalhal do Barreiro, Serra da Peneda.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)