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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Trilhos seculares - De Leonte ao Camalhão


...o dia surgiu frio e as nuvens encobriam os cabeços que se adornavam de tons plumbeos. Depois de um pequeno-almoço à sombra ténue da Casa Florestal de Leonte, o caminho iniciava-se por entre as folhas carregadas de orvalho que me humedeciam as botas.

Aconcheguei a pequena mochila às costas à medida que os pulmões iam se enchendo com o ar frio da manhã carregada de um nevoeiro que lentamente ia subindo o vale. O caminho serpenteia costa acima em direcção às primeiras pastagens no Vidoal. De quando em vez, a montanha ia-se espreitando por entre os farrapos de nuvens que se contorciam de encontro às paredes rochosas. Os dias anteriores haviam sido de um calor infernal, mequiavelicamente insuportável. Porém, a caminhada havia sido abençoada por um Sol escondido e uma brisa fresca pela manhã.

Depois de passar pela Chã do Carvalho e saltitando por entre as poças que se formaram nos sulcos graníticos, vislumbrei o píncaro do Pé de Cabril imponente acima do mar de nuvens. A chegada ao Vidoal foi embelezada por um cenário que fazia lembrar o despedaçar das ondas numa praia rochosa quando as nuvens tentavam cavalgar a imensa parede de Lavadouros. Maceira e toda a Albergaria estavam submersas numa manhã de nevoeiro.

Depois da incerteza sobre qual caminho seguir, optei por ladear o Outeiro Moço em direcção à Preza e ali estanquei por longos minutos escutando o vento e olhando a distância para Teixeira. O mar de nuvens tentava por vezes ultrapassar as alturas do Pé de Salgueiro, para logo regredir e tentar de novo. Prossegui o caminho passando pelo pequeno Curral do Junco e em breve estava por entre os carvalhos seculares do Camalhão (Cambalhão). Ali, estendi a toalha e descansei por debaixo das frondosas folhagens que balançavam ao vento. Por momentos, entrei no mundo dos sonhos e caminhei por outras paragens, outras montanhas. Imaginei-te ali...

Deixando o Camalhão para trás, prossegui em direcção ao Curral da Raiz com os seus imponentes e frondosos carvalhos e desci pela Costa da Cantina até atingir a estrada, seguindo depois de regresso à Portela de Leonte.

Álbum de fotos aqui.














Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

M.I.L.a.G.R.E. - Mandalas, Ioga e Land art no Gerês, Remetidos em Excursão


Adiado devido às más condições meteorológicas, o próximo M.I.L.a.G.R.E. terá lugar a 2 de Julho.

M.I.L.a.G.R.E. - Mandalas, Ioga e Land art no Gerês, Remetidos em Excursão

Excursão com partida da cidade do Porto, com o objectivo de criar arte com materiais naturais na bacia hidrográfica de Vilarinho da Furna, em pleno parque nacional Peneda-Gerês, com a condução de Jaime Filipe (página «J'aime Land Art»). 

No programa, além das actividades artísticas da criação de Mandalas e de Land Art, consta ainda uma aula de ioga, de novo com a Luzia e o Daniel, e um almoço/piquenique de convívio.

As inscrições têm como data limite o dia 30 de Junho, até às 23:59 horas.

Informações e reservas podem ser feitas a partir dos seguintes contactos: 965085864 e jaimelandart@gmail.com

Fotografia: Trip Advisor

A Ponte do Diabo - Dia 1 de Julho


No dia 1 de Julho o encontro está marcado com o Mafarrico na sua Ponte.




Paisagens da Peneda-Gerês (CXCVIII) - Minas dos Carris


Paisagem invernal das Minas dos Carris, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Duas novas equipas de sapadores para proteger Parque Nacional



O território de Soajo e as restantes freguesias do concelho que pertencem ao Parque Nacional vão ser contemplados com duas novas brigadas do Corpo Nacional de Agentes Florestais (CNAF), constituídas por cinco elementos cada (há representação soajeira nessas equipas). Também os concelhos de Ponte da Barca, Melgaço, Terras de Bouro e Montalegre serão reforçados com duas brigadas CNAF. As viaturas e as equipas vão ser apresentadas no próximo dia 30 de junho no Mezio.


Construção da estrada mineira para as Minas dos Carris


A fotografia em cima, possivelmente datada de 1943, mostra os trabalhos finais de abertura da estrada mineira à chegada ao topo da Corga da Carvoeirinha já perto do acampamento mineiro da então Mina do Salto do Lobo, a principal concessão mineira das Minas dos Carris.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 27 de junho de 2017

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCVII) - S. João do Campo (Campo do Gerês)


Campo do Gerês, antiga paróquia medieval, padroado real e, talvez pelo seu orago protector S. João Baptista, foi considerada por clássicos como comenda dos Cavaleiros do Templo. Nos tempos medievos, integrou-se S. João de Campo na circunscrição administrativa da “Terra de Bouro”, que segundo as Inquirições de 1220 aglutinava cerca de 70 freguesias.Trata-se de um território de importância histórica constatada pela sua posição excêntrica e raiana, pelas suas tradições comunitárias arcaicas e pelas suas antiguidades arqueológicas.

Situada na margem esquerda do rio Homem, em plena Serra do Gerês e no extremo NE do concelho de Terras de Bouro, confronta com a não menos antiga paróquia de Covide, com o concelho de Ponte da Barca e com a vizinha Galiza. Templário ou não, é povoado antigo com certeza porquanto são inúmeros os achados que testemunham uma arcaica, persistente e contínua ocupação humana do seu território, desde tempos pré-históricos até hoje, como evidenciam os túmulos megalíticos, também conhecidos por mamoas da Bouça da Chã, de Fundevila e da Bouça do Cruzeiro, ou como testemunha o Castro de Calcedónia.Instalado na vertente sudoeste do relevo da Picota, a uma altitude média de 630m, o lugar do Assento, principal núcleo populacional da freguesia de Campo, apesar dos excelentes exemplares de arquitectura rural de montanha que ainda exibe, encontra-se já bastante alterado na sua malha original.

Iniciou-se aqui, nas décadas de setenta e oitenta, como aliás no resto do país, a vaga de construção menos tradicional, constituindo uma alteração sentida quer ao nível dos materiais, estrutura e volumetria, quer na implantação dos edifícios, extravasando estes, por vezes, os limites interiores do tecido do povoado, ocupando lenta, mas inabalavelmente, terrenos de cultivo ou bosquetes marginais à estrada. Aqui e ali, ainda se descortinam, por entre os arruados estreitos, alguns canastros com as suas cruzes cimeiras, ou algumas varandas com madeiramentos costumeiros, abertas ao logradouro.

A Igreja matriz de Campo do Gerês, que teria sido edificada com materiais remanescentes do templo anterior, apresenta sobre a sóbria fachada, ao centro, um pequeno campanário e nas empenas tem as cruzes floreteadas da via sacra. Dentro, além do altar-mor, tem os colaterais de Nossa Senhora do Rosário, do Coração de Jesus, de Jesus Crucificado e o de Nossa Senhora de Lurdes.


Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCVI) - Cabeço de Lavadouros


O Cabeço de Lavadouros, Serra do Gerês, emerge do nevoeiro.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCV) - Natureza morta


A solidão de uma Natureza morta a caminho do Vidoal, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Festa de S. João da Fraga em Pitões das Júnias


A festa de S. João da Fraga em Pitões das Júnias terá lugar a 25 de Junho de 2017.

domingo, 18 de junho de 2017

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCIV) - A saudade e o tempo em Castro Laboreiro


A saudade e o tempo que devagar escorre são características que nos invadem a alma em Castro Laboreiro, Serra da Peneda.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sábado, 17 de junho de 2017

Vigilância e Prevenção de Incêndios Florestais no PNPG - 2017


Pelo 7º ano a AMO Portugal promove a iniciativa de voluntariado ambiental para mitigar o numero de ocorrências de incêndios florestais do PNPG.

Voluntários irão percorrer os trilhos do Parque Nacional em sintonia com as instituições ligadas à prevenção / vigilância e combate a incêndios florestais entre os dias 1 de Julho e 30 de Setembro. Desde já agradecemos a todos aqueles desejarem contribuir voluntariamente para zelar pelo património natural do nosso único Parque Nacional.

Garantimos estadia gratuita nos parques de campismo nossos parceiros (Cerdeira - Campo do Gerês, Vidoeiro - Gerês, Lamas de Mouro - Castro Laboreiro) aos voluntários seleccionados da nossa base de inscrições. Todos os voluntários poderão participar nesta iniciativa num mínimo de 3 dias e um máximo de 30, terão que vir munidos de tenda de campismo e garantirem a sua própria alimentação. Proporcionamos mapas e orientações dos percursos a percorrer.

Qualquer dúvida deverão contactar Carlos Evaristo (Coordenador Local Parque Nacional Peneda-Gerês).


Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

As problemáticas volframíticas na Mina de Borrageiros (II)


(A primeira parte deste artigo pode ser encontrada aqui)

Uma nova visita a esta mina terá lugar a 23 de Janeiro de 1956 e nela se verifica que todos os trabalhos estavam paralisados, encontrando-se na mina somente António Freitas da Silva que referiu que os trabalhos haviam sido suspensos desde 22 de Setembro de 1955, altura da última visita dos elementos da Circunscrição Mineira do Norte. Com este facto, e mais uma vez comparando os dados estatísticos que haviam sido entretanto enviados pela concessionária e que referiam duas expedições de 800 kg e de 3.200 kg de volframite em Outubro e Novembro de 1955, os funcionários da circunscrição chegavam à conclusão que as guias de trânsito utilizadas nessas expedições (n.º 33324 e n.º 34835), não se referiam a minério extraído da Mina de Borrageiros.

Desconhece-se de facto em que data a mina de Borrageiros é efectivamente abandonada pela Azeredo & Osório Lda. ou quais terão sido as consequências de tantas irregularidades cometidas ao longo de vários anos. Possivelmente afundada em dívidas, a empresa acabaria por ser liquidada e a concessão mineira penhorada. Após anos de abandono a concessão mineira de Borrageiros vai ficar na posse da empresa Miranda & Chaves, Lda. através do alvará de transmissão n.º 5910 publicado no Diário do Governo a 23 de Julho de 1960. A empresa havia arrematado a 12 de Janeiro em hasta pública no Tribunal de Montalegre, a compra da concessão que se encontrava penhorada devido às dívidas da empresa Azeredo & Osório Lda. 

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 16 de junho de 2017

As problemáticas volframíticas na Mina de Borrageiros (I)


A 7 de Janeiro de 1954 a Direcção-Geral de Minas recebe uma solicitação por parte do Dr. Fernando Campos, do Porto, onde questiona sobre a situação da Mina de Borrageiros. A resposta surge a 12 de Janeiro, com a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos a indicar que a referida mina se encontra atribuída à firma Azeredo & Osório Lda. No mês seguinte o Chefe da Secção de Finanças do Concelho de Montalegre solicita o registo da penhora da Mina de Borrageiros devido ao facto de não terem sido pagos os impostos mineiros entre 1950 e 1952 na importância de 1.000$00. O auto de penhora é datado de 15 de Fevereiro e ao averbamento do auto no processo da mina é feito a 22 de Fevereiro.

Em 1955 os grandes trabalhos mineiros na Serra do Gerês desenrolavam-se nas Minas dos Carris. Os trabalhos na Minas de Borrageiros pareciam limitados a trabalhos de extracção muito rudimentares executados por um número reduzido de homens. Testemunho disto é a visita que foi realizada a 5 de Setembro e que resultaria num relatório que levaria à aplicação de uma nova sanção à empresa Azeredo & Osório Lda. A quando da visita à mina, o sistema filoneano principal estava explorado em extensão considerável através de desmontes a céu aberto e com profundidades que variavam entre os 6 metros e os 10 metros. Até então haviam sido iniciados dois poços, estando um deles inundado e o outro sendo utilizado. Este tinha uma profundidade de 20 metros e comunicava com uma travessa em flanco da encosta com cerca de 90 metros. Os trabalhos desenrolavam-se nesta parte da concessão mineira com o intuito de procurar prováveis filões paralelos ao sistema principal. Estes trabalhos eram executados por quatro homens liderados pelo encarregado dos trabalhos, António Freitas da Silva, funcionário da empresa desde Abril de 1955.


Segundo o relatório de visita à mina elaborado a 23 de Setembro, o número de homens que lá trabalhavam seria ligeiramente superior, “disse-nos esse senhor trabalharem na mina, de há 15 dias para cá somente 8 homens, dois dos quais estão presentemente doentes em suas casas. Facultou-nos o apontamento das folhas de férias, assunto que segundo informou está a ser regularizado em Montalegre dizendo-nos ainda que há, relativamente, pouco tempo a mina havia sido visitada por ‘fiscais do trabalho’” O relatório continua, referindo que “interrogado sobre as produções e expedições do minério, disse-nos que calcula a produção, de Abril para cá em cerca de 700 kg de volframite, dos quais 600 aproximadamente foram expeditos, acompanhados do ‘seu patrão’ Sr. Manuel Azeredo, que trouxe guias de trânsito, tendo-as preenchido nessa altura. Esclareceu ainda ser natural que anteriormente à sua vinda para a mina, isto é, a meados de Abril p. p. tenha havido maiores saídas de minérios, visto o Sr. Manuel Azeredo lhe ter dito, em princípios do mês de Agosto p. p., que se lhe perguntassem quais as quantidades de minérios saídos, podia informar terem sido cerca de 4.000 kg.”

Os mapas de estatística mensal referentes a esta concessão mineira mostram que as produções de volframite entre Maio e Agosto de 1955 foram, respectivamente, de 400 kg, 450 kg, 110 kg e 3.280 kg, sendo em Agosto ainda expedidos 4.100 kg de mistos de volframite. Estes foram acompanhados pela guia de trânsito 33098 cujos talões não selados dariam entrada na Circunscrição Mineira do Norte a 27 de Agosto e a 16 de Setembro. Segundo consta desses talões, os minérios foram enviados para Joaquim Alves Barbosa seguindo através das Lamas de Homem pelo Vale do Homem para as Caldas do Gerês e daqui para a Trofa passando por Braga e Famalicão.

De facto, os trabalhos mineiros observados pelos elementos da Circunscrição Mineira do Norte e os dados recebidos naquela circunscrição, não pareciam corresponder. Assim, o relatório concluía “admitindo como exactas as produções indicadas pelo concessionário nos mapas estatísticos dos meses de Maio, Junho e Julho p. p. e ainda as declarações feitas pelo encarregado António Freitas da Silva, pode afirmar-se que a guia de trânsito n.º 33098 não cobriu minério da mina Borrageiros. A concessionária Azeredo & Osório Lda. está mais uma vez incursa no § 1 do art. 1º do decreto lei n.º 31.635 de 12 de Novembro de 1941, pois segundo consta do processo da mina Borrageiros já em Março de 1948 foi proposta a multa de 20.000$00 por análogo motivo, isto é, uso duma guia para minério não proveniente da concessão para que tinha sido distribuída.” Apesar da empresa mineira ter sido já por duas vezes autuada devido à utilização ilegal de guias para o transporte de minério de outras concessões, um novo processo de autuação é despoletado pela mesma razão sendo proposta a 6 de Outubro de 1955 a aplicação de uma multa de 30.000$00. Esta multa surge devido à utilização da guia 33.098 “para cobrir minérios de outras procedências, estranhas a esta mina.”  Esta multa seria paga a 26 de Novembro em Montalegre após a empresa referir não ter recebido qualquer comunicação por parte da Circunscrição Mineira do Norte devido ao facto de a correspondência ter ficado retida em Cabril ou se ter extraviado na serra, pois “as comunicações são difíceis e o pessoal nada firme e cada passo desaparece com a correspondência e o mais.” Um documento da Circunscrição Mineira do Norte refere que à altura da imposição da terceira multa não havia registos da aplicação e do pagamento das multas anteriores.

Texto adaptado do livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa (Dezembro de 2013)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCIII) - Ponte Velha de Castro Laboreiro (II)


A Ponte Velha de Castro Laboreiro, Serra da Peneda, servia como ponto de passagem do Rio Laboreiro para aqueles que vindo do Rodeiro e dos Portos, seguia para o castelo.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Relembrando os procedimentos para solicitar autorização para actividades de visitação no PNPG


Este artigo é uma reposição de um texto já anteriormente publicado.

O pedido de autorização para a realização de actividades de visitação é uma decisão que deve caber a cada um de nós sabendo de antemão que deveremos percorrer nas nossas actividades a Zona de Protecção Total. De sublinhar um aspecto importante: em caso de seguros, o não pedido de autorização pode ser um meio para que o seguro se descarte no caso da ocorrência de algum sinistro numa zona na qual essa autorização é necessária! A informação sobre estas zonas pode ser obtida aqui, consultando o Diário da República aqui ou telefonando (253 203 480) para o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O pedido de autorização deve ser feito por correio normal ou via correio electrónico para pnpg@icnf.pt. No pedido deverá conter as características da actividade que se pretende realizar: hora de início, hora prevista de fim, n.º de participantes e um ficheiro kml contendo o trajecto previsto do percurso, além do nome completo, contacto telefónico e morada para envio do original da autorização.

O Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês e as actividades de montanha

Para muitos são óbvias e em parte legítimas as interrogações sobre as actividades de montanha que podem ser realizadas no Parque Nacional da Peneda-Gerês à luz do seu Plano de Ordenamento. Este, no âmbito desta problemática, estabelece uma série de regras tendo por base as especificidades de cada zona de protecção.

Não pretendo aqui discutir estas especificidades e a forma como elas foram estabelecidas. Não faz parte do âmbito da minha formação e acredito que elas foram estabelecidas de forma a reflectir a importância de cada local em termos de preservação da sua fauna e flora, e da sua relação com o homem.

Também não pretendo aqui discutir a relação entre este plano de ordenamento e as populações locais. Vou-me concentrar na relação entre o plano de ordenamento (e por consequência o Parque Nacional) e os visitantes, nomeadamente aqueles que realizam actividades de visitação que são designadas por "caminhadas", "pedestrianismo", "travessias", "autonomias" (mesmo levando tudo de casa!), etc. (ficam de fora as actividades tais como a escalada, o canyonning, btt, etc.).

Ora, antes de analisar per si o que nos diz o plano de ordenamento em relação a este assunto (caminhadas, etc.), vamos definir uma linha de fundo no que diz respeito ao comportamento de muitos daqueles que caminham e fazem as suas actividades de visitação no Parque Nacional da Peneda-Gerês. De forma geral, este comportamento baseia-se numa violação (às vezes por dolo) de todas as regras estabelecidas, mas curiosamente o comportamento é totalmente diferente noutras áreas protegidas ou montanhas no estrangeiro. Este comportamento verifica-se em várias áreas da nossa vida. Quantos de nós não excedem de forma descarada a velocidade nas nossas auto-estradas e em Espanha, por exemplo, raramente ultrapassamos os 120 km/h? Quantos de nós não respeitam religiosamente os percursos nas áreas protegidas estrangeiras, mas caminhamos a corta-mato nas áreas protegidas nacionais? De forma geral, seguimos as regras «lá fora», mas «cá dentro» olhamos para o lado, fazemos ouvidos de mercador e ignoramos o que devemos fazer para cumprir regulamentos.

O que é o nosso Parque Nacional? Este foi criado a partir de uma série de ideias que surgiram nos anos 50 e 60 do século XX, sendo também visto como a contribuição portuguesa para o Ano Europeu da Conservação da Natureza. O nosso parque nacional foi inaugurado a 11 de Outubro de 1970 com a realização de uma sessão solene na Portela de Leonte onde nesse dia foi descerrada uma lápide que deveria perpetuar essa efeméride. Na altura foi dito que o parque deveria constituir "... uma escola e um símbolo, onde se aprenda, na contemplação das suas belezas, quanto respeito deve merecer a preservação dos recursos naturais, de transcendente significado para o futuro do homem e da própria civilização."

O Parque Nacional surge como o sucessor da presença dos Serviços Florestais naquelas serras e como tal sempre foi visto pelas populações como um elemento «repressor» do poder central. Assim, a relação entre o PNPG e as populações é uma história de uma relação e convivências difíceis. No entanto, convém sublinhar que foram estas estas populações que moldaram a montanha de forma a conseguir uma simbiose que transformou a Peneda-Gerês naquilo que é hoje.

O actual Plano de Ordenamento vem substituir um outro que em termos de actividades de visitação era muito mais restritivo do que o actual, havendo então áreas interditas nas quais era proibida a presença humana. O actual Plano de Ordenamento foi elaborado na premissa e na base de que toda a área do Parque Nacional deve ser visitável, pois de outra forma não faz qualquer sentido tendo em conta a ocupação que há milénios é feita do território e o objectivo do próprio Parque Nacional. No entanto, esta visitação deve ser alvo de regras que permitam uma gestão da protecção a que cada área esteja submetida. Definiram-se assim diferentes zonas de protecção que de uma forma geral definem áreas de prioritárias para a conservação da natureza e da biodiversidade. Estes níveis de protecção são definidos de acordo com a importância dos valores naturais presentes e de acordo com a sua sensibilidade ecológica.

Quais são estas zonas de protecção? O Plano de Ordenamento divide basicamente a área do parque nacional em duas áreas: a Área de Ambiente Natural e a Área de Ambiente Rural. Vamos esquecer esta última porque não nos interessa para o caso em questão e porque a gestão da problemática da visitação é muito mais simples. A Área de Ambiente Natural é por sua vez dividida em três zonas: a Zona de Protecção Total; a Zona de Protecção Parcial de Tipo I e a Zona de Protecção Parcial de Tipo II. Casa uma destas zonas tem as suas especificações.

A Zona de Protecção Total tem o estatuto de reserva integral e compreende os espaços onde predominam valores naturais físicos e biológicos cujo significado e importância do ponto de vista da conservação da natureza são excepcionalmente relevantes. Estas áreas correspondem a áreas de mais elevada proximidade a um estado de evolução natural e menos alteradas pela intervenção humana e englobam, essencialmente, bosques de carvalho e bosques de carvalho em associação com teixiais e azerais, teixiais, turfeiras e complexos geomorfológicos de relevante importância. Nas áreas de protecção total são prioritários os objectivos de manter os processos naturais num estado dinâmico e evolutivo, sem o desenvolvimento de actividades humanas regulares ou qualquer tipo de uso do solo, da água, do ar e dos recursos biológicos.

O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Zona de Protecção Total é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. A autorização é necessária tanto em termos de visitas individuais como em grupos, não podendo estes ser superiores a 10 pessoas.

A Zona de Protecção Parcial de Tipo I compreendem os espaços que contêm valores naturais significativos e de grande sensibilidade ecológica, nomeadamente valores florísticos, faunísticos, geomorfológicos e paisagísticos. Correspondem a áreas de elevada proximidade a um estado evolutivo natural e pouco alterado pela intervenção humana e englobam bosques de carvalho, bosques ripícolas, teixiais, azerais, turfeiras, complexos geomorfológicos de relevante importância e matos.

O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Zona de Protecção Parcial de Tipo I é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estradas, caminhos existentes ou outros locais autorizados, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. quando realizadas ou organizadas por grupos superiores a 10 pessoas e não previstas em carta de desporto de natureza. Isto é, grupos inferiores a 10 pessoas não necessitam de autorização.

A Área de Protecção Parcial de Tipo II estabelece a ligação com as áreas de ambiente rural, constituindo um espaço indispensável à manutenção dos valores naturais e salvaguarda paisagística, correspondendo a áreas de média proximidade a um estado de evolução natural e enquadram bosques de carvalho, azerais, e medronhais arbóreos, teixiais, turfeiras e matos. 

O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Zona de Protecção Parcial de Tipo II é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estradas, caminhos existentes ou outros locais autorizados, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. quando realizadas ou organizadas por grupos superiores a 15 pessoas, bem como nos termos da carta de desporto de natureza. Isto é, não é necessária autorização para grupos inferiores a 15 pessoas.

Resumindo, para caminhar na Zona de Protecção Total é necessária a autorização por parte do PNPG. De notar que o plano de ordenamento diz que qualquer actividade independente do número de pessoas, necessita de autorização! Isto é, mesmo uma só pessoa terá de solicitar essa autorização. As actividades de visitação na Zona de Protecção Parcial de Tipo I podem ser realizadas SEM autorização até um máximo de 10 pessoas. Isto é, para grupos superiores a 10 pessoas deve ser solicitada autorização ao PNPG. O mesmo acontece na Zona de Protecção Parcial de Tipo II, mas para um número inferior a 15 pessoas (grupos superiores a 15 pessoas devem pedir autorização ao PNPG).

Como é que nos posicionamos perante o que está referido no Plano de Ordenamento do PNPG? Como é feito o acesso a esta informação? A informação disponível está facilmente acessível? Os postos de turismo no território do PNPG saberão explicar todas estas características que envolvem a visitação no nosso único parque nacional? Temos o cuidado de nos informarmos sobre os termos da visitação ou preferimos fazer livremente o que quisermos? Sabemos que zonas estamos a percorrer e a importância dessas zonas na preservação do Parque Nacional?

De facto, são tudo questões pertinentes cujas respostas orbitam no âmbito da percepção pessoal daquilo que fazemos e da forma como o fazemos.

Pessoalmente, e nos termos com que o texto foi escrito, sempre achei que a melhor relação com o PNPG é uma relação na qual exista um bom entendimento entre ambas as partes e que ambas as partes consigam perceber as necessidades de cada uma delas. Nunca fui contra a actual ordenação do Parque Nacional em relação às actividades de montanha aqui descritas e penso que o Parque Nacional só terá a beneficiar com a presença preventiva do homem na montanha, devendo também uma postura de colaboração e aconselhamento a quem o visita. Isto, claro está, não limita de forma alguma a possibilidade de criticar o Parque Nacional em algumas das suas opções de gestão, como por vezes é o caso.

Em muitos aspectos, a opinião negativa sobre o Parque Nacional surge do desconhecimento e da falta de informação. Isto deve-se ao facto de que muitos não procuram o conhecimento e essa informação sobre o Parque Nacional, preferindo ter uma atitude quase de confronto e de ter uma postura com a qual se acham no direito tudo o que lhes apetece, mesmo sendo uma «agressão» ao próprio ambiente dentro da área protegida.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Relembrando a (redescoberta da) Mina de Lomba / Cadeiró


Foi há quase dez anos atrás que publiquei este texto no qual fiz a descrição da redescoberta dos vestígios da Mina de Lomba / Cadeiró. Fica aqui um «flashback»...
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Lomba / Cadeiró, 23 de Outubro de 2008

Ocupando o longo tempo livre que infelizmente vou tendo, decidi de uma vez por todas encontrar a mina de Lomba / Cadeiró que há já uns meses andava nos meus planos. Os dados que possuía sobre esta mina eram muito escassos tal como já havia referido numa entrada neste blogue do passado dia 29 de Setembro (de 2008).

Esta é uma das concessões menos conhecidas existentes na Serra do Gerês. Localizada a 1 km N de Xertelo e a 3 km NNE de Cabril (e a 3,5 km do Covelo do Gerês), esta terá sido uma pequena concessão atribuída à Sociedade Portuguesa de Minas da Lomba de Crasto, Lda. Sinceramente, não é que esperasse grande coisa desta concessão talvez algo semelhante à concessão do Castanheiro ou da concessão de Cidadelha, mas foi como que um antí-clímax o que acabei por encontrar.

Comecei por percorrer o estradão que liga Xertelo a um outro estradão que nos leva até às Lagoas do Marinho, pondo mais uma vez em prova a robustez e os 277.000 km do meu carrinho. Com uma derrapagem aqui e ali, lá consegui vencer algumas subidas mais íngremes da estrada em terra batida. Pelo caminho tentava vislumbrar algum sinal de uma exploração mineira, mas tal nunca surgiu. Foi então com alguma resignação que decidi optar por um outro plano e ir visitar as Minas do Borrageiro. Prosseguindo pelo estradão, aproveitei também para tirar uma pequena dúvida sobre os restos de umas construções existentes não muito longe das represas construídas pela EDP na Serra do Gerês. Efectivamente, as construções foram utilizadas como residências e oficinas dos trabalhadores que construíram essas barragens.


Passando pela mísera cancela na ponte sobre o Rio Cabril, iniciei a subida para o Lago Marinho até encontrar um veículo do Parque Nacional da Peneda-Gerês (!!!) e um pastor que me indicou, ao longe, a localização da antiga mina. Com um novo ímpeto, depressa desisti de chegar às Minas do Borrageiro e dirigi-me em direcção a mais uma nova descoberta.

Estacionando o meu veículo, pois as máquinas também descansam, continuei o resto do caminho a pé e após alguns largos minutos de procura lá surgiram muito escondidos na encosta os vestígios de uma exploração mineira. Ao princípio surgiu um rasgo com uns 20 metros de comprimento dando a ideia de um filão ali explorado. Um pouco mais abaixo e correspondendo exactamente ao local indicado pelo pastor, surgiu a exploração. A mina em si é de céu aberto e de muito pequena dimensão, estando totalmente entulhada com a própria escombreira. Ao caminhante, se é que haverá alguém que passa por ali, facilmente passa despercebida esta mina confundindo-a com uma pequena pedreira, uma memória esquecida na Serra do Gerês e que apenas sobrevive na sabedoria popular... infelizmente não será por muito tempo.




Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Fiadeiro de Contos 2017 em Pitões das Júnias


A edição de 2017 do Fiadeiro de Contos em Pitões das Júnias já tem data definida!

A IVª edição terá lugar entre os dias 4 e 6 de Agosto!

Definitivamente a não perder!!!!

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCII) - O sagrado e o profano em Castro Laboreiro


Talvez somente Pitões das Júnias se compare com o ambiente de misticismo e mistério que encontramos ao percorrer os espaços verdes de Castro Laboreiro. É nas extremidades do mais belo canto de Portugal onde sentimos a alma que nos tolda e forma o que somos.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Encontro de Empresas de Animação Turística em Fafião


Promovido pelos Baldios e pela própria Aldeia de Fafião, convidamos todos os interessados, especialmente os detentores de empresas de animação Turística a estarem presentes para este evento com sessão de esclarecimento sobre um assunto de demasiada importância, a utilização dos espaços Naturais onde se é possível aceder com viaturas motorizadas na área do já referido Baldio de Fafião. 

Se tem uma empresa de animação turística que opera na região então é de todo o interesse estar presente.

Para informações aqui não dispostas ou adicionais, contactar o presidente dos Baldios de Fafião, Raul Costa através do contacto de email Raulfafiao@hotmail.com ou pelo número de telemóvel 96270025.

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCI) - Caminhos castrejos


Os caminhos castrejos com os seus muros de pedra solta, levam-nos numa viagem ao nosso passado onde a magia e a mística andam de mãos dadas com o profano num jogo de esconde com o sagrado.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)