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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Paisagens da Peneda-Gerês (XCV) - Minas dos Carris (II)


Há fotografias que captam toda a essência de um momento e esta fotografia do Tiago Teófilo capta isso mesmo. No fundo, a fotografia capta a vontade deste trabalho a caminho dos seus 10 anos de trazer à luz do dia a história e o sentir de um lugar «perdido» nas serranias geresianas.

Obrigado Tiago por este eternizado momento.

Fotografia © Tiago Teófilo (Todos os direitos reservados)

Minas dos Carris - 26 de Novembro de 2016


A chegada às Minas dos Carris a 26 de Novembro de 2016.

Vídeo © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Retalhos de Cabril - João Rodrigues Cabrilho


Célebre combatente e marinheiro do séc. XVI, João Rodrigues Cabrilho era natural de Lapela, Cabril. Fez-se marinheiro ao serviço de Castela e por isso, a casa onde nasceu se chama do "Galego".

Pouco se sabe dos primeiros anos da sua vida após o seu desembarque na ilha de Cuba no ano de 1516. Crê-se que Cabrilho, subordinado a D. Pedro de Alvarado, saiu de Cuba a 1518, para tomar parte na conquista do México, sob o comando do grande capitão Fernando Cortés Pizarro, o que se operou com êxito até ao ano de 1524.

Foi nesta campanha que Cabrilho como ombre de caballo evidenciou o seu valor de combatente, também é por esta altura que começaram a apelida-lo de Cabrilho, por ser natural de cabril. 

Feita a conquista e submissão do México, Cabrilho fixou-se na América Central, ajudando o capitão D. Pedro Alvarado a manter a ordem na Guatemala e ali permaneceu durante 12 anos, dedicando-se à agricultura, à pecuária e a construção de navios. Em 1536, Alvarado e Cabrilho deslocaram-se para a próxima região de S. Salvador, com o intuito de organizar uma forte expedição naval, que rumando ao ocidente, em pleno Oceano Pacífico, abrisse o caminho para a China e ilhas Molucas. Dois anos depois estava pronta a partir uma expedição de 13 navios tendo como comandante Alvarado e como almirante Cabrilho. 

Porém o vice rei do México, D. António Mendonça, colocou muitos embaraços e a expedição ficou inerte durante 4 anos. Entretanto, Pedro Alvarado acabou por falecer num desastre, o que levou a que a maior parte dos soldados e marinheiros se insubordinassem, ficando apenas a expedição naval reduzida a dois navios, o "San Salvador" e o "Vitória". O trajecto da viagem também acaba por ser alterado, e sob o comando de Cabrilho, saíram finalmente do porto Mexicano de Navidade no dia 27 de Junho de 1542.

A 2 de Julho, os navegadores avistam a ponta da península da Califórnia e aportam no lugar hoje chamado San Lucas. A 28 de Setembro detiveram-se numa magnifica baía hoje chamada de San Diego, onde permaneceram durante alguns dias e onde hoje existe uma bela estátua de João Rodrigues Cabrilho, colocada por iniciativa do governo Português. 

Cabrilho viria a falecer na ilha de San Miguel a 3 de Janeiro de 1543 e na mesma ilha foi sepultado em local que se desconhece.

João Rodrigues Cabrilho chegou a visitar algumas vezes a sua aldeia natal de Lapela e dessas visitas persiste ainda hoje uma preciosa e estimável relíquia. É um Cristo, crucificado numa cruz de madeira, relíquia e está classificada como objecto de arte castelhana do séc XVI. 


P.S. Obrigado à Família Rodrigues e ao António Príncipe por me convidarem a ver, tocar e fotografar o crucifixo.

Texto e fotografias de Ulisses Pereira

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O Vazio


Perante mim, o vazio.

A imensidão da manta branca sobre a qual caminhava levava-me para o lugar onde fiquei imóvel pela primeira vez. O que ali entrou dentro de mim não vou conseguir saber, apenas sentir a imensidão do véu que me envolvia como uma mortalha num leito de morte, uma passagem para um reino maravilhoso.

Fotografia © Tiago Teófilo (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (XCIV) - Mariola


Adornada com os cenários de Inverno, uma mariola na Costa de Bargiela (Varziela), Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa / Carris (29 de Novembro a 6 de Dezembro)


As previsões mostram que a chuva irá voltar às Minas dos Carris entre os dias 3 e 5 de Dezembro, mantendo-se as temperaturas baixas com uma máxima de 8ºC.

Listagem das zonas de caça abrangidas pela Portaria n.º 277-A/2016, de 21 de outubro e mapas dos incêndios


Não creio que isto faça muita diferença naquelas pessoas que gostam da Natureza matando-a, mas aqui vai...

A Portaria n.º 277-A/2016, de 21 de Outubro - Proíbe o exercício da caça a qualquer espécie cinegética nos terrenos situados no interior da linha perimetral da área percorrida por incêndio, ou grupos de incêndios contínuos de área superior a 1000 hectares, bem como numa faixa de protecção de 250 metros.

Ver mais aqui.

Plantação e caminhada em Cabril a 3 de Dezembro


Reproduzo aqui o aviso relativo à plantação e caminhada que estava prevista para o dia 26 de Novembro, mas que foi adiada devido ás condições meteorológicas adversas.

Em virtude das condições climatéricas adversas, informam-se todos os interessados que a actividade da plantação e caminhada promovida pelos baldios de cabril para amanhã dia 26 de Novembro, foi adiada para o próximo dia 3 de Dezembro,(sábado).

Informamos também que se manterá o programa exatamente igual ao previsto para amanhã. 

Agradecemos a vossa melhor compreensão

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

244... Mundos de neve e gelo (ou uma alegoria ao vazio)


Sim, já visitei muitas vezes as Minas dos Carris. Muitos acharão quase doentio, eu acho que é uma terapia que me faz retemperar forças. Muitas das caminhadas que fiz às Minas dos Carris, e isto dito num aspecto mais pessoal, servem para acrescentar algo de novo ao conhecimento o local, outras servem para o registar como uma memória futura da sua decadência.

Esta caminhada não foi fácil e as condições foram muito difíceis, e isto leva a que seja um pouco complicado escolher as palavras correctas para vos transmitir as sensações de estar ali, naquele lugar naquela altura. Necessito de sinónimos de uma contemplação transcendental, palavras para descrever algo épico ao nível de uma 'Odisseia' de Homero.

Desengane-se quem pensa que este trabalho pode ser facilitado, bastando para isso descrever as paisagens. Mas mesmo essas, envoltas num nevoeiro penumbral que nos envolveu a partir de certa altura, fez-nos transportar para mundos de neve e gelo.

O espaço estava bem definido e a jornada até às Minas das Sombras fez-se numa cadência sincopada ao ritmo da nossa vontade de ver e sentir coisas que estando num ambiente mais confortável ao ler estas linhas nos fazem arrepiar. Sentir o vento frio e as pesadas gotas de chuva, uma metamorfose da neve que ia caindo mais acima. O Vale de Vilaméa ia-se transformando à medida que mais profundamente nele íamos penetrando. Ao fundo, a cimeira do vale, de facto escondida pelas nuvens, mostrava já a coroa gelada da neve. Sim, era para ali que íamos... era para ali que queríamos ir. Cada um com as suas sensações e sentimentos; por vezes em grupo, outras vezes na solidão da nossa existência tendo como companhia o som do vento e do rio, e dos pensamentos que aqui fluem como uma bebida dos deuses que brota de uma ânfora.

A subida final até à Mina das Sombras é feita já com um bom coberto de neve que nos faz já levantar mais os joelhos, trazendo assim um esforço extra à jornada. Seria bem pior dali em diante, porém o objectivo consciente estava bem traçado e os riscos assumidos e controlados. Depois de uma paragem para retemperar as necessárias forças, iniciamos a passagem da Portela da Amoreira ladeando o marco geodésico de Carris.



O esforço de caminhada era enorme. Por vezes, a altura de neve fazia-nos desaparecer numa fosforescência azul que emanava do fundo de onde as pernas saíam. Revezando-nos, íamos abrindo caminho para os que vinham mais atrás, navegando pela memória das rochas, sinais e evidências que nos mostravam o caminho que aos poucos percorríamos. Por entre as explosões de felicidade e as conversas que retemperavam o ânimo, surgiam olhares cansados e o certo receio por estar naquele lugar brotava na pele. Não era o medo que se fazia sentir, era sim um misto de sensações nas quais o nosso cérebro nos pregava partidas fazendo-nos relembrar das sensações de calor e da bebida quente e confortável. É isto que nos faz sentir vivos e como tal, a dor e o desespero na ânsia do descanso logo desaparecem.

A paisagem fecha-se num manto branco de neve por vezes batida pelo vento gélido que desenhava estranhas formas a embelezar o granito escuro. Cornucópias de sentimentos e o frio que nos invadia por momentos.




Ultrapassadas as agruras do caminho enterrado na neve, chegávamos ao nosso objectivo. Ali a poucos metros, as ruínas gélidas semi-enterradas na neve surgiam como fantasmas naquele cenário estático onde o tempo parou e onde o tempo pára para nós. Ali, onde tudo se revela a cada um de nós, encontrámo-nos a nós mesmos. Ali, onde a dor da jornada insiste em vencer o prazer do momento, é quando cada um de nós atinge o ponto mais alto do ser.

Naquele momento e olhando à minha volta, estava na companhia daquela ruína que marcava o tempo parado, gelado, um quadro que regista o momento. Ali, envolto por aquela névoa gélida, sentia o corpo que tremia de frio e emoção. Sentia um olhar, algo que me olhava e esperava no regresso... Perante aquele cenário era como se nada mais existisse para lá do véu branco que envolvia a ruína. Tudo terminava ali... A minha alegoria ao vazio...

As fotografias podem ser vistas aqui.
























































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)