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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Mina do Castanheiro na década de 40


A Mina do Castanheiro é uma pequena exploração mineira localizada a poucos quilómetros das Minas dos Carris, tendo contemporânea desta última.


A exploração iniciou-se em meados da primeira metade dos anos 40 do século XX.

Na obra "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" é referido que "Para além das três concessões na proximidade dos Carris, a Sociedade Mineira dos Castelos pretende iniciar também a exploração da concessão do Castanheiro localizada a cerca de 4 km a Sudoeste das concessões principais. No plano de lavra datado de 3 de Julho de 1943 e elaborado por Francisco da Silva Pinto, Director Técnico da concessão, é referido que a concessão se situa nos limites do lugar de Lapela, freguesia de Cabril, e que o ponto de partida para a sua demarcação é o centro geométrico de uma casa denominada ‘Casa da Cabana’ localizada no sítio do Castanheiro, estando o ponto de partida devidamente ligado à rede geral de triangulação nacional por intermédio das pirâmides geodésicas de Lamas, Cerdeira e S. Bento. Tal como acontece nos altos serranos, a topografia do local é bastante acidentada com terrenos baldios, sem culturas e não apresentando aspectos especiais ao nível da geologia. Na área estava reconhecido um único filão volframítico, mas supunha-se poder ocorrer o aparecimento de mais filões pois as características dos filões já reconhecidos noutras concessões apontavam sempre para a presença de vários filões paralelos semelhantes ao que havia sido reconhecido. O filão do Castanheiro apresentava-se em veios de quartzo com impregnações de volframite, pirites e óxidos de ferro, tendo uma direcção geral de Nordeste e inclinação vertical. A sua possança era variável, apresentando-se em bolçadas mais ou menos extensas com uma possança média de 0,20. Na altura da apresentação do plano de lavra, o filão estava reconhecido em cerca 350 metros não havendo na altura reconhecimento de aluviões por não terem sido realizados trabalhos de reconhecimento com esse intuito.



Tal como aconteceu com várias concessões, os trabalhos realizados na mina do Castanheiro constavam de uma série de sanjas ao longo do filão com uma profundidade média de 5 metros e com uma largura de 2 metros. Estes trabalhos haviam sido realizados pelo proprietário anterior que haviam sido suspensos, estando na altura a Sociedade a proceder a trabalhos de entivação e aterro de modo que os trabalhos pudessem ser executados “segundo as regras da arte de minas.” O plano de lavra previa a divisão do filão em maciços de desmonte que seriam limitados por galerias e chaminés segundo o filão. Para a obtenção do maior número de frentes de trabalho, estava prevista a abertura de galerias em direcção aos níveis 1060 m, 1080 m, 1100 m e 1120 m. As galerias dos 1060 e 1100 eram consideradas de circulação e extracção e teriam secções trapezoidais com base de 2,00 X 1,50 metros e altura de 2,00 metros, sendo as restantes também em secção trapezoidal com base de 1,50 X 1,20 e altura de 1,80 metros. As chaminés teriam 1,00 X 1,00 metros de secção. As galerias e chaminés seriam protegidas por paredes e pilares naturais que não seriam desmontados. Os desmontes seriam sempre feitos de baixo para cima pelo sistema de degraus investidos, tal como era utilizado na concessão do Salto do Lobo, e só seriam iniciados quando houvesse 3 a 4 maciços definidos, isto é, haveria sempre pelo menos um maciço pronto para desmontar entre o avanço da mina e os trabalhos de desmonte. A extracção e circulação seriam feitas pelas galerias em direcção e sempre pelo nível inferior. O sistema de traçagem apresentado seria suficiente para proporcionar uma boa ventilação da mina e o esgoto seria feito através das galerias.

O complexo mineiro do Castanheiro estaria somente equipado com uma pequena lavaria de ensaio, pois a Sociedade possuía a sua oficina de tratamento de minérios no Porto. O transporte do minério extraído seria feito por muares até à Albergaria passando pelas concessões dos Carris, seguindo posteriormente por estrada até ao Porto. Ao nível de construções estava somente prevista a execução de uma casa com quatro compartimentos para depósito de minérios, guarda, carpintaria e forja, estabelecendo-se as devidas instalações sanitárias. A mão-de-obra seria recrutada nas povoações próximas à mina e o orçamento apresentado tinha em conta a existência das concessões mineiras dos Carris as quais forneceriam parte do material necessário, prevendo-se um total de investimento de 35.000$00 dos quais 18.000$ eram referentes à contratação de mão-de-obra, 5.000$ seriam gastos em explosivos, madeiras, etc., 5.000$ seriam gastos na construção da lavaria, 2.500$00 para as construções e 4.500$00 em diversos e imprevistos.

O reconhecimento da mina do Castanheiro só seria executado em 1946, já com a Sociedade regida por uma Comissão Liquidatária nomeada pelo Governo, e com o respectivo relatório a ser escrito a 12 de Novembro de 1946. Na altura o estradão de acesso à mina do Salto do Lobo estava já consolidado através do Vale do Alto Homem, sendo por essa razão que o relatório refere que “um caminho de pé posto de cerca de 4 km põe esta mina em comunicação com as instalações da mina ‘Salto do Lobo’, onde chega um estradão construído pela requerente, que liga com a Portela do Homem, a 9 km daquela mina.” O relatório continua referindo que o jazigo ficava “encravado na mancha granítica do Norte do país e é constituído por um filão quartzoso, vertical com a direcção média Norte – 70º – Nascente e com uma possança média de 0,15 mineralizado pela volframite. Além deste existem vários filetes de diferentes direcções, mas ainda insuficientemente reconhecidos.” Em relação aos trabalhos já realizados, descreve-os referindo que “constaram de quatro sanjas e de duas pequenas galerias em direcção, que permitiram reconhecer a regular mineralização e mostrar que a mina ‘Castanheiro’ tem valor para poder ser objecto de concessão.” A demarcação da mina seria feita no mesmo dia da data do seu auto de reconhecimento e seria executada pelo Agente Técnico de Engenharia de Minas Adelino dos Santos Lemos da Circunscrição Mineira do Norte. Ainda na mesma data surge a informação sobre um pedido de reclamação efectuado contra este pedido de demarcação por parte da Sociedade Mineira dos Castelos e feito pela Sociedade Mineira de Cadeiró, Lda. baseando-se na alegação de que estava em posse de um pedido de demarcação denominado ‘Carris de Cima’ e que era baseado em registo mais antigo. A reclamação não foi atendida por parte da Circunscrição Mineira pois o referido pedido já havia sido anulado. O alvará de concessão provisória 4045 será redigido a 9 de Janeiro de 1948 e seria publicado no Diário do Governo a 11 de Fevereiro desse ano , sendo concedido por um período de três anos. Uma nova demarcação da mina seria feita no princípio dos anos 50."

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

domingo, 30 de agosto de 2015

Mina do Salto do Lobo


A Mina do Salto do Lobo foi a grande concessão mineira do que hoje conhecemos como Minas dos Carris.

A 24 de Janeiro de 1944, a quando da entrega de um requerimento para junção ao processo do plano de lavra da parte filoneana do Salto do Lobo juntamente com uma nova memória descritiva e justificativa da concessão assinada por Francisco da Silva Pinto, então Director Técnico do complexo mineiro, a mina era descrita da seguinte forma:

"A Mina fica situada na Serra do Gerez e no local conhecido por “Carris”, freguesia de Cabril, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real.

É servida pela estrada que, partindo das Termas do Gerez, vai ao local denominado Albergaria. Desta última povoação até à Mina “Salto do Lobo” distam cerca de 9 quilómetros, para leste, tendo esta Sociedade aberto uma estrada até meio do percurso. A comunicação, entre o términos desta estrada e a Mina, é feita por um caminho de pé posto.

Situada num dos pontos mais elevados da Serra do Gerez, toda a área da concessão apresenta desníveis acentuados. Os terrenos são baldios e totalmente incultos.

A região é essencialmente granítica e muito rica em variedades mineralógicas, principalmente volframite, molibdenite e berílio.

É constituído por filões de quartzo com volframite. Presentemente está bem reconhecido um filão denominado “filão principal” numa extensão aproximada de 750 metros.

Ultimamente foi reconhecido a existência de um filão menos importante designado por “filão Paulino”. Principiou-se com o rompimento de uma galeria em direcção – Galeria n.º 3 – segundo este último filão mas, como não está suficientemente estudado" não era apresentado na altura um plano de lavra.

Texto extraído de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", por Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sábado, 29 de agosto de 2015

"A montanha já não impõe respeito"


"A montanha já não impõe respeito" é o título desta notícia em castelhano que nos fala do facto de sete comunidades Espanholas terem implementado taxas de resgate devido à inexperiência e falta de planificação de muitas actividades levadas a cabo nas montanhas do país vizinho.

A montanha deve ser aberta a todos, mas todos devem ter a consciência que caminhar na montanha não é um passeio à beira mar. A planificação e acima de tudo a gestão do risco conhecendo os nossos limites físicos e psicológicos, são a base de uma actividade bem sucedida e sem percalços que venham a necessitar de socorro.

Como é óbvio, o assunto não é tão linear como parece e a «moda da montanha» e dos passeios na Natureza quando transformada num fenómeno de massas, trará consequências que devem ser debatidas.

Fotografia © A. Muñoz / EFE (Todos os direitos reservados)

Adiados os 'Encontros de Montanha - 2015'


Os 'Encontros de Montanha - 2015' que estavam previstos para ter lugar no mês de Setembro de 2015, foram adiados para data a confirmar.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Um vídeo...


Quem é seguidor assíduo deste blogue deverá contar pelos dedos de uma mão as fotografias do autor do mesmo. De facto, são escassas as fotografias que tiro a mim próprio; as paisagens Geresiana e de outras montanha são infinitamente mais belas para serem acrescentadas com a minha figura. Nunca fui muito de auto-retratos ou de fotografias de grupo no final das caminhadas, e como tal são mesmo muito poucas as que por aqui (e por outros locais) vão aparecendo.

Há uns dias fui surpreendido por um vídeo feito pelo Alexandre Matos. O Alexandre tem colaborado com o blogue Carris nos últimos anos, mais precisamente na edição das fotografias que adornam o cabeçalho deste espaço. Camarada de caminhadas, lá vai tirando umas fotografias quando estou mais distraído. São esses alguns dos registos que surgem neste vídeo...

Video © Alexandre Matos (Todos os direitos reservados)

"Desaparecidos do Gerês estão a salvo em Viana do Castelo"



Este talvez seja o resultado das notícias alarmistas que surgiram há umas semanas e que devam contas dos «desaparecidos» na Serra do Gerês. Com este jornalismo, o pânico instala-se logo que deixa de haver contacto e o resultado é o que se lê nesta notícia do Jornal de Notícias...

Desaparecidos do Gerês estão a salvo em Viana do Castelo

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Albergaria e Homem em Agosto...Gerês?


Albergaria e Homem em Agosto...Gerês?

Por Alexandre Matos

Agosto no Gerês não é bem...Gerês. Pelo menos nas imediações da estrada que adentra a belíssima e incomparável Mata da Albergaria. O dia começava muito cinzento e bem cedo já, apesar do frio e da morrinha, os turistas que ouviram falar do Rio Homem e suas lagoas, começam a azáfama. Como sabem, para circular entre a Portela de Leonte e a Portela do Homem, é necessário pagar uma taxa de 1,5€. Parar a viatura entre os postos de controle é proibido e pode incorrer o infractor em coima até 200€. Ora...junto à ponte do Rio Homem já havia carros estacionados antes das 10h00, hora de abrir o posto de taxas. E mesmo depois ao fim da tarde havia carros vazios na estrada. Havia também congestionamento grave. Buzinas, muitos carros, gente de todo o tipo a circular a pé para ir à cascata, e uns poucos, ainda mais longe pelo estradão. Na minha subida já duas famílias a ver-me a passar de lanço, botas e vara na mão, me inquiriam se havia lagoas para cima. Mandei-as mas é passear...na mata. Não sabem nada do que as espera pelo estradão, e com crianças. Vestidas a rigor: sapatilha de ténis, calção e t-shirt. As condições eram de morrinha, frio e o piso que sabemos do estradão escorregadio. Continuei na minha vidinha até que, antes da Água da Pala...


Antes de prosseguir o relato, pf raciocinem comigo; se vissem um papel no chão de vossa casa achavam bonito? E se fosse na rua? Hâ? que pensavam? E se fosse numa zona natural? e numa zona de protecção total? e agora....esqueçam o papel, e substituam por uma garrafa, não uma lancheira/geladeira familiar!!!! Pois então é isso que estava no meio do rio abandonada provavelmente do dia anterior, com lixo dentro e a pega partida(razão provável de a terem deixado ali). E assim se vê que estamos no verão da Albergaria e Rio Homem. Tirei a coisa dali e deixei ao lado do caminho para trazer de volta para baixo no regresso da minha vidinha. Assim foi. Ao passar com aquilo vários km abaixo pelas gentes que ía encontrando olhavam de forma estranha, talvez por verem um tipo sozinho com uma arca para 20. Ao chegar á estrada, o fim do mundo: trânsito parado e carros a perder de vista, gentes a ocupara todos os cantos, carros estacionados por todo o lado, e mais acima, no posto de controlo os dois agentes do ICNF a controlar as taxas. Alguém para ordem no caos ou multar os estacionados? Nadinha. Relatei e entreguei a prova do crime ao agente e pronto. Só me apetecia fugir de tanta degradação do cenário de natureza que busco.



Lâmina roçadora na Água da Pala




Conclusão: Acho que alguma coisa tinha de ser feita para a educação dos visitantes do parque. Acho que a vigilância e controlo do caos é inexistente. Acho que Nós todos em geral, somos povo muito sofrido para nos preocuparmos com o "todo"; somos iletrados, ignorantes, imitadores de modas e muito pouco refinados. Em suma, um povo embrutecido. Quase me apetece dizer: "fechem os acessos viários no verão, XIÇA!!


P.S. Volta passadiço do Paiva, estás perdoado!

Fotografias © Alexandre Matos (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 25 de agosto de 2015

A insustentável leveza de um dia de nevoeiro nas Minas dos Carris


A insustentável leveza de um dia de nevoeiro nas Minas dos Carris; chegada às Minas dos Carris a 14 de Agosto de 2015.

Vídeo © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

As minas nos anos 80 e o 'Serrinha'



Após os estudos realizados em 1981 e dos projectos entretanto elaborados por Adriano Barros para a MINREFCO, é feito um novo pedido de suspensão de lavra a 17 de Junho de 1983 para esse ano, sendo evocada a baixa cotação dos minérios volframíticos nos mercados internacionais. O processo de decisão para o deferimento deste pedido complica-se devido ao facto de a sociedade não ter cumprido o que havia sido referido no deferimento do pedido de suspensão de lavra para 1982. Nesse despacho de deferimento havia ficado estabelecido que a concessionária deveria dar cumprimento à circular de 7 de Janeiro de 1982 sob pena de indeferimento de futuros pedidos de suspensão de lavra. Esta informação havia sido transmitida à Sociedade das Minas do Gerez a 28 de Abril de 1982. A sociedade estava obrigada à apresentação de dados sobre o jazigo, estudos realizados, trabalhos existentes e investimentos efectuados. O pedido de suspensão de lavra para 1983 também foi enviado fora do prazo estipulado, aparentemente devido ao facto não oficial de Adriano Barros se encontrar a trabalhar no estrangeiro. Tendo em conta toda esta complicada situação, o pedido de suspensão de lavra é então indeferido. A nota na qual se baseia este indeferimento é datada de 28 de Junho, existindo uma anotação manuscrita de 8 de Julho onde se lê “…é de inferir que não foram as baixas cotações que levaram à paragem da mina.” A Sociedade das Minas do Gerez é informada  do indeferimento referindo-se que o facto invocado para a suspensão da lavra não foi aceite como caso de força maior. Esta situação vai-se arrastar durante quatro anos e será reavivada em Março de 1988 a quando de mais um pedido de suspensão de lavra para esse ano, não havendo no entanto registos de pedidos de suspensão de lavra para os anos de 1984, 1985 e 1986 e estando assim as concessões com a lavra suspensa não autorizada.

Durante este período o que restava das instalações mineiras dos Carris e das Minas das Sombras, eram guardadas por um único homem, o Sr. Domingos, mais conhecido por ‘Serrinha’, que estava naquelas instalações desde 1965 / 1966 e ali iria permanecer a maior parte do tempo sozinho, com esporádicas visitas às Caldas do Gerês, até 1984 / 1985, altura em que passaria a residir em Lobios, Galiza. O Sr. Domingos recebia mensalmente o seu ordenado e alguns mantimentos que eram transportados por responsáveis pela Sociedade das Minas do Gerez, tirando partido também dos materiais de ia retirando dos velhos edifícios. Muitas das traves e barrotes de madeira foram retirados das casas para assim ter como cozinhar, pois não tinha um fogão a gás. Foi também testemunha de fortes nevões entre os dias 17 de Abril e 21 de Maio de 1983. Segundo os diários de Miguel Campos Costa, “a neve tapou as casas em Carris (andava-se em cima dos fios do telefone e ele tinha de cavar um buraco e passar pela parte de cima, junto ao tecto, da porta) e que em fins de Junho ainda havia neve em Carris.” Na altura, e devido às suas obrigações nas Minas das Sombras, “um dia tentou ir para as Sombras, mas que voltou para trás logo no início do caminho pois apesar de serem 11h da manha “era mais escuro que a noite mais escura” e ele não via nada e a neve era muita.” 

Fotografias © Cedidas por Miguel Campos Costa (Todos os direitos reservados) © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

227 - Carris e mais além...


Minas dos Carris, 14 de Agosto de 2015

Por vezes é-me difícil encontrar um tema ou os detalhes para compor estes textos. Se eu fosse o leitor, acho que depressa me cansaria de ler tantas vezes sobre os mesmos lugares. Já pensei sobre isto mesmo, mas chego à conclusão que, por muitas vezes que se visite um lugar e se escreva sobre este mesmo lugar, esta visita e este texto serão únicos, pois são engalanados com as emoções e sentimentos daqueles momentos.

O dia previa-se muito mais ameno do que os dias anteriores onde o calor deste Verão secou os rios e ribeiros, e deu uma tonalidade mais amarelada a várias partes da serra. Felizmente, o verde dos bosques e florestas vai resistindo avivado pelo orvalho de noites mais frias. Este dia surgiu com o nevoeiro a topejar os píncaros serranos e por aí dava para adivinhar uma caminhada mais suave até às Minas dos Carris percorrendo o Vale do Homem.



Não foram muitas as vezes que vi a Fonte da Abelheirinha a agoniar de tão pouca água ou mesmo o leito do Rio Homem estranhamento seco em alguns troços. Afastando-nos do seu leito, o vale adquiria um estranho silêncio, daqueles profundos onde a nossa respiração por vezes se torna um grito a ecoar pelas paredes íngremes das corgas que se altivam em direcção aos céus. Quando nos aproximávamos do rio, era com alguma timidez que o Homem se fazia escutar. Pode parecer estranho em pleno Agosto termos paisagens de Outono ou Inverno, mas aquelas paisagens pareciam de certa forma já um prenuncio da grande mudança que se avizinha.

Já sabemos por onde passamos na direcção do topo da serra... a água da Pala surge após a Abelheirinha como uma oportunidade de olhar para trás e nos maravilharmos com o vale que dali a pouco se vai abrir nas nossas costas. Lá ao fundo (e desta vez coberta de nuvens) a Serra Amarela perfila-se com saudade e os seus eternos mistérios, guardando os segredos da aldeia mártir. Mais adiante vamos passar pelo Ribeiro do Cagarouço, seco seguindo na direcção do Homem. O Cagarouço provem de uma fortaleza bem guardada pela serra e da qual não vemos o seu fim. O verdadeiro mar de pedras em que se transformou o caminho mineiro, vai-nos agora levar à Curva do Febra e depois ao anfiteatro natural antes do Modorno. As paredes alcantiladas que se elevam perante nós, abrigam a Água da Lage do Sino, nesta altura sem água. Chegados então ao Modorno é altura do usual descanso e de nos maravilharmos com a beleza deste Vale do Alto Homem. Nos tempos do volfrâmio, onde por entre a dureza dos dias e a rudeza dos homens surgiriam certamente exclamações atónitas perante tais paisagens, estas seriam aquele momento de retemperar as forças para nova jornada.


O Modorno parece que marca a metade da distância em muitas caminhadas em direcção às Minas dos Carris e esta metade que falta vai-nos fazer enveredar mais para dentro e mais para cima na serra, pois o que antes estava em cima está agora em baixo e o que estava longe está um pouco mais perto.

O Teixo foi zona de carvoaria e os vestígios encontram-se por lá, perdidos e abandonados da memória da serra. O seu pequeno curral e o seu forno passam sempre despercebidos a quem caminha pelo estradão mineiro que agora nos leva a passar as Águas Chocas e mais adiante as Abrótegas. Aqui, não muito longe do sítio onde o Homem começa a correr para o Rio Cávado, a água é estagnada fruto dos dias secos. Deixando as Abrótegas para trás com as suas memórias de expedições e minas, seguimos para a Corga da Carvoeirinha que finalmente nos faz chegar às silenciosas ruínas das Minas dos Carris.

Para lá de um pequeno descanso, a passagem pelas ruínas foi rápida. Gosto de as visitar no silêncio da serra ou na contemplação do seu isolamento. Desta vez, e como havia mais gente por lá, o ruído da multidão fez-me não parar por ali muito tempo. Segui então na direcção da Lamalonga, pois queria percorrer a sua aridez e embrenhar-me no sue silêncio. Nestes dias, a Lamalonga será a sensação mais próxima que podemos ter de caminhar num deserto ermo, numa época onde os homens deixaram a Terra e esta vive a calmaria dos seus dias sem infortúnio. Este foi um dos locais mais afectados e alterados pela prospecção mineira, pois grande parte da sua área foi invadida por uma longa escombreira que guarda agora as entranhas da Terra expostas ao azul dos céus. À medida que nos vamos afastando da Corga da Lamalonga, no topo da qual reside a lavaria nova das minas, esta vai-se transformando num castelo que à distância se confunde com a paisagem. 


Chegando à Sesta de Lamalonga virei à esquerda, pois a ideia era a de atingir os currais no Couce e a partir daqui chegar às Abrótegas. O carreiro está (ainda) relativamente bem marcado com as velhas mariolas que nos levam a percorrer paisagens sem nome até atingir o Curral das Cadeiras. Daqui, vamos chegar ao bordo esquerdo do Couce e neste topo já contemplamos o colosso do Borrageiro e os inúmeros currais que pontilham a paisagem. Muitos destes currais são conhecidos de quem por ali vai caminhando, porém, existem outros que apesar de ficarem perto, estão escondidos e muitas vezes nos passam despercebidos. Aquele é certamente um lugar cheio de histórias para contar e o registo de todos aqueles currais, fornos e eiras, será um trabalho a se fazer num futuro próximo.

Caminhando já na sensação do regresso, passei ao largo dos Cocões do Coucelinho, o imenso circo glaciar que marca a paisagem e que no seu ventre esconde um belo curral. O percurso, por vezes escondido entre a urze e a carqueja, leva-nos agora em direcção à passagem do Quelhão, qual porta que separa dois mundos! A subida faz-se a passo certo, mas custoso. Para lá do Quelhão surge-nos os Currais das Lamas de Homem e mais adiante assinala-se a Ponte das Abrótegas. A parte final do percurso faz-se descendo o Vale do Alto Homem por onde já havíamos passado uma horas antes!






























































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)