Carris: maio 2015

domingo, 31 de maio de 2015

Livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês'

O livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês' revelou-se como um documento importante no registo histórico daquele complexo mineiro abandonado em plena Serra do Gerês.

Muitos foram aqueles que não tiveram a oportunidade de adquirir esta obra, tendo-se esgotado pouco mais de um ano após a sua primeira edição.

Felizmente, dentro em breve poderá surgir uma nova oportunidade de adquirir esta obra através de um método que foi utilizado para financiar a primeira edição.

A segunda edição será em número reduzido e como tal deverão estar atentos às notícias que irão brevemente surgir sobre o livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês'.

O amor de Alda e Rogélio

"Colaram-se por fim as bocas, e as mãos foram percorrendo nas roupas os contornos do corpo, e alcançaram a pele, e o frio primaveril parecia recuar a cada nova labareda daquele incêndio humano. Os olhos abriam-se nos abismos das profundidades insondáveis, e os dois corpos entregaram-se à generosa predação que invoca todas as lágrimas e todos os risos e conduz à extinção mutuamente consentida, essa aventura perigosa que, uma vez completada, vai reencontrar os amantes numa espécie de renascimento exausto nos braços um do outro. No silêncio supremo que depois se seguiu, perdurava neles contudo o travo paradoxal de uma transformação demasiado íntima para ser partilhada. Então, cada um se entregou a uma espécie de projecção de si para fora do tempo, procurando conjugar a ideia de êxtase com a ideia de súmula, num desejo de recuperar racionalmente a vivência da soma que acaba de ter lugar, uma reflexão que apenas a cada um respeita, porque resulta ao mesmo tempo de uma excessiva lucidez e de uma excessiva abstracção, e por isso não pode ser traduzida ou verbalizada no momento, a não ser pelas palavras recobertas de sons em que se convertem as terminantes declarações de amor que os amantes felizes pronunciam nesses momentos. Mas Alda e Rogélio nada diziam."

Extraído do romance "Rio Homem", de André Gago, Edições ASA.

sábado, 30 de maio de 2015

Taxa de acesso à Mata de Albergaria

No dia 1 de Junho de 2015 deverá recomeçar a cobrança da taxa de acesso à Mata de Albergaria.

Esta taxa de acesso aplica-se aos veículos motorizados e tem um valor de €1,50 por dia. Segundo a Portaria n.º 31/2007, de 8 de Janeiro, que veio fixar a taxa de acesso, esta tem por objectivo assegurar a preservação dos frágeis ecossistemas que caracterizam a Mata de Albergaria ao se aplicar medidas que passariam pela sustentabilidade da gestão dos recursos naturais, sujeitando a sua utilização ao pagamento de uma taxa de acesso, de acordo com o princípio do utilizador-pagador.

Residente e naturais estão isentos do pagamento da taxa.

Após a cobrança efectuada em 2014 (mas sem haver qualquer explicação por parte do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas ou por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês sobre o destino dado aos montantes sobrados nos anos anteriores!) assistiram-se a trabalhos de reabilitação de parte da Mata de Albergaria, nomeadamente no que diz respeito à limpeza de matos, cumprindo-se assim (talvez pela primeira vez desde 2007) a um dos objectivos desta cobrança.

Com os montantes que vierem a ser arrecadados até 30 de Setembro, espero que o dinheiro seja de novo investido na preservação da Mata de Albergaria e que não se caia na tentação de encaminhar o dinheiro para outros destinos.

Entretanto, quem de direito poderia ir tapando os buracos na miserável estrada entre a Portela de Leonte e a Portela do Homem.

Trilhos seculares - Encosta do Sol e Vale do Homem

Há já alguns meses que não fazia o percurso pela cumeada da Encosta do Sol, percorrendo uma parte da raia. Este é um dos percursos míticos da Serra do Gerês, proporcionando paisagens únicas em todo o Parque Nacional.

Ao caminhar pelo Vale do Alto Homem olhamos para os píncaros serranos e para as paredes alcantiladas que formam como um corredor de acesso ao interior selvagem do Gerês. Ao caminhar pela raia somos chamados para o passado. Nos nossos dias não nos lembramos de outros tempos nos quais estas paragens eram constantemente vigiadas dos dois lados da fronteira. Era por estas alturas nas quais se davam as passagens com o contrabando e muitas fugas desesperadas terão percorrido estes trilhos.

Devido aos acentuados declives, principalmente na fase inicial, e devido ao regresso pelo estradão mineiro do Vale do Homem, este é um percurso que se pode classificar de elevado grau de dificuldade. Partindo da Portela do Homem e seguindo pela estrada nacional em direcção ao Rio Homem, o trilho inicia-se uns 500 metros mais abaixo do lado esquerdo da estrada. Nesta altura do ano a vegetação dificulta um pouco o progresso na subida, mas o carreiro está bem definido. Num espaço reduzido a vegetação vai-se alterar, tornando-se mais escassa. Na fase inicial somos presenteados com uma vista sobre a Mata de Albergaria com o olhar a fixar-se no espigão do Pé de Cabril. Lá no fundo vai ficando a mata e à medida que vamos ganhando altitude, os nossos horizontes alargam-se.

Com a Mata de Albergaria a afundar-se no horizonte, o nosso olhar vai ganhar o Vale do Alto Homem banhado de luz até ao Cabeço do Modorno. A paisagem coloca-nos na nossa escala e a imensidão dos espaços torna-nos silenciosos, até no respirar!

O percurso continua serra acima até atingir a Cruz do Pinheiro, passando ao largo de vários marcos de fronteira que serão quase uma constante até o ponto onde teremos de decidir entre duas opções um pouco mais adiante.

A Cruz do Pinheiro não representa o ponto mais alto do percurso, longe disso, e este prossegue por esta altura relativamente afastado do bordo do vale. O caminho vai-se aproximar deste bordo na Bela Ruiva onde existia um marco triangulado aparentemente atingido por um relâmpago. Deste ponte privilegiado temos uma visão estonteante do vale. Bela Ruiva está em frente da Água da Pala, lá no fundo do vale. Este ponto permite-nos ver o interior de corgas e vales que nos estão «escondidos» quando subimos o estradão em direcção às Minas dos Carris.

Deixando a Bela Ruiva para trás, o nosso trilho vai flectir a Norte um pouco mais adiante, voltando novamente para Nascente ao descer para um pequeno vale. Aqui nesta ponto temos duas opções sobre o percurso a seguir: ou continuamos ligeiramente a Norte caminhando quase junto da fronteira seguindo depois em direcção à Laje do Sino; ou enveredamos por um carreiro que nos vai levar pelo bordo do vale em direcção à corga por onde corre o ribeiro que origina a Água da Laje do Sino. Nesta altura optei por este trajecto pois era então meu objectivo descer em direcção ao Teixo e esta opção proporcionada um acesso mais directo. Tanto uma como outra opção estão relativamente bem marcadas em termos de mariolas e definição do carreiro de pé-posto, mas a segunda opção é imensamente superior em termos paisagísticos.

Muitas vezes os nossos percursos são quase decididos na hora, ou naquele instante, mesmo apesar de o termos planeado com antecedência. Pode ser a pura curiosidade ou então um mero desequilíbrio que nos faz optar no momento por passar pelo lado esquerdo da rocha, a verdade é que na altura o percurso transforma-se em algo de completamente novo, apesar de o já termos percorrido anteriormente. Foi isso mesmo que aconteceu aqui quando decidi seguir uma mariola passando pelo outro lado da rocha. Surgiu a oportunidade no momento de passar pelo extremo da Água da Laje do Sino e na altura mirar a paisagem que de desenvolvia lá em baixo. Daqui de cima, a passagem do Modorno parece-nos um desenho perfeito na paisagem, com as suas curvas suaves a ladearem a rudeza da paisagem nua e granítica do Modorno em contraste com a paisagem que até se caracteriza pelo verde intenso da mata virgem. São paisagens e momentos destes que valem todo um dia e neste dia foi aqui que encontrei a verdadeira razão desta caminhada. Ali, sozinho perante o abismo, uma imensidão de vazio e o silêncio formando-se aos poucos. De repente, era eu e o quadro que se pintava a cada abrir de olhos. Por vezes mudava com o balancear do vento, então propositadamente mais forte.

Com os dias de calor as fontes vão secando nas alturas serranas e nesta altura do ano, o pequeno ribeiro já não leva muita água. Ainda assim, e escondida do olhar, a queda abrupta de água fez-se ouvir tirando-me do torpor momentâneo. Após uma curta paragem para saciar a sede, era hora de encontrar o caminho que me deveria levar ao Teixo. Afastando-me do bordo mágico daquele espaço e deixando para trás a paisagem do dia, acabaria por encontrar o carreiro, mas logo ali uma mariola desviou-me do meu percurso. Naquela zona não existem muitas opções, porém aquela mariola seguia aparentemente na direcção da Laje do Sino. Em tempos esta zona foi também palco de sondagens mineiras, mas nunca encontrei qualquer vestígio destas. Curiosamente, aqui encontra-se uma velha vedação à muito abandonada que delimita uma extensa área. Suponho que o seu objectivo tenha sido o de afastar os animais de uma área de estudo, mas pergunto-me o porquê de estas vedações nunca serem removidas pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês após o final destes estudos (o mesmo aconteceu na zona próxima às Lamas da Carvoeirinha a caminho das Minas dos Carris). Esta vedação inicia-se próximo da Laje do Sino e prolonga-se até à corga adjacente ao Outeiro da Meda e na sua grande parte está caída.

Procurando as mariolas, acabei por encontrar uma série que me levaram na direcção do Outeiro da Meda, flectindo depois para a Corga dos Salgueiros da Amoreira. Infelizmente, com o carreiro totalmente tomado pela vegetação, acabei por perder uma mariola que seria fundamental para baixar ao Teixo, optando então por seguir para a Corga dos Salgueiros da Amoreira e daqui enveredar pela paisagem estéril em direcção ao Teixo, seguindo depois o estradão mineiro até ao seu final em direcção à Portela do Homem.