Em 1891 era editado o livro "Caldas do Gerez - Guia Thermal" da autoria de Ricardo Jorge. Esta obra aborda vários temas relacionados com o termalismo geresiano, as suas águas termo-medicinais, a sua acção hidro-termal, a clínia hidrotermal, etc. Um dos capítulos mais interessantes está relacionado com a denominada "villegiatura", isto é a "temporada que se passa fora da terra, a banhos, no campo ou viajando, para descansar dos trabalhos habituais."
Assim, Ricardo Jorge fala-nos de paisagens conhecidas e das sensações que elas proporcionam começando por uma viagem entre Braga e as Caldas do Gerês...
O texto transcrito abaixo é mantido na sua forma original e com o português que era escrito em finais do Século XIX.
A Villegiatura e a Serra, por Ricardo Jorge
"(...)
Por todo este ambito de valles e montanhas digressam os excursionistas. Ha quem dias e dias por lá volteie, acoitado á noite nas lapas dos rochedos ou nas tendas de campanha; principalmente caçadores e naturalistas. Vindo pernoitar ás Caldas podem em dias diversos visitar-se as partes mais notaveis da serra. Os bons andarilhos excursionam a pé; os menos validos ou menos avezados ás grandes marchas recorrerão aos muares, que se alugam nas Caldas, animaes de pouca apparencia, mas muito seguros para as asperezas da viação de montanha. Não faltam também guias, que conhecem a serra palmo a palmo.
Diremos apenas das excursões mais tentaveis e mais frequentadas.
Das Caldas á Portella d'Homem (11 kilometros, 3 horas de caminho). Distam as Caldas 11 kilometros da fronteira gallega. O trajecto sempre por valles e gargantas figura uma linha quebrada em forma de N no sentido vertical; sobe-se o valle até ao desfiladeiro, que na onomastica montanhosa tem sempre o nome de collada ou portela, Portella de Leonte (875 metros); desce-se o outro thalweg até á Ponte-Feia (659 metros); sobe-se novamente ao longo do valle do Homem e d'um dos seus ramos até á garganta da estrema, a Portella d'Homem (822 m).
(...)"
Fotografia: © Ilustração Portuguesa; Edição - Rui C. Barbosa
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domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
Postais do Gerês (LXVI) - Ponte da Pigarreira
Há muitos anos atrás lembro-me de comprar nas Caldas do Gerês um grande poster no qual estavam muitas fotografias de futuros postais a ser publicados. Uma das fotografias que mais me chamou a atenção foi esta que ilustra este postal e que nos mostra uma paisagem cujo tema central é a Ponte da Pigarreira sobre o Rio Toco, não muito longe das aldeias de Picães e Fafião. Sempre me senti um pouco fascinado por esta fotografia, pois leva-nos para um ambiente de pura montanha muito raro em Portugal.
Este postal faz parte de uma série editada em princípios dos anos 90 do Século XX. Infelizmente, não tenho informação sobre o editor.
Fotografias: © Rui C. Barbosa
Este postal faz parte de uma série editada em princípios dos anos 90 do Século XX. Infelizmente, não tenho informação sobre o editor.
Fotografias: © Rui C. Barbosa
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Viver na auto-fantasia
O vídeo da audição da Ministra do Ambiente e do Presidente do ICNB, perante as Comissões Parlamentares de Ambiente e Agricultura, a propósito dos incêndios no Parque Nacional da Peneda-Gerês, solicitada pelo Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O vídeo (301 MB) está disponível aqui. São 2 horas e 45 minutos de comissões no Canal Parlamento...
Há governantes que insistem viver em auto-fantasia e que pretendem arrascar para o País das Maravilhas os outros portuguêses num verdadeiro insulto à inteligência...
O vídeo (301 MB) está disponível aqui. São 2 horas e 45 minutos de comissões no Canal Parlamento...
Há governantes que insistem viver em auto-fantasia e que pretendem arrascar para o País das Maravilhas os outros portuguêses num verdadeiro insulto à inteligência...
Leitura de fim-de-semana - "Les Serras da Peneda et do Gerês - Étude Géomorphologique"
É um trabalho de 1981, certamente já desactualizado, e que me foi aconselhado há umas semanas pelo Pedro Cid, mas "Les Serras da Peneda et do Gerês - Étude Géomorphologique" permite conhecer melhor a geomorfologia da Serra da Peneda e da Serra do Gerês.
Da autoria de Geneviéve Coudé-Gaussen, o livro é o n.º 5 nas Memórias do Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde ainda estará disponível para venda.
É escrito em francês :/ mas é a minha sugestão de leitura para o fim-de-semana...
Fotografias: © Universidade de Lisboa
Da autoria de Geneviéve Coudé-Gaussen, o livro é o n.º 5 nas Memórias do Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde ainda estará disponível para venda.
É escrito em francês :/ mas é a minha sugestão de leitura para o fim-de-semana...
Fotografias: © Universidade de Lisboa
S. Miguel de Entre-Ambos-os-Rios
Bem, nem eu esperava um dia colocar uma entrada sobre este tema no blogue, mas este é um dos tesouros escondidos no Parque Nacional da Peneda-Gerês e este não vive só de montanha e afins. Vive também do seu passado e da forma como o Homem nele habitou. Essa forma, está representada nos monumentos megalíticos, nos monumentos romanos e nos monumentos clássicos que podemos encontrar em muitas aldeias no interior do parque nacional.
Um desses exemplos, e sempre uma boa sugestão de visita num fim-de-semana prolongado, é a Igreja Matriz de S. Miguel de Antre-Ambos-os-Rios, inserida no seu núcleo museológico. Aí, podemos ver que o tecto da nave da igreja guarda uma excelente composição pintada de perspectiva ilusionistica , ao estilo rococó, com medalhão da anunciação ao centro, arquitecturas fingidas, florões, anjinhos, tudo ao gosto de meados do Século XVIII e obra provavelmente de oficina bracarense.
Noutros medalhões e em composições de bom recorte, pode apreciar-se o padroeiro S. Miguel em glória, a entrega das chaves a S. Pedro por Cristo e, pintada sobre o coro alto, uma assunção da virgem, que formam, por todo o corpo da igreja, um conjunto admiravelmente enquadrado por uma envolvente de arquitectura fingida que segue bons modelos eruditos e mostra, na sua boa conservação, um pincel decorativo de muito bom estilo.
Assim, esqueça la a medíocre programação dos canais de televisão nacionais e visite o Parque Nacional da Peneda-Gerês este fim-de-semana.
Um desses exemplos, e sempre uma boa sugestão de visita num fim-de-semana prolongado, é a Igreja Matriz de S. Miguel de Antre-Ambos-os-Rios, inserida no seu núcleo museológico. Aí, podemos ver que o tecto da nave da igreja guarda uma excelente composição pintada de perspectiva ilusionistica , ao estilo rococó, com medalhão da anunciação ao centro, arquitecturas fingidas, florões, anjinhos, tudo ao gosto de meados do Século XVIII e obra provavelmente de oficina bracarense.
Noutros medalhões e em composições de bom recorte, pode apreciar-se o padroeiro S. Miguel em glória, a entrega das chaves a S. Pedro por Cristo e, pintada sobre o coro alto, uma assunção da virgem, que formam, por todo o corpo da igreja, um conjunto admiravelmente enquadrado por uma envolvente de arquitectura fingida que segue bons modelos eruditos e mostra, na sua boa conservação, um pincel decorativo de muito bom estilo.
Assim, esqueça la a medíocre programação dos canais de televisão nacionais e visite o Parque Nacional da Peneda-Gerês este fim-de-semana.
Fotografias: © Arquivo PNPG (Jorge S. Barros)
Quadros do Gerês
Já por algumas vezes vos mostrei aqui trabalhos artísticos de vários autores cujo tema geral é o Gerês.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Trilhos Seculares - Portela de Leonte / Costa de Maceira / Portela de Leonte
Não chegam os dedos das duas mãos e dos dois pés para contar os anos que estava para percorrer aquele trilho. Hoje chegou finalmente o dia.
De facto, á tomada de decisão ajudou a entusiástica descrição do meu companheiro de montanha Manuel Adriano. A forma como me falou daquele trilho crispou a curiosidade e hoje, numa belíssima tarde de Outono, lá meti pés ao trilho.
A minha ideia era a de um caminho fechado e de difícil progressão devido ao matagal. Enganei-me redondamente! Algo se passa no Parque Nacional da Peneda-Gerês que vai ser uma grande surpresa para os amantes daquelas paragens!!!
O trilho está aberto e largo, e a cada curva do caminho surje aquela emoção de uma nova surpresa, de uma paisagem que apesar de familiar nunca havia visto a partir daquele lugar.
Se ao princípio imaginava o meu destino, isto é o Prado do Mourô, rapidamente me enganei. Havia abandonado o pequeno vale que me levava em direcção a Maceira e pelas minhas contas caminhava em direcção ao trilho que faz a ligação entre a Portela de Leonte e o Mourô. E assim foi, numa volta do caminho lá surgiram as grandes lages graníticas que em muitos pontos definem o velho trilho.
Porém, a certa altura mais atrás, fiz uma pequena incursão no ambiente selvagem do Gerês, naqueles metros ganhos pela Natureza à rudeza do metal que em tempos idos ali marcou passagem. Mas este desafio vai ficar para outros dias que aí virão... sem precisar de tantos dedos para contar!
Algumas fotografias...
De facto, á tomada de decisão ajudou a entusiástica descrição do meu companheiro de montanha Manuel Adriano. A forma como me falou daquele trilho crispou a curiosidade e hoje, numa belíssima tarde de Outono, lá meti pés ao trilho.
A minha ideia era a de um caminho fechado e de difícil progressão devido ao matagal. Enganei-me redondamente! Algo se passa no Parque Nacional da Peneda-Gerês que vai ser uma grande surpresa para os amantes daquelas paragens!!!
O trilho está aberto e largo, e a cada curva do caminho surje aquela emoção de uma nova surpresa, de uma paisagem que apesar de familiar nunca havia visto a partir daquele lugar.
Se ao princípio imaginava o meu destino, isto é o Prado do Mourô, rapidamente me enganei. Havia abandonado o pequeno vale que me levava em direcção a Maceira e pelas minhas contas caminhava em direcção ao trilho que faz a ligação entre a Portela de Leonte e o Mourô. E assim foi, numa volta do caminho lá surgiram as grandes lages graníticas que em muitos pontos definem o velho trilho.
Porém, a certa altura mais atrás, fiz uma pequena incursão no ambiente selvagem do Gerês, naqueles metros ganhos pela Natureza à rudeza do metal que em tempos idos ali marcou passagem. Mas este desafio vai ficar para outros dias que aí virão... sem precisar de tantos dedos para contar!
Algumas fotografias...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Serra do Gerês: um equívoco
Em tempos li o original de um artigo de opinião escrito a 28 de Fevereiro de 1986 enviado para o Jornal Correiro do Minho, e que hoje me impressiona pela sua actualidade.
Apesar de ter sido escrito há 24 anos, bem poderia ter sido escrito neste dia pois o que os autores lá referem adapta-se que nem uma luva à situação actual do Parque Nacional da Peneda-Gerês e à forma como muitas pessoas usufruem desta área protegida. Atrevo-me até a dizer que sem dúvida é um texto escrito com uma visão muito antes do seu tempo e algumas das ideias então defendidas fazem todo o sentido nos nossos dias.
É sem dúvida um artigo sobre o qual deveriamos reflectir...
Ainda o turbilhão da campanha eleitoral não tinha terminado, era 6ª feira 14 de Fevereiro, quando, estupefactos, lemos um extenso artigo publicado neste mesmo jornal (Correio do Minho) sobre a 'audácia' praticada por onze jovens ao subirem ao cume do Gerês.
Pela leitura desse texto era óbvio, para qualquer conhecedor daquela zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês, que não se tratava de nenhum feito digno de nota. Nós próprios já o fizemos em piores circunstâncias e já lá passamos 20 dias quase isolados de tudo e todos pela neve. Mas isso não vem para o caso...
Foi, de facto, uma aventura simpática. Mas para as centenas de amantes na Natureza que, quer no Verão quer no Inverno, vão lá acima, o relato da experiência foi, claramente, um empolamento narcisista de um punhado de bem intencionados.
E isto porquê? Porque, na realidade, o acesso às minas de Carris é árduo, é trabalhoso, mas é igual a tantos outros acessos a pontos isolados daquela Serra. É doloroso, talvez, efectuá-lo em tempo de neve e é imprudente efectuá-lo de noite, quando muito... Mas não é de modo nenhum um feito de 1ª página, uma lança em África ou no Gerês.
No entanto, como caminheiros habituados desse, e doutros mais esquecidos caminhos, respeitamos o esforço de quantos realmente apreciam e respeitam o Gerês.
E respeitar o Gerês não é desejar-lhe estradas asfaltadas, não é desejar-lhe o acesso indiscriminado de tudo e todos aos recantos mais inacessíveis, não é desejar-lhe, também, o seu esquecimento ou estagnação turística, não é, em síntese, ser ingénuo e fazer dele uma Natureza domesticada.
Respeitar o Gerês é respeitar-lhe a genuinidade, é visitá-lo sem o poluir e sem o estragar, é, acima de tudo, SABER DIVULGÁ-LO.
E foi a ausência dessa atitude inteligente que nos deixou verdadeiramente estupefactos; foi a evocação desnecessária do "Adamastor", foi o grito épico de "Só faltam quinhentos metros", foi o célebre "Casa à vista", foi a surpresa agradável das placas de esferovite que tanto jeito deram para a noite, FOI A POLUIÇÃO E A SELVAGEM DESTRUIÇÃO DAS CASAS QUE NÃO LHES SALTOU À VISTA, QUE NÃO LHES MOTIVOU UM PROTESTO SEQUER.
De facto, neste último ano, as poucas casas de apoio à mina que ainda tinham condições mínimas para abrigar, quem lá se deslocasse, das surpresas do tempo, foram a pouco e pouco irremediavelmente escavacadas por vândalos de circntância. E isto, apesar de visível, não provocou sequer um protesto.
O património da mina faz parte daquele meio ambiente há várias décadas; já lá existia antes de se imaginar, sequer, na criação do Parque. E como tal deveria continuar.
Quer porque com a sua destruição nada de positivo se abtém quer porque se perdem irremediavelmente exemplares interessantes de arquitectura industrial mineira implantados numa zona ainda selvagem. Já para não falar do espectáculo desolador de portas, telhados, vidros e caixilhos de janelas, espalhaos por toda aquela área (e sem esquecer as faladas placas de esferovite, isolantes e forro interno dos telhados).
Em suma, NÃO SE DEFENDE A DISSEMINAÇÃO INDISCRIMINADA DE CASAS E ABRIGOS POR TODO O PARQUE, MAS A DEFESA DO JÁ EXISTENTE E UMA ACTUAÇÃO CUIDADE DESSE DOMÍNIO, NUMA PERSPECTIVA EQUILIBRADA DA RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA.
Porque é que não se recrutam novos guardas florestais para pôr fim à devastação que o Parque vem sofrendo? É o Azevinho arrancado, é o Teixo a desaparecer, é a fauna, outrora riquíssima, que vem sendo devastada pelos inúmeros caçadores que demandam a região, são as incontáveis latas de conservas e as garrafas do mais variado tamanho e feitio espalhadas pela Serra, são, em suma, os montes de lixo que os turistas menos escrupulosos espalham monte fora.
Pensamos, sinceramente, que talvez a existência de guardas florestais qualificados pudesse acabar, pelo menos em parte, com esta verdadeira calamidade.
E não seria também boa ideia limitar o acesso a certas zonas do Parque? Abdicaríamos de bom grado dos passeios efectuados pelas zonas mais recônditas se disse resultasse, a médio prazo, uma significativa melhoria do meio ambiente (repovoamento florestal e animal AUTÓCTONES, por exemplo).
Pensamos que todos aqueles que, como nós, partilham da imensa admiração e respeito que o Parque nos merece, não hesitariam em abdicar também, para bem de todos nós e do próprio Parque, desses passeios. Passeios que efectuamos frequentemente, mas que acabam, SEMPRE, sem que deixemos atrás de nós algo que nos envergonhe.
Estas as questões essenciais que o texto do artigo em causa não soube o não quiz levantar. Estas as preocupações de qualquer visitante atento, mesmo do visitante circunstancial de fim de semana.
Finalizando, não poderemos ainda deixar de salientar o facto de que centenas de pessoas habitualmente demandam as minas de Carris e outros locais da Serra; que, de entre essas centenas, uns poucos estragem o que o resto respeita, e que tudo isso é feito apesar de "com acessos assim não se poder ir longe". Onde "eles" não iriam se pudessem ir longe...
Para que não haja equívocos, só queremis "acusar" os onze "audazes" de ligeireza, mas não de vandalismo. Estamos certos que se limitaram a testemunhar o que aqui descrevemos. Só os "acusamos" de não terem tocado nas questões realmente essenciais. NADA MAIS.
De resto, concordamos com todo o apêgo entusiasta por aquelas paragens por eles demonstrado, Porque, de facto, a Serra e o Parque são de todos, e ninguém detém o monopólio da admiração pela natureza.
Miguel Campos Costa
Hermínia Colmonero Gonçalves
Paulo Jorge Gomes Leite
Domingos Ferreira carvalho
Manuel Leite Costa Silva
Annekäthi Schaub
Jorge Mendes
Amélia Campos Costa
Fotografia: © Miguel Campos Costa / Rui C. Barbosa
Apesar de ter sido escrito há 24 anos, bem poderia ter sido escrito neste dia pois o que os autores lá referem adapta-se que nem uma luva à situação actual do Parque Nacional da Peneda-Gerês e à forma como muitas pessoas usufruem desta área protegida. Atrevo-me até a dizer que sem dúvida é um texto escrito com uma visão muito antes do seu tempo e algumas das ideias então defendidas fazem todo o sentido nos nossos dias.
É sem dúvida um artigo sobre o qual deveriamos reflectir...
Serra do Gerês: um equívoco
Ainda o turbilhão da campanha eleitoral não tinha terminado, era 6ª feira 14 de Fevereiro, quando, estupefactos, lemos um extenso artigo publicado neste mesmo jornal (Correio do Minho) sobre a 'audácia' praticada por onze jovens ao subirem ao cume do Gerês.
Pela leitura desse texto era óbvio, para qualquer conhecedor daquela zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês, que não se tratava de nenhum feito digno de nota. Nós próprios já o fizemos em piores circunstâncias e já lá passamos 20 dias quase isolados de tudo e todos pela neve. Mas isso não vem para o caso...
Foi, de facto, uma aventura simpática. Mas para as centenas de amantes na Natureza que, quer no Verão quer no Inverno, vão lá acima, o relato da experiência foi, claramente, um empolamento narcisista de um punhado de bem intencionados.
E isto porquê? Porque, na realidade, o acesso às minas de Carris é árduo, é trabalhoso, mas é igual a tantos outros acessos a pontos isolados daquela Serra. É doloroso, talvez, efectuá-lo em tempo de neve e é imprudente efectuá-lo de noite, quando muito... Mas não é de modo nenhum um feito de 1ª página, uma lança em África ou no Gerês.
No entanto, como caminheiros habituados desse, e doutros mais esquecidos caminhos, respeitamos o esforço de quantos realmente apreciam e respeitam o Gerês.
E respeitar o Gerês não é desejar-lhe estradas asfaltadas, não é desejar-lhe o acesso indiscriminado de tudo e todos aos recantos mais inacessíveis, não é desejar-lhe, também, o seu esquecimento ou estagnação turística, não é, em síntese, ser ingénuo e fazer dele uma Natureza domesticada.
Respeitar o Gerês é respeitar-lhe a genuinidade, é visitá-lo sem o poluir e sem o estragar, é, acima de tudo, SABER DIVULGÁ-LO.
E foi a ausência dessa atitude inteligente que nos deixou verdadeiramente estupefactos; foi a evocação desnecessária do "Adamastor", foi o grito épico de "Só faltam quinhentos metros", foi o célebre "Casa à vista", foi a surpresa agradável das placas de esferovite que tanto jeito deram para a noite, FOI A POLUIÇÃO E A SELVAGEM DESTRUIÇÃO DAS CASAS QUE NÃO LHES SALTOU À VISTA, QUE NÃO LHES MOTIVOU UM PROTESTO SEQUER.
De facto, neste último ano, as poucas casas de apoio à mina que ainda tinham condições mínimas para abrigar, quem lá se deslocasse, das surpresas do tempo, foram a pouco e pouco irremediavelmente escavacadas por vândalos de circntância. E isto, apesar de visível, não provocou sequer um protesto.
O património da mina faz parte daquele meio ambiente há várias décadas; já lá existia antes de se imaginar, sequer, na criação do Parque. E como tal deveria continuar.
Quer porque com a sua destruição nada de positivo se abtém quer porque se perdem irremediavelmente exemplares interessantes de arquitectura industrial mineira implantados numa zona ainda selvagem. Já para não falar do espectáculo desolador de portas, telhados, vidros e caixilhos de janelas, espalhaos por toda aquela área (e sem esquecer as faladas placas de esferovite, isolantes e forro interno dos telhados).
Em suma, NÃO SE DEFENDE A DISSEMINAÇÃO INDISCRIMINADA DE CASAS E ABRIGOS POR TODO O PARQUE, MAS A DEFESA DO JÁ EXISTENTE E UMA ACTUAÇÃO CUIDADE DESSE DOMÍNIO, NUMA PERSPECTIVA EQUILIBRADA DA RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA.
Porque é que não se recrutam novos guardas florestais para pôr fim à devastação que o Parque vem sofrendo? É o Azevinho arrancado, é o Teixo a desaparecer, é a fauna, outrora riquíssima, que vem sendo devastada pelos inúmeros caçadores que demandam a região, são as incontáveis latas de conservas e as garrafas do mais variado tamanho e feitio espalhadas pela Serra, são, em suma, os montes de lixo que os turistas menos escrupulosos espalham monte fora.
Pensamos, sinceramente, que talvez a existência de guardas florestais qualificados pudesse acabar, pelo menos em parte, com esta verdadeira calamidade.
E não seria também boa ideia limitar o acesso a certas zonas do Parque? Abdicaríamos de bom grado dos passeios efectuados pelas zonas mais recônditas se disse resultasse, a médio prazo, uma significativa melhoria do meio ambiente (repovoamento florestal e animal AUTÓCTONES, por exemplo).
Pensamos que todos aqueles que, como nós, partilham da imensa admiração e respeito que o Parque nos merece, não hesitariam em abdicar também, para bem de todos nós e do próprio Parque, desses passeios. Passeios que efectuamos frequentemente, mas que acabam, SEMPRE, sem que deixemos atrás de nós algo que nos envergonhe.
Estas as questões essenciais que o texto do artigo em causa não soube o não quiz levantar. Estas as preocupações de qualquer visitante atento, mesmo do visitante circunstancial de fim de semana.
Finalizando, não poderemos ainda deixar de salientar o facto de que centenas de pessoas habitualmente demandam as minas de Carris e outros locais da Serra; que, de entre essas centenas, uns poucos estragem o que o resto respeita, e que tudo isso é feito apesar de "com acessos assim não se poder ir longe". Onde "eles" não iriam se pudessem ir longe...
Para que não haja equívocos, só queremis "acusar" os onze "audazes" de ligeireza, mas não de vandalismo. Estamos certos que se limitaram a testemunhar o que aqui descrevemos. Só os "acusamos" de não terem tocado nas questões realmente essenciais. NADA MAIS.
De resto, concordamos com todo o apêgo entusiasta por aquelas paragens por eles demonstrado, Porque, de facto, a Serra e o Parque são de todos, e ninguém detém o monopólio da admiração pela natureza.
Miguel Campos Costa
Hermínia Colmonero Gonçalves
Paulo Jorge Gomes Leite
Domingos Ferreira carvalho
Manuel Leite Costa Silva
Annekäthi Schaub
Jorge Mendes
Amélia Campos Costa
Fotografia: © Miguel Campos Costa / Rui C. Barbosa
Sherpa que já escalou o Evereste 19 vezes desapareceu numa avalancha
Não é algo relacionado com o tópico deste blogue...
Não conheço o homem e se alguma vez ouvi falar dele, acabei por me esquecer. Esta foi uma notícia que passou completamente à margem dos meios de montanha nacionais, ou pelo menos não li grandes referências a este assunto.
Talvez por ser um sherpa, daqueles que carregam com o peso dos famosos que escalam montanhas com grandes patrocínios.
Chhewang Nima foi ao Everest 19 vezes... e parece que morreu por estes dias...
Fica aqui a referência...
Do Jornal PÚBLICO Sherpa que já escalou o Evereste 19 vezes desapareceu numa avalancha.
Da BBC News Search for missing Nepal Sherpa Chhewang Nima stopped
Não conheço o homem e se alguma vez ouvi falar dele, acabei por me esquecer. Esta foi uma notícia que passou completamente à margem dos meios de montanha nacionais, ou pelo menos não li grandes referências a este assunto.
Talvez por ser um sherpa, daqueles que carregam com o peso dos famosos que escalam montanhas com grandes patrocínios.
Chhewang Nima foi ao Everest 19 vezes... e parece que morreu por estes dias...
Fica aqui a referência...
Do Jornal PÚBLICO Sherpa que já escalou o Evereste 19 vezes desapareceu numa avalancha.
Da BBC News Search for missing Nepal Sherpa Chhewang Nima stopped
Primeiras construções nas Minas dos Carris
Após a obtenção dos alvarás de exploração das diferentes concessões mineiras por parte da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., era urgente dotar o complexo mineiro de instalações nas quais de pudesse fazer o processamento do minério que ia sendo extraído, para além de haver a necessidade de se proceder á abertura de uma estrada entre a Portela de Leonte e Carris.
Os trabalhos de abertura e reparação da estrada entre a Portela de Leonte e Carris têm início em Junho de 1943 e em poucas semanas o estreito trilho até aos píncaros serranos permitia a passagem de veículos pesados que transportavam os materiais e instrumentação para desenvolver o complexo mineiro. Este começou por ser algo rudimentar, destacando-se a pequena lavaria e alguns edifícios administrativos e de habitação para o pessoal superior da mina. Nesta altura, pensava-se mais no luvro fácil em detrimento de condições de trabalho condignas que só surgiriam em 1951 com o advento da Sociedade das Minas do Gerês, Lda.
Fotografias: © José Rodrigues de Sousa / Rui C. Barbosa
O caminho para Carris era inicialmente feito por um trilho rudimentar de montanha. Nesta imagem, vemos trabalhadores 'apanhistas' a caminho de Carris em descanso na Água da Pala. Ao fundo, o cabelo do Modorno é facilemnet identificável.
O estreito caminho que ligava a Portela do Homem a Carris numa fotografia obtida na zona do Teixo
Logo após a passagem do Modorno. Esta imagem permite-nos ver o velho trilho que crizava o Rio Homem na Água da Pala e que prosseguia pelo vale na margem direita do rio.
Os trabalhos de abertura e reparação da estrada entre a Portela de Leonte e Carris têm início em Junho de 1943 e em poucas semanas o estreito trilho até aos píncaros serranos permitia a passagem de veículos pesados que transportavam os materiais e instrumentação para desenvolver o complexo mineiro. Este começou por ser algo rudimentar, destacando-se a pequena lavaria e alguns edifícios administrativos e de habitação para o pessoal superior da mina. Nesta altura, pensava-se mais no luvro fácil em detrimento de condições de trabalho condignas que só surgiriam em 1951 com o advento da Sociedade das Minas do Gerês, Lda.
Um aspecto da construção inicial do edifício que serviria de cantina, secretaria e de recepção do minério.
Um aspecto de uma fase mais avançada da construção inicial do edifício que serviria de cantina, secretaria e de recepção do minério.
O complexo mineiro, na sua zona industrial, tal como estava em finais dos anos 40 após quase cinco anos de abandono. Nesta altura, a Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. era gerida por uma Comissão Liquidatárioa nomeada pelo governo de Salazar.
Fotografias: © José Rodrigues de Sousa / Rui C. Barbosa