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domingo, 30 de agosto de 2009

Vamos limpar o PNPG!! (VII)

Carris, 14 de Agosto de 2009

Estamos a poucos dias da actividade 'Vamos Limpar o PNPG - 2009' promovida pelo blogue Carris e que terá lugar a 5 e 6 de Setembro.

Nunca é demais lembrar o porquê desta acção. Como todos os que visitam o nosso único Parque Nacional têm a oportunidade de se aperceberm, a nossa jóia da coroa da protecção do meio ambiente está em perigo pelo intenso (mau) turismo que o visita neste tempo de canícula. O excesso de maus turistas leva a que em todos os cantos e quinas encontremos o seus restos: latas, latinhas, garrafas, garrafinhas, plásticos, papéis, dejectos, restos de roupa e calçado, fraldas, pontas de cigarros, lixo, lixo e mais lixo. O Parque Nacional da Peneda-Gerês torna-se assim uma montra da casa de muita gente (será?) e o resultado evidente é que a degradação do meio ambiente e do meio natural é acelerada de uma forma quase exponencial. O lixo acumula-se nos locais mais incríveis e nos mais óbvios.

Se bem que o Parque Nacional tem uma «obrigação» em limpar algumas áreas, não está obrigado a limpar outras nem a colocar recipientes para o lixo. A maior parte dos visitantes do parque pensa de uma forma muito linear, estando convencidos que a obrigação do Estado (isto é, do PNPG) é a de limpar toda a porcaria que fazem. O se fazer um pic-nic num local para tal autorizado mas sem os contentores para depósito do lixo não se pode deixar os nossos restos abandonados à espera que alguém um dia o irá recolher.

O mesmo acontece com os que se dizem montanhistas, pedestrisnistas e outros 'istas' que percorrem as alturas da Peneda-Gerês. Impressiona-me o facto de se transportar uma garrafa de vidro cheia de belo nectar para as alturas da serra e não a trazer de volta quando vazia e como tal mais leve. É algo que não compreendo. Porém, isto acontece tal como a maior parte dos detritos que encontramos nos Carris, na Teixeira, na Messe, na Teixeira, etc.

Torna-se assim necessária uma acção deste tipo: 'Vamos Limpar o PNPG!'

Recordo aqui os grupos de limpeza que ficaram definidos para a acção de limpeza:

- Grupo das Minas dos Carris - irá fazer a limpeza ao longo do estradão do Vale do Alto Homem e da área das Minas dos Carris;

- Grupo de Pitões das Júnias - deverá levar a cabo as suas actividades de limpeza na zona da aldeia de Pitões das Júnias, incluindo a área do mosteiro de Sta. Maria das Júnias e trilho PR existente nas proximidades;

- Grupo do Vale de Teixeira / Arado / Pedra Bela - este grupo deverá fazer a limpeza do trilho até ao Vale de Teixeira, da zona de merendas do Arado e da estrada entre o Arado e a Pedra Bela;

- Grupo da Preguiça / Portela do Homem - este grupo será dividido em dois grupos: o Grupo 1 fará a limpeza entre a Portela de Leonte e a Casa Abrigo da Preguiça, o Grupo 2 entre a Portela de Leonte e a Portela do Homem. O Grupo 2 fará ainda a limpeza de parte da estrada entre a Portela do Homem e Calvos;

- Grupo da Geira / Albergaria / Portela do Homem - este grupo fará as suas actividades percorrendo a Geira Romana desde a Bouça da Mó até à Mata da Albergaria e terminando na Portela do Homem fazendo o trilho interior pela Mata da Albergaria.

Estes grupos foram pensados para se poder actuar nos locais ou áres onde a concentração de detritos é maior. Haverá grupos que irão necessitar de mais pessoas do que outros e como tal apelo para a compreensão dos voluntários e na disponibilidade de se poderem repartir pelos vários grupos. Gostava também de chamar a atenção para o facto de que apesar de haver um grupo destinado à limpeza das Minas dos Carris, que o acesso a este local será feito ao longo do Vale do Alto Homem zona esta em parte protegida como Zona de Protecção Total ao abrigo do actual Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Como devem compreender, o grupo não poderá ser muito grande (em minha opinião não deverá ultrapassar as 15/20 pessoas) para não se desvirtualizar um dos objectivos desta acção. Não podemos ir todos limpar os Carris e creio que certamente um dia haverá a oportunidade para poderem visitar uma das zonas mais interessantes de todo o Parque Nacional.

Recordo que não haverá limite de inscrições para esta actividade. Quem quiser participar pode enviar o seu contacto (primeiro e último nome, endereço de email e se possível local na Internet onde possa divulgar a iniciativa) para o email limpar.o.pnpg.2009@gmail.com. A inscrição não é obrigatória mas ao fazê-la permite-nos ter uma noção do número de participantes.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês colabora connosco a nível logístico fornecendo sacos de plástico e picas-lixo. Porém, é conveniente que os voluntários tragam consigo sacos de plástico e luvas de trabalho pois não é possível fornecer luvas a todos os participantes. De ter em atenção que os participantes deverão levar o necessário para um dia de montanha: merenda, água, calçado e roupa adequadas.

Convém ter em conta que nas zonas onde a limpeza será feira nas serranias, nomeadamente nas Minas dos Carris e no Vale de Teixeira, o lixo terá de ser trazido de volta até aos pontos de recolha. Os participantes terão de transportar o lixo á mão ou então dentro das próprias mochilas. De notar que a caminhada total para os partivipantes no grupo das Minas dos Carris é de cerca de 20 km a maior parte num piso muito mau e difícil!!!

Haverá três locais de depósito do lixo recolhido consoante as zonas de limpeza. O lixo recolhido pelos grupos das Minas dos Carris, Preguiça / Portela do Homem (Grupo 2) e Geira / Albergaria / Portela do Homem, irá depositar o lixo para recolha na Portela do Homem. O lixo recolhido pelo Grupo de Pitões das Júnias será recolhido junto do cemitério de Pitões das Júnias. O lixo recolhido pelo Grupo do Vale de Teixeira / Arado /Pedra Bela será recolhido no Arado.

A concentração para a actividade será feita a partir das 8h00 junto do Centro de Educação Ambiental do Vidoeiro (excepto para o Grupo de Pitões das Júnias). O Grupo de Pitões das Júnias irá concentrar-se pelas 8h30 no parque de estacionamento perto do Mosteiro de Sta. Maria das Júnias.

Espera-se que as actividades terminem pelas 20h00.

Para as pessoas que pretendam participar nos dois dias da actividade recomenda-se o Parque de Campismo do Vidoeiro.

Tenho notado que a actividade de limpeza tem sido divulgada em vários blogues, sítios e fóruns na Internet o que desde já agradeço. Os blogues e sítios da Internet participantes na iniciativa:

Este poderá ser um grande movimento de voluntários que de uma vez por todas façam ver a este nosso Portugal e a quem o gere, que o nosso único parque nacional tem de ser respeitado!
Espero pelas vossas sugestões e pela vossa participação... a bem do PNPG e da Natureza!

Fotografia: © Rui C. Barbosa

Verão no Parque Nacional da Peneda-Gerês

Portela do Homem, 29 de Agosto de 2009

Imagens do Verão no Parque Nacional da Peneda-Gerês...
Fotografias: © Rui C. Barbosa

143... Sombras, Carris

Carris, 29 de Agosto de 2009

Uma dia que começou agradável para caminhar e que acabou por se tornar um verdadeiro tormento de calor da parte da tarde, levou-nos a visitar o complexo mineiro das Sombras e a fazer uma fugaz visita às Minas dos Carris.

A subida às Sombras fez-se célere e cadenciada já com o Sol alto e a prometer um dia quente. De manhã, os restos do vento forte da noite anterior tornavam o ar agradável. As paisagens do vale do Rio da Amoreira foram-se sucedendo desde a Ponte da Porta de Paredes. Tal como acontece nas Minas dos Carris, as Minas das Sombras sofrem do mesmo destino de abandono e vandalismo e a cada visita tornam-se evidentes as sucessivas passagens de pessoas que tornam o complexo um local de cada vez maior ruína.

Há já algum tempo que tinha a intenção de explorar as escombreiras das Sombras e juntamente com o interesse do Zé Moreira em visitar uma pequena construção empinada no topo destas, surgiu então a oportunidade. Percorrendo as escombreiras tem-se a verdadeira magnitude dos trabalhos levados a cabo a céu aberto nas Minas das Sombras. Apesar de consolidadas, as escombreiras ainda apresentam um bom desafio devido à sua inclinação acentuada em alguns locais. Após ultrapassarmos as escombreiras e de vencermos o mato alto que foi crescendo ao longo de anos e anos, conseguimos atingir as ruínas que se localizam a poucos metros do fim da exploração mineira. Pelo aspecto do edifício este parece ter sido utilizado com paiol ou como local de encarceramento.

Enquanto explorávamos a zona tentando descobrir a direcção de um trilho de pé posto que entretanto descobríramos a poucos metros, observamos a chegada de um grupo de caminheiros que vencendo o calor se aproximava lentamente das Sombras. Entretanto, não muito longe das ruínas que acabáramos de visitar, foi possível observar uma imponente parede de granito que dá ao local um aspecto majestoso e único devido à configuração das fracturas que com o passar do tempo se foram abrindo nas rochas dando a impressão em alguns locais de uma formação artificial.

Aproveitamos então o «recém-descoberto» trilho para descermos e regressarmos para junto dos edifícios das Sombras onde se encontrava o nosso material. Chegados aos edifícios, e depois de nos cruzarmos com um caminheiro solitário, decidimos prosseguir até às Minas dos Carris passando pela Amoreira.

A visita ao complexo mineiro de Carris foi rápida com uma passagem pelo Penedo da Saudade para termos uma outra perspectiva da caminhada dos Trilhos Seculares que havíamos feito no dia 27 de Agosto.

O regresso seria feito pelo Vale do Alto Homem passando pela área industrial dos Carris, prosseguindo pelo Salto do Lobo e fundo da Corga da Carvoeirinha até chegar ao estradão dos Carris.

Na Portela do Homem o circo do costume no Verão... e cada vez mais lixo.

Ficam algumas fotografias...

Fotografias: © Rui C. Barbosa

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Para uma história das Caldas do Gerês, pelo Dr. Ricardo Jorge (XII)

Continuo a reprodução dos textos do Dr. Ricardo Jorge com os quais pretendia em 1891 traçar uma história das Caldas do Gerês. Estes textos foram publicados nesse ano na obra "Caldas do Gerez - Guia Thermal" e são uma primeira aproximação, que chamarei de académica, para um traçado histórico da vila termal.

Para manter o rigor do texto, decidi não o adaptar ao português actual mantendo assim as características da nossa língua mãe em finais do Século XIX.

"(...)

Deu-se então o caso duplamente venturoso, de que em 1875 um doente semi-morto, ralado de calculos, no desespero de salvação, buscasse nas aguas thermaes a redempção dos sofrimentos. Esse milagroso curado foi o professor José D'Andrade Gramacho, o preeminente clinico. Freguez das caldas, ás quaes devia a sua ressurreição, crente por experiencia pessoal e alheia na sua extrema efficacio, foi elle quem as lançou no mundo medico, instigado pela gratidão do curado e pela sua recta consciencia de medico. O consultorio do sabio professor foi o fóco do renascimento do Gerez; mas as aguas corresponderam admiravelmente ás indicações do clinico, que as apontava como uma especialisação indisputavel para as molestias do figado e suas multiplas consequencias.

A reputação inegualavel do Gerez espalhou-se então de bôcca em bôcca; conquistou a capital e o sul do paiz, as colonias africanas e o Brazil. As levas dos enformos creciam d'anno para anno. O Gerez entrava na sua epoca d'ouro, vindando-se do olvido momentaneo na gloria presente por todos reconhecida.

Os medicos accorreram tambem ao chamamento, uns para aquilatar de visa, outros para colher o beneficio do remedio. Entre esta clientela hypocratica, onde figuram medicos reputados, outros tantos pregoeiros das aguas, veio em 1884 o dr. José Entonio Marques, o vigoroso escriptor de medicina, que, logo apoz a sua villegiatura, instigado pelas mais gratas impressões, editou uma bella apologia das caldas no seu Geres presente e futuro. Se as salutiferas aguas o preoccupam, não menos as bellezas do bem-falado valle, onde o seu tino medico e o seu bom gosto veem uma estancia imcomparavel de villegiatura - «o paraizo dos doentes e dos ociosos sãos». E para que o venha a ser, faz votos por inadiaveis melhoramentos, que muito aproveitavelmente planeja. A efficacia therapeutica da agua thermal que tão singela parece, instigou-o a tentar uma analyse qualitativa cuidadosa, operada pelo prof. Nepomuceno, do Instituto Industrial do Porto.

(...)"

Fotografia: © Rui C. Barbosa

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Trilhos seculares: Biduiça - Outeiro de Cervas - Negras - Castanheiro

Castanheiro, 27 de Agosto de 2009

Há muitas caminhadas que valem por uma ou duas paisagens; esta valeu por todas.

O dia começou quase a prometer chuva com nuvens negras sobre Braga. Porém, à medida que me ia aproximando da Serra do Gerês ficava cada vez mais evidente que seria um dia quente e sem nuvens. Depois de aguardar pelo Zé Moreira nas Cerdeirinhas prosseguimos em direcção à Barragem da Paradela e ao início do trilho que iríamos percorrer.

Demoramos alguns minutos a encontrar o início do trilho no vale da Ribeira da Abelheira dissimulado por debaixo do aqueduto. Percorremos o vale até ao seu topo parando aqui e ali para olhar para trás para a paisagem que se ia formando lentamente com o ganhar de altitude. Porém, no topo do vale formando uma pequena portela esperava-nos o esplender da paisagem única e selvage da Serra do Gerês. Após a necessária paragem para absorver todo o esplendor que nos abarcava, prosseguimos descendo para o Ribeiro de Biduiça. Atravessando o pequeno curral e o ribeiro chegamos ao Alto de Bezerral segundo depois em direcção ao Cordo das Lamas do Compadre e passando ao lado do Outeiro de Cervas. Ladeamos o Compadre pela sua face Norte até atingir o topo do Corgo de Lamelas e prosseguimos em direcção ao início do Ribeiro de Biduiça chegando depois aos Prados das Negras.

A partir dos Prados das Negras o objectivo era atingir o Castanheiro. Seguimos as margens da Ribeira das Negras usando um antigo trilho que se perde junto de uma esterira passagem que dá acesso ao longo vale guarnecido pela Matança. Após baixar de novo à Ribeira das Negras seguimos o velho trilho em direcção ao Castanheiro cuja subida se inicia junto pouco depois do Alto do Moreira.

A paisagem que se vê do Castanheiro já era minha conhecida mas é sempre deslumbrante ver a Serra do Gerês coroada com um céu azul. A nossa visão abarca a Terra Brava, os Chamiçais e o Borrageiro com as suas minas. Por detrás deste, a cortar o horizonte, está a Roca Negra, a Rocalva e os Ovos. É visível a Sesta de Lamalonga, o topo dos Cocões do Concelinho, o Penedo da Saudade já nas Minas dos Carris e o traço geométrico da sua represa característica. Vemos o Altar de Cabrões, o Pico da Nevosa, o alto de Lamelas e os Cornos da Fronte Fria em eterna guarda às terras seculares de Pitões das Júnias. São paisagens que por muitas palavras escritas jamais serei capaz de exprimir as sensações que provocam.

Era chegada a hora de regressar e colocaram-se dua opções: a primeira seria seguir o trilho em direcção à Lage dos Bois e depois ao Espigão da Lama de Pau, entrando depois no estradão até atingir o ponto final; a segunda opção, e a mais curta, era a de prosseguir pelo Alto das Eiras e baixar ao vale da Ribeira da Abelheira. Escolhemos a segunda opção mesmo sabendo que a descida do vale seria difícil. Foram quase 20 km com as mais fantásticas paisagens que a Serra do Gerês nos pode oferecer!

Ficam algumas fotografias.

Fotografias: © Rui C. Barbosa